Trabalhadores terceirizados do TRT concluem cursos de Informática e Língua Portuguesa

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Aulas foram ministradas voluntariamente por servidores do Tribunal

Por Ademar Lopes Junior

Custódio Gomes trabalha há sete meses no Setor de Manutenção do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, tem 38 anos e nunca em sua vida tinha ligado ou desligado um computador, muito menos usou um teclado para escrever um texto nem tampouco navegou nos mares virtuais da internet. Eliana Palmeira é vigilante há três anos, mas trabalha há 10 no TRT. Tem 32 anos, possui o segundo grau completo, e mesmo assim sentia muita dificuldade em entender textos. Mizael Gomes Marinho tem 30 anos, há 4 meses trabalha como faxineiro do TRT da 15ª e em 2010 concluiu o primeiro ano do colegial. Thiago Vilela dos Santos tem 23 anos, e nos 4 anos em que está no TRT já trabalhou na Expedição e agora é contínuo. Ele fez o curso de Português porque precisava se atualizar. O que esses quatro colaboradores têm em comum com todos os 75 outros trabalhadores terceirizados que concluíram nesta semana o curso de Aperfeiçoamento Linguístico ou o de Informática Básica, oferecidos pelo Regional?

Em comum, o desejo de aprender para transformar. Aprender para conquistar novos espaços. Eliana quer seguir carreira como vigilante, mas gostaria de fazer um curso universitário na área. Tecnólogo em segurança? Quem sabe? Mizael já percebeu que até para trabalhar como porteiro precisa saber Informática e por isso se dedicou ao máximo. Thiago sabe que, para cursar Direito e advogar, o curso de Aperfeiçoamento Linguístico é fundamental. Custódio abandonou o “medo de mexer com a máquina” e ainda este ano começa um curso numa escola particular de Informática para continuar os estudos. Sonha em fazer Engenharia Elétrica.

Para quem aproveitou a oportunidade de aprender, durante três meses, noções básicas de Português e Informática, qualquer sonho é possível.

A festa de entrega dos certificados aconteceu nesta quarta-feira, 1º/12, com um coquetel servido no auditório do 1º andar do edifício-sede da Corte, em Campinas. A aluna Eliana Palmeira leu um texto, escrito por ela, com a ajuda de mais algumas colegas de curso, para agradecer a oportunidade proporcionada pelo Tribunal, e aproveitou a presença do presidente do TRT, desembargador Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva, para pedir mais cursos e cursos mais longos.

O presidente do Regional, em seu breve discurso de abertura da solenidade, se mostrou satisfeito com os resultados de ambos os cursos. Chamou os alunos de “exímios colaboradores”, considerou a oportunidade “rara” e elogiou a competência de todos os colaboradores, bem como sua atitude de “abraçarem a causa”.

Ao final da solenidade, todos os alunos receberam um exemplar do livro Português em Decassílabos, de Mário Frigéri, servidor aposentado do Tribunal. A turma do curso de Aperfeiçoamento Linguístico ainda aplaudiu 5 colaboradores, que tiveram nota 10 na redação. Como incentivo, os cinco receberam de presente das professoras Jamile Quaglia e Ana Silvia Buson o livro 1808, de Laurentino Gomes. O primeiro capítulo da obra serviu aos alunos para aprenderem e treinarem técnicas de interpretação de textos. Para alguns alunos, a experiência foi tão rica que despertou o hábito da leitura, caso, por exemplo, da aluna Maria Aparecida Vilela Geremias, um dos cinco ganhadores da nota 10 em redação. A professora Jamile, idealizadora do certame, disse que os alunos tinham que escrever uma redação com o tema “Por qual motivo eu deveria ganhar o livro 1808?”. “A princípio seriam distribuídos apenas três livros, mas diante dos argumentos, acabei comprando mais dois”, afirmou a professora.

Leia aqui as redações premiadas: Carmen, Luciana, Maria_Aparecida, Niuza, Rodrigo.

Sobre cursos, professores e alunos


Quatro dos professores – (à esq., na primeira fila) Rafael Montanari Leme, Maurício Rodrigues Morais, Ana Sílvia Buson e Jamile Quaglia – e os alunos diplomados: união de esforços pela educação

O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região conta atualmente com 553 colaboradores terceirizados, que são acompanhados pelo Serviço de Contratos do Regional. Para os cinco professores que se dedicaram a ensinar noções de informática ou Língua Portuguesa aos 75 alunos, o contingente é grande, e as necessidades, muitas. Em contrapartida, outros servidores, animados com a experiência dos colegas professores, já manifestaram interesse em participar no futuro de experiências como essas.

Dos cinco professores “voluntários” do TRT dos cursos de Aperfeiçoamento Linguístico e Informática Básica, apenas um não tinha nenhuma experiência anterior com a prática de ensinar. Todos têm no mínimo 10 anos de trabalho no Regional, e apenas um não tem curso superior. A oportunidade de transmitir algum conhecimento, porém, foi gratificante, empolgante, emocionante e engrandecedora, garantiram eles. Segundo os professores, ensinar um público tão heterogêneo quanto carente significou uma oportunidade de contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional desses trabalhadores.

Para o professor de Informática Maurício Rodrigues Morais, especialista em Tecnologia da Informação, dar aulas foi “a oportunidade de devolver um pouco do que recebi”. Maurício lembrou que, em sua vida, “teve muitos professores que ensinaram muito além do conteúdo de suas disciplinas” e que ensinar é “mais que uma opção, é uma obrigação”.

Maria Silvia Toledo de Lima também ensinou Informática, e para ela a experiência de ensinar, além de gratificante, serviu como “um exercício de psicologia, disciplina (pessoal) e solidariedade”.

A professora Ana Sílvia Buson já ensinava Língua Portuguesa e Literatura em diversas escolas particulares de Campinas para o segundo grau e em cursinhos preparatórios. No TRT, já tinha vivido a experiência de alfabetizar colaboradores terceirizados. A emoção para ela se repetiu com a nova turma, que se mostrou interessada em todo tipo de informação, já que, para muitos, essa foi a única oportunidade de aprender ou atualizar seus conhecimentos da língua que falam. Buson acredita que “é apenas por meio da educação que a sociedade melhora”. Além disso, com a leitura, “o indivíduo passa a conhecer e fazer valer os seus direitos”, opinou.

Rafael Montanari Leme já tinha trabalhado como professor num curso particular de Informática. Ele acredita que, “se tem o privilégio de saber algo que o outro não sabe, se tem condições de ajudar alguém, se pode oferecer algo para o próximo, por que não?”. Esse mesmo espírito solidário fez Rafael se sentir útil com a experiência de ensinar, principalmente quando percebeu que alguns alunos que “nem sabiam pegar num mouse” saíram clicando nas diversas “janelas” e links com naturalidade ao final. Outros, mais avançados, aprenderam fórmulas e funções no aplicativo de planilha de cálculo.

Para a professora Jamile Quaglia, “ensinar e aprender andam de mãos dadas”. Ela lembrou que o curso de Aperfeiçoamento Linguístico se transformou, ao longo do tempo, em aperfeiçoamento pessoal. O aprendizado de redação, por exemplo, foi tão proveitoso, que despertou novos hábitos nos alunos, e os resultados obtidos comprovam que “eles poderiam desenvolver qualquer um dos três temas de redação do vestibular da Unicamp”, afirmou a professora.

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Comunicação Social