Professor Alpheu Tersariol fala no TRT sobre o novo acordo ortográfico
Ele transforma como poucos em realidade aquela velha expressão “unir o útil ao agradável”. Na manhã da quarta-feira, 5/11, o professor de Português Alpheu Tersariol proferiu no Plenário do TRT da 15ª Região, em Campinas, para magistrados e servidores da Corte, uma palestra a qual poderia ser atribuída a reputação de aula-espetáculo, termo cunhado pelo escritor Ariano Suassuna para resumir do que se trata as memoráveis apresentações que faz. Formado em Letras e Pedagogia, com especialização em Lingüística e Gramática Histórica, Alpheu proporcionou, em pouco mais de duas horas, uma breve mas esclarecedora demonstração do que vai vigorar no idioma quando passarem a valer as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, a partir de 1º de janeiro do próximo ano.
Também especialista, e sua palestra é uma prova disso, em Didática Especial e Psicologia da Adolescência, o professor agrada tanto quanto ensina. Quem assiste à sua aula, praticamente não para de rir, enquanto assimila já uma boa dose do conhecimento de que vai precisar para não ter problemas com a Língua, por conta das alterações – sim, leitor, o senhor está certo: por mais algumas semanas, essa última frase carregará um erro, por não trazer na forma verbal para, terceira pessoa do singular do modo indicativo do verbo parar, o acento que a diferencia da preposição para. O fim dos acentos diferenciais é uma das novidades trazidas pelo Acordo cujo aprendizado o público presente ao Plenário do TRT naquela manhã de quarta-feira pode “pôr na conta” do professor Alpheu. Por outro lado, a mesma platéia pôde conhecer os dois únicos acentos diferenciais que remanescerão em nosso idioma. Esses mesmos, leitor: o que distingue pôr de por (o infinitivo verbal e a preposição) e o que evita a confusão entre duas variações do verbo poder, as quais ocorrem quando este é flexionado – na terceira pessoa do singular – ou no pretérito perfeito do indicativo, pôde, ou no presente do indicativo, pode. Pôde também, o público, tranquilizar-se um pouco, por saber que as normas atuais coexistirão, durante três anos, com suas sucessoras.
Aliás, esse verbo derivado de tranquilo, que, como o substantivo que lhe dá origem, também já vai aqui grafado sob as novas regras, sem o trema, enfim abolido, continuará difícil de ser lembrado quando o assunto for o hífen, por mais que a reforma introduzida pelo Acordo tenha a pretensão de simplificar o uso desse pequeno mistério do Português. Tanto que Alpheu admite ser difícil encontrar até mesmo um gramático que, diante de uma situação que exija – ou não, cruel dúvida – o malfadado tracinho, não recorra ao bom e velho dicionário. O hífen, aliás, é o ponto do Acordo digno de crítica, na avaliação de Alpheu, para quem, aí, as novas regras são incorretas e confusas. No mais, o professor vai na contramão – sem hífen, por favor, e agora não se trata de antecipação, que assim já é a grafia – dos descontentes com a mudança. “Todo acordo é bom quando visa à unificação da Língua”, sustentou Alpheu, cujo currículo alcança a condição de membro da Sociedade Internacional de Letras Clássicas.
Amizade antiga
A palestra contou com a presença do presidente do TRT, desembargador federal do trabalho Luiz Carlos de Araújo, e de seus colegas de Corte, Renato Buratto – vice-presidente judicial –, Flavio Allegretti de Campos Cooper e Lorival Ferreira dos Santos – respectivamente diretor e coordenador da Escola da Magistratura da Justiça do Trabalho da 15ª Região (Ematra XV) – e Edmundo Fraga Lopes, além do juiz auxiliar da Presidência do Tribunal Wilson Pocidonio da Silva. O desembargador Luiz Carlos foi aluno do professor Alpheu em 1964, ainda num cursinho pré-vestibular, e desde então se tornou amigo do mestre.
Esta foi a segunda vez que o professor veio ao TRT da 15ª para palestrar a magistrados e servidores. Em dezembro de 2003, Alpheu falou sobre os tropeços que mais freqüentemente, ou frequentemente, a partir de janeiro de 2009, ocorrem com quem se “aventura” a lidar com o Português. Por sinal que esse é o tema de seu mais recente livro, o 30º de sua carreira, a qual inclui também obras sobre redação e literatura, além da coordenação de enciclopédias e dicionários. Já na 2ª edição, Os erros mais comuns da Língua Portuguesa foi lançado em 2007 pela Editora Fapi. O próximo, antecipou Alpheu, já está “no forno”.
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