Palestra do psicoterapeuta Ivan Capelatto lota auditório da Escola Judicial da 15ª

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Por Patrícia Campos de Sousa

Cerca de cem pessoas, entre magistrados e servidores, assistiram na tarde desta quarta-feira (18/1), no auditório da Escola Judicial do TRT da 15ª Região, em Campinas, à palestra “Aspectos sociopsicológicos subjacentes ao conflito trabalhista”, proferida pelo psicoterapeuta Ivan Roberto Capelatto. A palestra é parte das atividades do XXI Curso de Formação Inicial Básica para Juízes do Trabalho Substitutos, voltado aos 21 magistrados empossados no Regional no último dia 2 de dezembro.

O evento foi coordenado pelo vice-diretor da Escola, desembargador Samuel Hugo Lima. Também compôs a mesa o desembargador Eduardo Benedito de Oliveira Zanella, que substituía, na ocasião, o vice-presidente administrativo da Corte, Nildemar da Silva Ramos. Zanella fez a apresentação do palestrante, que já ministrou conferência no Congresso Nacional de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho promovido pelo Tribunal em 2010, em Paulínia (SP).

Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Campinas, Ivan Capelatto é professor convidado dos cursos de pós-graduação em Medicina da Família da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Pediatria da Faculdade de Medicina da PUC do Paraná, além de lecionar no curso de Terapia Breve Familiar do The Milton H. Erickson Foundation Inc., em Phoenix, Arizona, e em Nova York. É autor de vários livros, entre eles o recente Diálogos sobre a afetividade (Papirus, 2012).

Capelatto iniciou sua exposição traçando um panorama das fases do desenvolvimento humano, focando na fase anal (entre 1 ano e meio e 4 anos e meio de vida), que ele considera a mais importante para a constituição do sujeito, momento em que se dá a formação do superego, "do juízo crítico que vai possibilitar ao indivíduo suportar, ao longo de sua existência, o sentimento de angústia, de vazio, a que todo ser humano está sujeito", frisou. Segundo o palestrante, a crescente dificuldade da humanidade em enfrentar esse sentimento de angústia inerente à condição humana deve-se ao trato inadequado das crianças nessa fase da vida e tem se refletido seja na proliferação de condutas perversas, seja na busca compulsiva por anestésicos em geral. “Além de grande consumidor de antidepressivos, o Brasil figura hoje em segundo lugar no consumo de drogas e álcool, saída a que recorrem cada vez mais pessoas, e cada vez mais cedo, ainda na adolescência”, enfatizou o professor. Ele explicou também que todos os transtornos de conduta, as chamadas psicopatias, decorrem da ausência, no sujeito, dos sentimentos de medo, raiva e culpa, “o chamado tripé neurótico, que, longe do que possa parecer, visam à proteção do indivíduo, e não à sua destruição. A neurose é a luta contra a perversão, é nossa garantia de saúde mental”.

A segunda parte da exposição voltou-se para as relações engendradas no trabalho, consideradas pelo palestrante como a condição psíquica mais organizada da vida humana, depois da família. Segundo Capelatto, as relações entre colegas de trabalho ou entre patrões e empregados não são apenas sociais, mas socioafetivas. “Trata-se, contudo”, explicou o professor, “de uma afetividade frágil. O sentimento predominante é competitivo-racional, o que significa que, muito facilmente, a afetividade entre colegas ou entre patrões e empregados é tornada secundária. O medo da competência, da inteligência e do crescimento profissional e econômico do outro conduz à inveja, ao ciúme, que implicam a necessidade de causar danos (perversões)". Para o psicoterapeuta, a consequência psicossomática das invasões perversas nas relações de trabalho são as somatoses (doenças autoimunes), o burnout (estresse elevado) e o bullying ou assédio moral, responsáveis pelo crescente número de afastamentos e licenças do trabalho. “O bullying sempre existiu e hoje felizmente é crime. Visa causar dano a outro, fragilizar seu ego, afastá-lo do trabalho por meio de ataques relativos a seu nome, cor, origem, posição na instituição.” De acordo com o palestrante, essa é uma dinâmica que se inicia muito cedo, já na pré-escola. “Sabemos hoje que quem sofre bullying na fase anal se torna autor de bullying quando adulto, se torna perverso”, advertiu. Segundo Capelatto, apenas 5% da população pode ser considerada lúcida, no sentido de ter juízo crítico suficiente para suportar as frustrações do dia a dia, aceitar sua impotência e ser capaz de criar-dar limites/cuidar de outro ser. “A angústia nunca se resolve, ela tem de ser suportada.”

Questionado sobre o papel dos magistrados, Capelatto respondeu que, além da legislação, eles devem usar a lucidez para bem julgar. “Acredito que o papel do juiz, além da lei, deve ser o de mediador, de observador, capaz de perceber se o reclamante é vítima de manipulação danosa externa. Ele deve prestar atenção às falas dos atores.” E concluiu advertindo que “o cuidado com o outro é a única fonte da vida, o único prazer que se origina do amor, a única chance de felicidade. É a sabedoria para estruturar uma identidade capaz de suportar a sobrecarga”.

 

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