Historiador propõe reflexões sobre trabalho e aposentadoria: público aplaude com entusiasmo evento da Ejud15

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Por João Augusto Germer Britto

O Plenário do TRT15 recebeu para palestra, nesta quinta feira (10/12), o historiador e professor da Unicamp Leandro Karnal, que discorreu sobre o tema "O desafio da mudança", ligando-o a ponderações sobre como, por que e quando um magistrado ou um servidor deve decidir por sua aposentadoria.

A mesa alta foi composta pelo desembargador presidente da 15ª, Lorival Ferreira dos Santos e seus colegas Samuel Hugo Lima (coordenador temático da Ejud15), Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani (diretor da Escola) e o juiz Luís Rodrigo Fernandes Braga (presidente da Amatra XV).

Giordani abriu o evento cumprimentando os presentes e dizendo que o Direito encanta e absorve os magistrados, mas não deve "preencher o mundo todo e as 24 horas de quem julga". O presidente Lorival, de antemão, parabenizou a atual gestão da Ejud15 pelo "brilhante trabalho" e lembrou que ouviu o convidado pela primeira vez em uma rede social e, depois, em evento jurídico em Campos do Jordão; daí, veio a ideia de trazê-lo ao Tribunal, uma vez que "o TRT se preocupa com a jubilação de seus magistrados e a vinda do professor pretende ajudar os colegas a enfrentar esse desafio". Samuel Hugo citou brevemente objetivos do programa de preparação de aposentadoria que coordena na Escola e destacou, daquele, "o reexame pessoal do significado da magistratura e o melhor tempo para começar um novo tempo". Retomando a palavra, Giordani apresentou o palestrante, que é historiador, professor, consultor, autor de livros, doutor pela USP e pós-doutor no México e na França.

Karnal, com um vasto repertório de referências culturais e filosóficas e refinado senso de humor, brincou que a aposentadoria pode ser vista como uma "fase de desmanche" ou, mais poeticamente (por Rubem Alves), como algo que alcança "pessoas com um crepúsculo no olhar". A hipótese de parar traz uma dúvida fundamental, pois segundo o historiador "é uma angústia que deriva da possibilidade de liberdade"; ele asseverou que essa dúvida ("lícita e boa") é maior em funções intelectuais, visto que "nas braçais a aposentadoria é efetivamente uma libertação".

           Karnal:  "Tudo se desmancha, o tempo é a única realidade que transforma tudo, inclusive objetos inanimados"

O palestrante asseverou que, na disparada atual de informações, "velocidade e síntese são dois imperativos" e, com as características definidas pelo estudioso espanhol Castells para a comunicação ("informalismo, globalização, atomização e dinamização"), "a linguagem não está mais burra – 'como querem os conservadores' – e sim mais dinâmica". Tudo isso e mais a vivência de uma "era do descartável" faz com que os mais velhos tenham que se esforçar muito para acompanhar os novos tempos : "o obsoleto é fundamental ao capitalismo e, com mudanças rápidas, eu perco as referências e surge um sentimento comum: confunde-se o fim de um mundo com o fim do mundo".

Karnal lamentou que "noções claras de ética nem mais são compreendidas – 'a vergonha desaparece por completo' – e a reação pela via do esoterismo e autoajuda é enganosa". Para ele, "normalmente se tem uma visão negativa da mudança e é do ser humano buscar a repetição de tradições, que não causam tanto desgaste de energia"; o convidado admitiu que "a inércia causa sedução e medo concomitantemente", mas alertou que "a realidade de tudo é a mudança e isso é inevitável. Assim, não posso impedí-la, portanto tenho que me adaptar e isso é bom, pois me desinstala de minhas certezas". Karnal considera que "mudança é algo difícil, mas não mudar é fatal" ; ele opina que se deve "parar no momento em que 'eu' ainda faça falta; a ambição é maravilhosa, mas somos gregários e podemos redescobrir o significado da família, por exemplo".

Karnal: " A felicidade é relativa; envelhecer é afinar o olhar;"

O historiador afirma que "a velhice não é um sinal de estupidez ('Adenauer salvou a Alemanha, depois da 2ª Guerra, quando tinha 80 anos') e o envelhecimento tem seus problemas mas também oferece maior estabilidade pessoal, maior aceitação da variedade humana e um maior exercício do meu eu com o outro". Ele sugere que as pessoas busquem uma mudança em sua "estratégia biográfica" : "Isso é a habilidade de antecipar o futuro, mesclando o que Maquiavel disse sobre escolhas individuais (que eu controlo) e fatos aleatórios (que eu não controlo). Deve existir um esforço total e permanente para aceitar e direcionar a mudança e em tudo é necessário ser senhor de si, pois meu eu condiciona grande parte de minhas escolhas". Ao resgatar parte da fala do desembargador Samuel ao início do evento (sobre o "caminhar dos magistrados da visibilidade para a invisibilidade", quando se aposentam), Karnal ponderou que "fama e tensão são o lugar onde estou com os outros; invisibilidade é o lugar onde estou com meu eu".

A plateia aplaudiu de pé a apresentação.

O desembargador Giordani a classificou como "fantástica", sugeriu que os ouvintes "não tirem a alegria e a poesia" de suas vidas (mesmo trabalhando) e disse ter certeza da repercussão positiva da palestra para todos.

Pela magistratura da 15ª Região, estiveram presentes também os desembargadores Gerson Lacerda Pistori (corregedor), Manuel Soares Ferreira Carradita (vice-corregedor), José Pitas, Fernando da Silva Borges, Helena Rosa Mônaco da Silva Lins Coelho, Maria Madalena de Oliveira, Thelma Helena Monteiro de Toledo Vieira, José Otávio de Souza Ferreira (presidente do Coleouv - Colégio dos Ouvidores da Justiça do Trabalho - e ouvidor da 15ª), Helcio Dantas Lobo Junior, Eder Sivers, Eleonora Bordini Coca, Maria Inês Correa de Cerqueira Cesar Targa, além de inúmeros juízes do 1º grau (muitos em substituição no Tribunal), dentre eles os auxiliares Levi Rosa Thomé (da Presidência), Mauro Luna Rossi (da Vice-Presidência Administrativa), Firmino Alves Lima (da Vice-Presidência Judicial) e Oséas Pereira Lopes Junior (da Corregedoria).

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