FT de Limeira reúne grupo de artistas

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Por Ana Claudia de Siqueira Fotos: Ana Claudia de Siqueira e Sílvia Trento

O Serviço de Distribuição dos Feitos (SDF) do Fórum Trabalhista de Limeira mais parecia uma pequena galeria de artes em compasso de espera para a montagem da próxima exposição, de estilo bem eclético e técnicas diversificadas. O espaço aglutinou trabalhos produzidos por magistrados e servidores especialmente para receber o Grupo Móvel da Presidência de Atenção as Unidades de Primeira Instância (GMP). Uma das incumbências do GMP é desvendar os talentos existentes na 15ª, demonstrando, por meio de reportagens, as habilidades artísticas, culturais e esportivas de magistrados e servidores, além da dedicação ao trabalho voluntário.

Entre as obras, o quadro denominado "Trabalho de Engenho" é assinado pelo juiz titular da 1ª Vara do Trabalho (VT), Renato de Carvalho Guedes, para quem o desenho e a poesia se tornaram fontes de relaxamento. Com uso de bico de pena e nanquim, o magistrado, que é autodidata, buscou inspiração no Brasil Colônia, quando Fortaleza, sua terra natal e Recife, sua morada de juventude, exibiam vastos canaviais, com mão de obra escrava. A cena retratada se encaixa também à história do município em que Guedes exerce hoje a Magistratura. Limeira tem seu desenvolvimento atrelado ao famoso Engenho Ibicaba, pertencente nos idos de 1820, ao Senador Vergueiro (Nicolau Pereira de Campos Vergueiro), ministro do Império. Segundo relatos do historiador e médico limeirense Reynaldo Kuntz Busch, em seu livro A História de Limeira, um censo realizado em 1822 contabilizava "a presença de 951 pessoas livres e 546 escravos morando na região".

Sílvia Raquel Alves de Oliveira Trento, da Central de Mandados, é fotógrafa por influência do pai, profissional de longa data. Ela inclusive colaborou com o GMP, registrando algumas imagens para ilustrar esta reportagem. Sílvia também é pintora, mas por influência do filho. O mesmo aconteceu com "outra" Sílvia (Helena Pires), da 1ª VT. Aliás, as duas são amigas desde a infância, quando moravam no mesmo quarteirão em Iracemápolis, município que junto com Cordeirópolis, está sob jurisdição do FT de Limeira. "Levávamos nossos filhos à aula de pintura e encontramos na arte, uma forma de expressão", comenta Sílvia Trento. Na pequena "exposição" do SDF, as duas contribuem com quadros abstratos em óleo sobre tela e o filho de Sílvia Trento, Luã, assina a pintura "Golfinhos".

A fotografia funciona como primeiro traço para Celso de Arruda Moreira, da 1ª VT Limeira, conceber suas obras em óleo sobre tela. Pinceladas precisas reproduzem uma antiga casa que existia na Avenida Rio Claro, em Limeira, registrada por sua câmera ainda na década de 1990. A paisagem urbana ganhou elementos pitorescos pelas mãos do artista, transportando o espectador para um cenário tipicamente rural. O quadro "Casebre", exposto no SDF, integra o conjunto de 15 obras de Celso. "As pinturas estão espalhadas pelas casas de meus familiares", relata. Casado com uma cantora e pai de músico, Celso também registra as performances da família com sua máquina fotográfica.

Cláudia Elisa Betti Pedro Bom, diretora de Secretaria da 1ª VT Limeira, domina técnicas de pintura em madeira e decupagem (sistema de colagem de papel), transformando objetos em pequenas obras de arte para decoração. Já Larissa Maria Zaros Silva, também da 1ª VT, é especialista na combinação de cores, tons e tecidos para a produção de peças decorativas e funcionais, utilizando-se das técnicas de patchwork e patch apliquê. Esta última tem como base uma película termocolante para a concepção dos trabalhos. No FT há ainda vasos espalhados por todos os ambientes, que recebem cuidados periódicos de Patrícia Helena Rabesco, do SDF, uma aficionada por plantas. A tarefa é dividida com Sílvia Trento, também fã de jardinagem.

"Jovem com uma Medalha de Cosimo, o Velho"

Medalhas em uma "galeria" poderiam remeter à obra do renascentista Sandro Botticelli, que retratou um jovem, portando no peito, uma peça cunhada com o perfil de Cosimo (Cosme di Médici, dito o Velho, político italiano do século XV e mecenas). Mas as medalhas da pequena exposição do SDF indicavam a presença de uma atleta no grupo, especialista na "arte" da natação. Margareth Blezer, da 2ª VT, a "nossa" jovem, tem 49 anos e acumula 26 medalhas (ouro, prata e bronze), conquistadas em competições regionais na categoria máster, em provas individuais e coletivas. "A prática esportiva foi adotada por recomendação médica e passou a ser um hábito prazeroso e motivador", revela Margareth, que se tornou especialista no nado borboleta.

GMP

Como de praxe, a equipe do GMP reuniu-se com os servidores da Central de Mandados, do SDF, da 1ª e 2ª VTs para avaliação de indicadores de estresse e qualidade de vida. Os servidores, por sua vez, puderam fazer apontamentos sobre oportunidades de melhoria no ambiente de trabalho. Durante os encontros aventou-se a possibilidade de mudança de prédio, uma vez que a estrutura atual se apresenta inadequada. A proposta já foi levada ao conhecimento do presidente do TRT, Flavio Allegretti de Campos Cooper, em reunião mensal do GMP, ocorrida no último dia 6 de maio. Paralelamente, foram realizadas reuniões com os juízes do FT e pesquisas com os jurisdicionados e advogados sobre a prestação de serviços.

Rancho Morro Azul

Como a maioria dos municípios da região, Limeira teve sua origem nas sesmarias doadas pelo Império entre o final do século XVIII e XIX. Uma delas, denominada Morro Azul, na qual se localizava a Fazenda Ibicaba, prosperou a partir da abertura de uma estrada que fazia ligação entre Jundiaí, Campinas e Piracicaba. Construída por iniciativa do Senador Vergueiro, a estrada foi concluída em 1826, ano de fundação de Limeira. A freguesia, sob o nome de Nossa Senhora das Dores do Tathuiby, foi criada por lei provincial em 1830. Nesta época a cana-de-açúcar já daria lugar ao cultivo do café e, em 1863, a tal da Fazenda Ibicaba já contava com mais de um milhão de pés. Muito antes da abolição da escravatura, o Senador Vergueiro (ele dá nome à Estação Vergueiro do metrô paulistano) trouxe portugueses e alemães para o trabalho na lavoura, mediante sistema de parcerias em detrimento à mão de obra escrava. Os colonos tinham direito a uma parte do que produziam.

A elevação à cidade ocorreu em 1863, já com a denominação de Limeira. A citricultura foi introduzida no município em 1915, impulsionando a economia. Com mais de 276 mil habitantes (Censo IBGE/2010), Limeira se destaca pelo cultivo da laranja e da cana-de-açúcar, caracterizando-se também pela produção industrial diversificada e pelo comércio de jóias, semi-jóias e prata.

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