GMP visita Vara do Trabalho de Taquaritinga

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Colaborou Matheus Zampa

Poucos armários, espaço amplo, mesas e estações de trabalho dispostas harmonicamente. A descrição – muito diferente do que se vê na maioria das unidades da 15ª, com as pilhas de processos em mesas, corredores e janelas - indica que ali já funciona o Processo Judicial Eletrônico (PJe-JT). Se é fato de que o meio ambiente passa a ser beneficiado com a economia de recursos naturais como papel e energia elétrica, entre outro insumos, pode-se dizer também que o local de trabalho de juízes e servidores muda para melhor. A Vara do Trabalho de Taquaritinga é a prova concreta, conforme observou o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de 1ª Instância (GMP) durante visita à unidade, que tem jurisdição em mais três municípios, Santa Ernestina, Fernando Prestes e Cândido Rodrigues.

Após um ano de funcionamento, completado no último dia 14 de novembro, já é possível para a VT contabilizar as melhorias trazidas pelo sistema, que não se restringem ao espaço e a uma nova estrutura. "O processo eletrônico é mais minucioso do que o físico, mas o resultado aparece muito mais rápido", assinala a diretora de secretaria Maria de Lourdes Garibaldi Martelli. Com quase 20 anos na JT (serão completados em 2014), Lurdinha, como é carinhosamente chamada por todos, diz que o PJe promove uma "mudança significativa, necessária e maravilhosa." E emenda: "a Justiça do Trabalho tem que estar em sintonia com o mundo, tem que acompanhar e o TRT-15 está no caminho certo. O PJe vem para ficar, ajudar e agilizar".

E veio mesmo. De acordo com a análise da Coordenadoria de Estatística e Pesquisa do Tribunal, o prazo médio do ajuizamento (exceto rito sumaríssimo) até a prolação da sentença na Vara do Trabalho de Taquaritinga é de 520 dias para os processos físicos e 122 dias para os novos processos, que tramitam eletronicamente. O atendimento ao balcão também foi reduzido com o PJe, uma vez que os autos ficam disponíveis de forma constante na internet para as partes e os advogados, sem a necessidade de deslocamentos até a VT.

Se o PJe trouxe maior organização, Lurdinha impõe graciosidade e elegância à VT, desde sempre. "É a nossa miss", revela um dos servidores. Os olhos claros e compenetrados, envoltos pelas marcas do tempo, assistem a evolução da Justiça do Trabalho em Taquaritinga desde a inauguração em 2005 e revelam ainda muita experiência de vida. Começou a trabalhar aos 16 anos e aos 18, já tinha um escritório de contabilidade em sociedade com o primo. Ingressou na Nossa Caixa (hoje Banco do Brasil) dois anos depois. Seus belos olhos e as medidas perfeitas levaram-na às passarelas e à conquista do título de miss Caixa do Estado de São Paulo. "Tinha 23 anos. Era tudo bonitinho e certinho", relembra, entre risos.

Casou-se em 1978, aos 25 anos, e decidiu deixar o trabalho em um jejum que durou oito anos. Neste período teve um casal de filhos, de quem muito se orgulha. Com as crianças já um pouco crescidas, Lurdinha decidiu retomar os estudos, formando-se em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara. "Cheguei a lecionar como professora particular", revela. Determinada, resolveu prestar, em 1992, concurso público para o TRT, tomando posse dois anos depois como técnica judiciária. Trabalhou na 1ª VT de Araraquara e assumiu, em 2003, o cargo de diretora de secretaria na 2ª VT de São Carlos antes de se transferir para Taquaritinga. O ofício a fez estudar Direito também, na Universidade de Araraquara (Uniara).

Lurdinha é do tipo incansável. Por conta do trabalho e da família se divide em duas cidades, Taquaritinga, onde permanece durante a semana, e Araraquara, local dos finais de semana para sempre estar com os filhos e a netinha Lívia, de 3,5 anos. "Faço o contraponto, analisando o que era e o que sou hoje. Adoro o que faço e estou sempre disposta. Nem penso em me aposentar. Vou avaliar quando chegar a hora", afirma.

Do trabalho voluntário ao encontro com o tubarão

Cuidar da documentação é com ele mesmo. Adriano Blanco, assistente de diretor na VT de Taquaritinga, tem Curso de Administração pela Uniara. Iniciou sua carreira no Bradesco, até ser chamado pelo TRT em 1999, após aprovação em concurso. Na VT está desde a instalação em 2005. Paralelo ao trabalho na JT, Blanco dedica-se à prestação de serviços voluntários em programas sociais da Fundação Rotary Club de Taquaritinga, dispondo de todo o seu conhecimento profissional em prol da comunidade. "Procuro ajudar dentro daquilo que eu sei, então fico com a parte burocrática. Em outras palavras, cuido da papelada", explica o modesto Blanco.

Nas entrelinhas, percebe-se que seu envolvimento vai muito além dos papéis. Basta observar o brilho em seus olhos e a forma empolgada com que discorre sobre todos os projetos da instituição. Cuida diretamente do cadastro para cessão gratuita de cadeira de rodas à população necessitada e das campanhas de arrecadação. "Assistimos 400 pessoas e temos atualmente 650 aparelhos, que sempre estão precisando de manutenção. Fazemos campanha anual de arrecadação de fundos para a renovação dos equipamentos", assinala. Rotariano desde 2000, Blanco é sócio-fundador do programa Rotaract Club em Taquaritinga, que é voltado para jovens de 18 a 30 anos e promove o desenvolvimento do espírito de liderança.

Segundo Blanco, a instituição local do Rotary mantém ainda o Interact Club, direcionado a jovens de 12 a 18 anos, com atividades de estímulo ao companheirismo e baseadas no mérito escolar. Há também o banco de leite que assiste 30 famílias e o banco de fraldas geriátricas, este último sob comando das senhoras rotarianas. O servidor do TRT conta com detalhes da reforma da sede da Pastoral da Criança de Taquaritinga, propiciada pelo Rotary. "O prédio, mesmo com infraestrutura precária, foi assaltado em 2008, o que paralisou as atividades. Lá eles produziam a multimistura e emergencialmente ajudamos com a aquisição de utensílios básicos. Em 2010, a prefeitura cedeu para o Rotary em regime de comodato, uma casa com edícula na Vila São Sebastião. A fundação promoveu a reforma, com a ajuda do Rotary da Alemanha", revela. Além da cozinha industrial, foram montados, na casa da frente, salas para atividades pedagógicas com biblioteca e TV, pesagem das crianças e sanitários. Perguntado sobre sua participação nesse processo, Blanco retruca, timidamente, "eu cuidei da papelada".

Do trabalho voluntário ao mergulho, a mudança é radical, mas igualmente prazerosa. "Me sinto bem ao estar debaixo d'água e me fascina a alteração de grandeza, a sensação de peso alterada. A noção de espaço é totalmente diferente", assinala Blanco sobre mais essa sua faceta. Apaixonado pelo fundo do mar, elege Abrolhos (sul da Bahia) como o melhor lugar do mundo para a prática do mergulho. Em Porto de Galinhas, esteve frente a frente com tubarões ao percorrer o rebocador Marte, afundado em 1998 para a formação de recife artificial. "Foi muito tranqüilo. O que mais mantenho vivas na memória são as cenas do barco submerso", diz. Já esteve também em Santos, Ubatuba, Paraty, Porto Seguro e Fernando de Noronha. O curso técnico foi realizado em Ribeirão Preto e o batismo ocorreu logo depois, em 1999 poucos dias antes de tomar posse na JT.

Pura adrenalina

Trilhas, pistas de chão batido, alguns obstáculos e muita adrenalina. Nos finais de semana, o calculista da VT de Taquaritinga, Irineu Oliveira, apelidado de "Veinho", corre atrás de outros números. Em cima de uma CRF 250 cc busca os primeiros lugares em competições de motocross. "Era coisa de criança que só consegui fazer aos 36 anos", explica. A primeira moto foi adquirida em 2005, a profissionalização ocorreu quatro anos depois. Oliveira, que já disputou corridas com o tetracampeão brasileiro Jorge Negretti, acumula alguns troféus. Esteve também na famosa competição mundial de motocross em Daytona nos Estados Unidos, em 2011. A paixão mede-se pelo tamanho da pista que construiu em Araraquara com um grupo de amigos só para a prática do esporte. "Esqueço de tudo, do trabalho, do estresse. São 20 minutos de pura adrenalina", revela.

Para se manter bem sobre duas rodas, Oliveira faz caminhadas e joga bola. "Valorizo muito a atividade física, pois parei com o motocross por um ano e engordei 18 quilos", comenta. Oliveira iniciou sua carreira na JT em 1994, em Jaboticabal. Fez curso técnico de contabilidade e é formado em Direito com pós-graduação em Direito Processual do Trabalho. Atua em Taquaritinga desde a inauguração, em 2005

Registro

As fotos de Taquaritinga utilizadas nesta reportagem foram registradas especialmente para o GMP pelo servidor Fabio Henrique Carnevali, secretário de audiência da VT.

Taquara branca e fina

A denominação dada pelos índios tupi-guarani à vegetação típica da fazenda Boa Vista do Ribeirão dos Porcos, "Taquaritinga" ou taquara branca e fina, foi adotada oficialmente em 25 de novembro de 1907. Mas as origens do município remontam o dia 8 de junho de 1868, data da escritura de doação de terras ao povoado, formalizada por um grupo de pessoas lideradas por Bernardino José de Sampaio, proprietário da fazenda Boa Vista. O pequeno vilarejo era chamado na época de Ribeirãozinho.

Um fato curioso permeia a história de Taquaritinga. O município foi palco, em 23 de agosto de 1902, de uma revolta para restauração da monarquia no país. Um grupo de pessoas da cidade desejava a coroação do príncipe dom Luís de Orleans e Bragança. O movimento que tentava mobilizar outras cidades foi um fracasso e teve duração de apenas um dia.

A cidade que cultivava o café em meados do século XIX, já foi a maior produtora mundial de goiaba e uma das maiores de tomate, o que ocasionou em uma concentração grande de indústrias alimentícias até o ano de 1980. Com aproximadamente 56 mil habitantes (estimativa IBGE/2013), Taquaritinga firma-se como importante polo do agronegócio e registra crescente participação da indústria e do comércio na economia.

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