Toma posse na 15ª o segundo servidor deficiente visual aprovado em concurso

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Por Ademar Lopes Junior

Aos 23 anos, Jairo Maurano Machado tomou posse como técnico judiciário na Vara do Trabalho de Tietê. Sua colocação geral foi a de número 201 (no polo de Sorocaba), e, na lista especial, relativa à reserva de 5% das vagas para pessoas com deficiência, ficou em terceiro lugar. No dia 1º de junho de 2011, ele entrou em exercício na Vara do Trabalho de Tietê (cidade localizada a 82 quilômetros de Campinas). É o seu primeiro emprego. Recém-formado em Direito pela Universidade de Sorocaba (Uniso), só tinha tido experiência profissional de oito meses como estagiário no Ministério Público do Trabalho, naquela cidade.

Jairo é o segundo cego a tomar posse este ano como servidor concursado do TRT da 15ª. Seu ingresso na Justiça do Trabalho no início deste mês junho já é uma marca de novos tempos no Regional. Até então, o quadro da 15ª só tinha registrado o caso de Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, ainda na década de 1990, ocupante de cargo em comissão e que atuou como assessor no gabinete do desembargador Oswaldo Preuss (aposentado em 1999). O segundo caso (primeiro servidor que ingressou por concurso), em janeiro de 2011, foi o de Márcio Roberto Vallim, que tomou posse também como técnico judiciário e está atuando na Vara do Trabalho de Mogi Guaçu.

Em pouco menos de quinze dias, Jairo conseguiu cativar os colegas e assumiu o serviço de notificação de iniciais. Adaptações, um pouco de coragem, um programa especial de computador (que ele trouxe de casa, enquanto o oficial, do TRT, ainda não chega) e uma generosa dose de boa vontade são suficientes para o trabalho. O diretor da VT de Tietê, Luiz Carlos Barbosa Satto, confidencia que no início teve receio das dificuldades, mas confessa que mudou rápido de opinião e agora agradece pela “oportunidade de aprender e de ensinar”. O diretor reconhece o bom desempenho de Jairo e garante que o jovem servidor tem as mesmas dificuldades de qualquer outra pessoa que inicia um novo trabalho. Satto afirma ainda que, em breve, deve diversificar os serviços do novo colega, que deverá assumir também a preparação de pressupostos recursais.

Uma vida de desafios

Jairo nasceu com glaucoma e teve baixa visão até os 11 anos, quando a família optou por uma cirurgia para amenizar o problema. Não houve êxito, e o garoto perdeu a visão.

Tudo que Jairo consegue divisar são claridades, às vezes algumas cores.

Paulista de nascimento, mudou-se aos 8 anos com a família para Salto de Pirapora (região de Sorocaba). Tem dois irmãos, um mais velho e uma irmã mais nova. A genética é a origem da doença que o acometeu ainda na infância, mas ele é o único da família que perdeu a visão.

Jairo diz que superação é uma palavra constante em sua vida e não esconde que enfrenta dificuldades de todo tipo. Bem-humorado, prefere contar os ganhos a somar as perdas e diz que “ainda está tentando aceitar o termo cego”. Não se incomoda em dizer que aprendeu a ser deficiente visual, termo que melhor qualifica, para ele, sua condição, mas não gosta de ser chamado de “portador de necessidades especiais”, porque “deixa pior o problema”.

No momento, seu maior desafio é morar sozinho no apartamento que alugou próximo ao local de trabalho. Para se locomover, usa apenas uma bengala longa. De manhã, quando vai para o trabalho, prefere ir sozinho, mas não dispensa a ajuda de um colega na volta, às 16h.

Ele diz que nunca morou longe da família. Mesmo assim, garante que sabe cozinhar (no fogão e no micro-ondas) e não passa apertado. Para espantar a solidão, Jairo pretende voltar a frequentar cinema e tocar teclado, instrumento que estudou por mais de quatro anos.

Ainda sem muitos amigos na cidade, a leitura é o passatempo principal de Jairo. Além do Virtual Vision, programa de computador que permite a leitura em tela, ele conta também com os livros em CD, que recebe da Fundação Dorina Nowill, na qual é cadastrado para receber, gratuitamente, pelo correio, além dos livros, a revista Veja. “Depois de lidos, devolvo os CDs para a Fundação, para outras pessoas poderem ler”, observa Jairo. No passado, especialmente até o terceiro ano do ensino médio, utilizava bastante o método braille, mas desde que entrou na faculdade de Direito, a maioria dos livros que lê é no próprio computador, pela facilidade e disponibilidade de mais de 800 títulos (incluindo as principais obras jurídicas, que ele usou durante o curso).

Sonhos

A entrada no TRT reforçou ainda mais os dois principais sonhos de Jairo Machado: magistratura e docência. Ele sabe que tem muitas dificuldades e desafios pela frente, e, mesmo quanto à vocação, as duas carreiras lhe inspiram muitas dúvidas. Mesmo assim, Jairo pretende retomar os estudos para a Magistratura ainda este ano e não descarta voltar a fazer uma especialização nos ramos do Direito Constitucional, Direitos Humanos e do Trabalho.

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Comunicação Social