Fórum do Trabalhista de Catanduva propaga conhecimento e filantropia, constata GMP

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Por Ana Claudia de Siqueira

Colaborou Matheus Zampa

Bons ventos sopram da "Cidade Feitiço", conhecida nacionalmente também como a capital dos ventiladores. Surgiu em meados de 1850 como Arraial de Cerradinho, em referência ao local de sua formação, "uma área de cerrado ralo", informa a publicação Catanduva: um olhar para o futuro, aspectos históricos e contemporâneos. Com a inauguração da estrada de ferro em 1910, o vilarejo foi desmembrado de São José do Rio Preto, tornando-se município de Catanduva, ou Caa-tã-dyba: do tupi-guarani, mato rasteiro, áspero e rústico. A fundação é datada de 14 de abril de 1918.

Na "terra crua que não prometia um futuro de tanto esplendor, a semente foi plantada e mudou a paisagem", entoa a história, o canto solene catanduvense. Importante polo sucroalcooleiro, o município destaca-se pela exportação de produtos, como suco de laranja, açúcar, café, álcool etílico, óleo de amendoim, entre outros itens. A estação ferroviária que impulsionou o desenvolvimento econômico no início do século XX permanece intacta, atuando como espaço cultural para exposições e eventos.

Ginástica Laboral

A instalação da Justiça do Trabalho ocorreu em 18 de abril de 1979, quatro dias depois do aniversário de 61 anos da cidade. A lei nº 6563/ 78 que criou a 1ª Junta de Conciliação e Julgamento foi sancionada ainda no Governo Geisel, posterior ao chamado "milagre econômico". O Brasil experimentaria na época, uma forte crise financeira com reflexos por todo o país e registro de altas taxas inflacionárias. No início da década de 1990 seria criada a 2ª VT, já sob a batuta do TRT da 15ª Região.

A jurisdição abrange mais 14 municípios: Sales, Palmares Paulista, Novais, Pindorama, Marapoama, Irapuã, Paraíso, Tabapuã, Ariranha, Elisário, Catiguá, Itajobi, Ibira, e Santa Adélia, totalizando 260.763 habitantes (Estimativa IBGE/2013). Dados dos últimos três anos apontam a necessidade de uma terceira vara no Fórum Trabalhista. Só em 2012, somadas as duas VTs, foram 6.193 processos recebidos e 5.640 solucionados. "Aqui se trabalha muito, pois o volume é espantoso", salienta a servidora da 1ª VT Marta Helena Furio, durante a reunião do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP).

Os servidores do fórum levam a prática da ginástica laboral muito a sério. Isso acontece desde abril deste ano, três vezes por semana, com duas pausas diárias, às 11 e às 15 horas, para que todos possam fazer os exercícios. Na 2ª VT, quem comanda a sessão é a servidora Alessandra Cristina Avigni Moreli, com base no manual que o TRT disponibiliza no espaço Saúde, na extranet. Na 1ª VT a prática da ginástica fica sob os cuidados de Sônia Maria Menegon Sanches. Ambas garantem que o momento de descontração proporcionado pela pausa para os exercícios contribui inclusive para minimizar o estresse.

Fazendo jus à hospitalidade que rendeu ao município o título de "Cidade Feitiço", os servidores do GMP foram logo recepcionados nas escadas do FT pela diretora de Serviço de Distribuição de Feitos, Vera Lúcia Panca Franco e levados para saborear um cafezinho. Ali no hall de entrada descansa uma estante de livros à disposição de todos. Naquela manhã, o encontro do GMP que tratou sobre estresse e qualidade de vida, reuniu servidores da 1ª VT e da Distribuição, em um espaço apertado, mas aconchegante, com flores, quadros e decoração natalina. Toques femininos da sempre sorridente Vera, fã das cores alegres e fortes. À tarde foi a vez dos servidores da 2ª VT e da Central de Mandados participarem das atividades do GMP.

Bem Direito

Confraternizações reúnem juízes e servidores as sextas, para um café da tarde comunitário. Há uma certa magia em todo o FT. É fato. Durante a interação com o GMP surgiram manifestações do tipo "a dimensão é muito maior quando se faz com o coração. Não precisa pensar no resultado ele simplesmente acontece". Esta foi proferida de forma entusiasmada pela servidora da 1ª VT Adriana de Freitas Henrique. A afirmação refere-se a sua participação no movimento intitulado BemDireito, mas tem "dimensão" notoriamente muito mais ampla.

Cilene Pagliarini Fernandes, que chegou recentemente à VT (agosto deste ano) dispara outra frase. "É sair da zona de conforto para provocar mudança, sair da mesmice e pensar no próximo". Na sequência, surge Vera: "é não andar de lado e sim para frente". Essa forma de agir e de pensar deve-se em parte ao juiz Wagner Quadros que incentiva as pessoas a se movimentarem em prol da comunidade.

Disseminar conhecimento entre estudantes e profissionais do Direito, tendo como ponto de partida uma proposta filantrópica. Foi assim que surgiu em Catanduva, por iniciativa do movimento BemDireito, idealizado por Quadros, o primeiro Ciclo de Palestras sobre Direito do Trabalho e Processual do Trabalho, com valor das inscrições remetido na íntegra ao Hospital do Câncer de Barretos. "O primeiro encontro reuniu mais de 600 pessoas", relata a servidora da 1ª VT Glaucia Santana da Silva. Ela ajuda Adriana com as inscrições, o cerimonial, credenciamento e controle.

Os organizadores doam o seu tempo e seus esforços, os palestrantes, a sua sabedoria jurídica, o público (estudantes e profissionais) o valor correspondente à sua inscrição, que é depositado diretamente na conta da entidade beneficiada. Assim os ciclos estão sendo organizados por intermédio da união de esforços e da boa vontade de muitas pessoas, entre eles, diversos desembargadores do TRT e muitos servidores do FT.

Como resultado, 12 eventos de alta qualidade já realizados em 10 municípios paulistas, com mais de seis mil participantes, arrecadação de cerca de R$ 300 mil e 30 instituições beneficiadas, propiciando ainda aos estudantes de Direito uma oportunidade de reciclagem e de adquirir conhecimento a partir do contato direto com grandes pensadores e profissionais da área. Para incentivar os participantes a investir na carreira, há sempre uma personalidade homenageada em razão de sua história de vida e contribuição ao mundo jurídico.

Tudo começou ali mesmo, em 2011, nas dependências do FT, a partir do interesse de estagiários e estudantes de Direito em assistir as audiências. Existia um nicho que se transformou em um intenso trabalho na linha da filantropia ligada a eventos culturais. O magistrado conta que pela primeira vez na história de Catanduva, faculdades concorrentes se uniram em prol de um objetivo comum. "Ao mesmo tempo, do ponto de vista metafísico, não tem explicação. Trata-se de instituição que não existe, pois não tem dinheiro, não tem equipe de trabalho. Como se faz isso?", indaga. Ele mesmo, na sequência, arrisca uma teoria. "Existe dentro de todo mundo uma força que está pronta para se manifestar e quando se propõe a isso, milagres acontecem".

Corrente do bem

Essa força parece pulsar no FT de Catanduva. A servidora da 1ª VT Chrystiane Beck Silva atua há cinco anos na Pastoral da Caridade e mobiliza os colegas para ajuda mensal na doação de leite e itens alimentícios, que são distribuídos aos mais necessitados do município pela igreja da qual é voluntária. "São cerca de 20 pessoas aqui do Fórum que ajudam sempre", conta a servidora, que vê no voluntariado uma via de mão dupla.

Já na 2ª VT a corrente do bem é catalisada por Maria de Lourdes Donadon Marson, que preside o Centro Comunitário de Promoção Social de Catiguá, município com pouco mais de sete mil habitantes, localizado a 14 quilômetros de Catanduva. Lourdes desenvolve projetos de geração de renda com cerca de 50 mulheres. Há ainda atividades específicas, principalmente esportivas nas modalidades de judô e karatê para adolescentes em risco social. "Todo mundo ajuda comprando rifas, doando roupas para o bazar. A cooperação aqui no Fórum é ampla", contabiliza. Segundo Lourdes, 60% da renda das mulheres é proveniente dos trabalhos artesanais produzidos nas oficinas. "Muitos assistidos pela instituição vieram do nordeste do país, sem qualificação e sem trabalho, por isso a necessidade de se intensificar as formas de assistência", complementa.

"A Morte da Morte": a confirmação da vida

"E se a morte não for isso o que dizem dela, essa coisa que nos atemoriza e entristece? A morte da morte é a confirmação da vida. Cedo ou tarde cada um de nós constatará que a vida permanece, para sempre". Estas e outras questões acerca da vida e da morte são tratadas sob uma perspectiva espiritualista, ecumênica e holística pelo juiz Wagner Quadros em seu primeiro livro, intitulado A Morte da Morte, que foi lançado recentemente pela Editora Perse, com renda revertida para Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Catanduva.

Além de comandar o FT de Catanduva e promover os ciclos de palestras BemDireito, o juiz Wagner Quadros se enveredou na área do Direito dos Animais e Meio Ambiente. A exemplo dos eventos jurídicos, já promoveu três encontros de conscientização sobre o tema, voltados para o público em geral. "Mudei minha concepção de que o homem é sujeito do Direito e o resto é objeto. Uni-me a advogados e promotores que pensam dessa maneira e promovemos os encontros em Catanduva, um deles ecumênico, com a participação de cinco igrejas, que foi muito interessante", assinala. Paralelamente, segue com um grupo de estudos religiosos com linhas de pensamento diferentes, visando interação, conhecimento e identificação de semelhanças.

Figura tranquila, porém de olhos ávidos e incansáveis, Quadros acaba por provocar e fazer florescer o que há de melhor nas pessoas. Esta parece ser a sua vocação. Paulistano, concluiu o Curso de Direito em 1991, na Universidade de São Paulo (USP). Desde a sua adolescência envolveu-se com estudos de cultura oriental, vegetarianismo e filosofia. Iniciou sua carreira como servidor público na Justiça do Trabalho aos 19 anos. Em 1995 ingressou na Magistratura. "Não consigo imaginar nenhuma atividade profissional que seja mais bonita que a do servidor público. Não trabalha pelo lucro e sim para beneficiar a sociedade. Servir pessoas que precisam, que têm carências e necessidades. Exercemos um papel muito importante e os servidores tem essa consciência. É como a orquestra ou o coral, em que o gestor da equipe dá o tom. O tom aqui é esse, fazer o trabalho com orgulho e com prazer, tentando manter um ambiente feliz, apesar das dificuldades", finaliza.

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Comunicação Social