Dracena, no oeste paulista, recebe o Grupo Móvel da Presidência do TRT

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Fotos e texto: Luiz Manoel Guimarães

Depois de visitar a Vara do Trabalho (VT) de Adamantina na manhã do dia 4 de setembro passado, o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância, o GMP, viajou ainda mais para oeste e, na tarde do mesmo dia, esteve em Dracena, município de 45 mil habitantes, a nada menos do que 580 quilômetros de Campinas e a cerca de 100 quilômetros de Presidente Prudente. Num simpático prédio de dois pavimentos e arquitetura inspirada no estilo neoclássico funciona a VT da cidade, cuja jurisdição, tão grande quanto a da VT de Adamantina (também são 11 municípios), inclui ainda Irapuru, Junqueirópolis, Monte Castelo, Nova Guataporanga, Ouro Verde, Panorama, Pauliceia, Santa Mercedes, São João do Pau D'Alho e Tupi Paulista. No total são 130 mil habitantes, segundo o IBGE.

Desde que o GMP deu início às suas atividades, em fevereiro deste ano, já são cerca de 70 unidades da Justiça do Trabalho da 15ª Região visitadas, entre varas, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o Grupo busca identificar as demandas locais e criar oportunidades de aprimoramento, funcionando como um canal de comunicação direto entre as unidades e a Presidência do TRT.

As dinâmicas aplicadas pelo Grupo têm ênfase em indicadores de estresse e qualidade de vida. Não por acaso, os dados levantados serão submetidos, inclusive, à Comissão de Qualidade de Vida do TRT da 15ª Região, criada em junho deste ano para auxiliar a Presidência do Regional nas iniciativas visando ao bem-estar de magistrados e servidores. Presidida pela desembargadora Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e Moraes, a Comissão é composta também pela desembargadora Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla, pelo juiz Flávio Landi e pelas servidoras Adriana Martorano Amaral Corchetti, diretora-geral substituta do TRT, e Heloísa Helena Mazon Zakia, secretária de Saúde do Tribunal.

Dos mortos aos "muito-vivos"

Robson Tarifa Navarro é oficial de justiça na VT de Dracena. Servidor da Justiça do Trabalho da 15ª desde 22 de novembro de 2000, ele exerceu, nos oito anos anteriores, o cargo de auxiliar de papiloscopista, na polícia civil de São Paulo. Seu trabalho consistia em identificar pessoas, com base nas marcas características da pele humana, sobretudo as digitais. Pessoas vivas ou mortas, aliás. Frequentar o necrotério fazia parte da rotina de Robson. "Eu sempre tentava chegar o mais rapidamente possível, para evitar o momento do exame cadavérico pelo legista, mas às vezes não dava", comentou, lembrando de um dos momentos mais difíceis de seu ofício. "Mas fazia parte. Eu sabia disso quando prestei o concurso e sempre procurei fazer meu trabalho de forma positiva. Procuro agir do mesmo jeito como oficial de justiça também. Senão, você morre um pouco a cada dia", filosofa o servidor, cujo trabalho permitiu a muitas famílias dar um funeral decente a um ente querido. "Lembro, por exemplo, do caso de um rapaz que havia sido assassinado já havia uma semana. Nenhum documento foi achado com o corpo, mas, graças ao nosso trabalho, houve a identificação."

Em 1996, Robson se formou em Direito (posteriormente faria especialização em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho), o que lhe deu a condição de prestar o concurso para oficial de justiça na 15ª. "Gosto demais de Direito do Trabalho. Sempre gostei", sublinha ele, "mas meu trabalho aqui também tem seu lado difícil. Era mais fácil lidar com os mortos", brinca. "Até ameaça de morte eu já sofri."

Discípulo dos Gracie

Para, entre outras coisas, lidar mais facilmente com as tensões do dia a dia, o servidor começou a praticar jiu-jitsu, em 2004. Nos cinco primeiros anos, o aprendizado se restringiu ao acompanhamento de aulas gravadas em vídeo, mas, em 2009, Robson se cadastrou na Academia Gracie, localizada em Torrance, próximo ao aeroporto de Los Angeles, na Califórnia (EUA), e cujo proprietário, Rorion Gracie, é o filho mais velho do mítico Hélio Gracie, falecido em 2009. Responsável pela difusão do jiu-jitsu no Brasil, Hélio criou o estilo de arte marcial conhecido mundialmente como "brazilian jiu-jitsu".

A lista de clientes da academia inclui de agentes do FBI a astros como Mel Gibson e Chuck Norris, segundo Robson, que faz aulas via internet, on-line. Assim como em outras artes marciais, o primeiro estágio é a faixa branca. "A progressão é cercada de muito rigor. Levei quase quatro anos para passar à faixa azul, o nível seguinte", explica o servidor. Ele tem pela frente agora as faixas roxa e marrom, que, a exemplo da azul, estão divididas em quatro graus cada uma. Em seguida vem a faixa preta, que vai do 1º ao 10º grau. Mas engana-se quem pensa que acaba aí. "O jiu-jitsu inclui ainda a faixa vermelha e preta e a vermelha, cada uma com 10 graus também", esclarece Robson. Para se ter uma ideia do nível que essas faixas representam, Rickson Gracie – quarto filho de Hélio e considerado uma lenda das artes marciais, com 460 vitórias em igual número de lutas, está "apenas" no 4º grau da faixa vermelha e preta, segundo o servidor. Rorion, por sua vez, já alcançou o 9º grau da mesma faixa, um a menos do que o lendário pai, acrescenta Robson, cuja paixão pelo jiu-jitsu é compartilhada pelos filhos , de 21 anos, e , 20.

O primogênito de Hélio Gracie se notabilizou também por ser o pai do cultuado MMA, sigla em inglês para Mixed Martial Arts, ou Artes Marciais Mistas, que a organização Ultimate Fighting Championship (UFC) tornou mundialmente popular. Robson, no entanto, garante que a criação de Rorion Gracie foi desvirtuada. "A ideia era proporcionar o confronto entre praticantes das mais diferentes artes marciais, tornando possível uma comparação entre elas. O que se vê hoje em dia, no entanto, é uma exploração comercial do MMA, na qual vale tudo para se obter audiência, para ganhar dinheiro", critica Robson. "O Rorion enfatiza claramente que esse ‘filho' que está aí não é dele."

Fachada da VT de Dracena

O bom fruto da criação do mestre, por outro lado, afirma o oficial de justiça, foi a difusão do jiu-jitsu pelo mundo inteiro. "Ele se mostrou superior a todas as outras artes marciais. No MMA, os outros lutadores que não tinham condição de enfrentar os estudiosos do jiu-jitsu, acabavam derrotados. Isso os fez começar a estudar a arte também."

Para Robson, o jiu-jitsu é mais do que um meio de defesa. "Graças a ele hoje eu tenho disciplina em tudo o que faço. Os ensinamentos que adquiro com ele se refletem em tudo na minha vida. Entre outras coisas, o jiu-jitsu me ensinou que nada é impossível", garante ele, que, felizmente, ainda não precisou pôr em prática o que vem aprendendo. "Uma vez, numa diligência, um cidadão ficou me rodeando, provocando, mas eu mantive a calma e consegui resolver a situação sem brigar", lembra. "Na verdade, o jiu-jitsu, pelo menos o que é lecionado por Rorion Gracie, ensina a evitar o confronto físico. Com as aulas eu me tornei um homem mais tranquilo, livre de uma série de sentimentos negativos, inclusive a ansiedade. No fundo, no fundo, o cidadão agressivo é uma pessoa sem autoconfiança."

A rotina de treinamentos é puxada. "Faço pelo menos uma hora de aula três vezes por semana, mas o ideal são seis vezes, de segunda a sábado, por exemplo, coisa que eu só consigo fazer nas férias", lamenta Robson, que nutre a expectativa de um dia conhecer a academia pessoalmente. "O exame para a obtenção da faixa preta é lá. São cinco dias de testes."

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Comunicação Social