Grupo Móvel da Presidência do TRT vai ao Fórum Trabalhista de Sertãozinho

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Texto e fotos: Luiz Manoel Guimarães

A recepção é calorosa. Se o espaço não é dos maiores – já existe o projeto de mudança para instalações mais amplas –, os servidores do Fórum Trabalhista de Sertãozinho, município a cerca de 25 quilômetros de Ribeirão Preto, procuram compensar com simpatia e iniciativa qualquer eventual dificuldade na reunião com os colegas do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP). A equipe do Grupo esteve no Fórum nos dias 22 e 23 de agosto, em mais uma etapa de sua missão de interagir com todas as unidades de 1º grau da Justiça do Trabalho da 15ª Região.

Coordenado pelo juiz Flavio Landi, o GMP busca identificar as demandas locais e criar oportunidades de aprimoramento, funcionando como um canal de comunicação direto entre as unidades visitadas e a Presidência da Corte. As dinâmicas aplicadas pelo Grupo têm ênfase em indicadores de estresse e qualidade de vida. Não por acaso, os dados levantados pelo GMP serão submetidos, inclusive, à Comissão de Qualidade de Vida do TRT da 15ª Região, criada em junho deste ano para auxiliar a Presidência do Regional nas iniciativas no sentido do bem-estar de magistrados e servidores da 15ª. Presidida pela desembargadora Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e Moraes, a Comissão é composta também pela desembargadora Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla, pelo juiz Flávio Landi e pelas servidoras Adriana Martorano Amaral Corchetti, diretora-geral substituta do TRT, e Heloísa Helena Mazon Zakia, secretária de Saúde do Tribunal.

Formação elevada

O Fórum Trabalhista está localizado na Rua Barão do Rio Branco, 689, no Centro de Sertãozinho. A jurisdição inclui também os municípios de Barrinha, Dumont e Pontal, totalizando uma população de 187 mil pessoas, e a economia da região gira em torno da produção de açúcar e álcool.

Na chegada, no início da tarde da quinta-feira, 22, o GMP se reuniu com os servidores do Serviço de Distribuição dos Feitos (SDF) e da Central de Mandados, que funcionam no térreo do edifício, junto à entrada, em salas contíguas.

Diretor do SDF, Sidnei da Silva completa 23 anos de carreira na Justiça do Trabalho da 15ª no próximo dia 17 de dezembro. Desde março de 2008 à frente do Distribuidor de Sertãozinho, ele concilia suas atividades funcionais cotidianas com os cuidados à "área comum" do Fórum Trabalhista, os setores que estão fora dos limites das duas varas do trabalho instaladas no edifício. É como se Sidnei fosse uma espécie de "síndico" do prédio, coordenando serviços de reparo e manutenção, sempre sob a supervisão do juiz diretor do Fórum, Wellington Cesar Paterlini. Os cuidados vão desde as partes elétrica e hidráulica, com trocas de lâmpadas, manutenção do elevador etc., até questões relativas à própria segurança do FT, o que inclui o sistema de alarme e os extintores de incêndio, entre outros aspectos.

Bacharel em Direito com formação de nível técnico em processamento de dados, Sidnei destaca a qualidade do quadro de servidores da Justiça do Trabalho da 15ª. No SDF de Sertãozinho, por exemplo, revela ele, trabalham Elaine Duarte, psicóloga e bacharel em Direito, Paulo Ferreira Amaral, formado em Ciências Contábeis, com mestrado pela Universidade de São Paulo (USP) em Controladoria e Contabilidade, e Maria Cristina Alves Terra Vaz, bacharel em Direito com especialização em Direito do Trabalho. Antes de se transferir para Sertãozinho, onde já está há 14 anos, Maria Cristina atuou no Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília (de 1984 a 1994), e na sede do TRT-15, em Campinas (1994-1999), inclusive na Presidência da Corte, na gestão do desembargador José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza (1996-1998).

Discípula de Freud

Lotada na 1ª Vara do Trabalho (VT) de Sertãozinho, Tatiana Almeida D'Antonio de Souza, bacharel em Direito com especialização em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho, é servidora da Justiça Trabalhista da 15ª há cinco anos. Tem, no entanto, pelo menos outros dois grandes interesses: a psicanálise e a literatura.

Nos três anos anteriores ao seu ingresso na JT, de 2005 a 2008, Tatiana foi servidora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, na própria Sertãozinho. "Eu trabalhava na Secretaria de Administração Geral, nas atividades administrativas do fórum da Justiça Estadual. Lá eu tomei conhecimento do serviço de atendimento psicológico e psicanalítico que o TJ põe à disposição de seus magistrados e servidores, num núcleo instalado em Ribeirão Preto. Sempre gostei de psicanálise, mas a necessidade de conquistar segurança financeira me levou aos concursos públicos", lembrou Tatiana, cujo interesse pela psiquê humana vem desde os tempos da graduação em Direito. "Minha monografia de conclusão de curso teve como tema ‘Embriaguez habitual ou em serviço'. Aliás, meu orientador foi o juiz Fábio Allegretti Cooper, titular da 6ª VT de Ribeirão Preto e professor de Direito do Trabalho."

Assim, só em 2010 a servidora começou finalmente o tão almejado curso, no Instituto de Formação e Pesquisa em Psicanálise de Ribeirão Preto, estudando a chamada Escola Britânica, de linha freudiana. Tatiana está no oitavo e último semestre e conclui o curso no próximo mês de novembro, mas já presta atendimento há dois anos, com o acompanhamento de um supervisor.

Ela atende quatro vezes por semana, numa sala em Ribeirão Preto. "Meus instrumentos de trabalho são o divã e o ouvido", brinca Tatiana. No entanto, o atendimento geralmente começa com psicanalista e paciente sentados frente a frente. "Lacan [Jacques-Marie Émile Lacan, psicanalista francês] fala dessa ‘função do espelho'. O paciente quer sentir se eu estou ouvindo, prestando atenção. À medida que a confiança se estabelece, a pessoa se sente à vontade para deitar no divã. É quando ela se encontra consigo mesma", esclarece a servidora, que, todavia, aprecia o contato visual com o paciente. "Gosto do vínculo do olhar."

Quanto à literatura, Tatiana é autora de uma série de contos (alguns deles já publicados) que abordam, sob o aspecto psicanalítico, grandes mulheres da história, como a escritora britânica Virginia Woolf, a cientista polonesa Marie Curie, vencedora duas vezes do Prêmio Nobel por suas pesquisas no campo da radioatividade, a pintora mexicana Frida Kahlo, a filósofa alemã (de origem judaica) Hannah Arendt, a (suposta) espiã Mata Hari, executada em 1917 na França, e Ana Bolena, rainha da Inglaterra de 1533 a 1536, o chamado reinado de "mil dias". Acusada de ter traído o rei Henrique VIII com o próprio irmão, Jorge Bolena, Ana também teve um destino trágico, decapitada a golpe de espada.

Alto astral

Na 2ª VT de Sertãozinho, a polivalência começa com o próprio diretor de secretaria, Jaime Roberto Luiz. Apaixonado por história e religião, ele conclui em dezembro próximo um curso de teologia. "São três anos de curso, com aulas aos sábados à tarde."

As caminhadas também fazem parte da rotina de Jaime. "Faço 7,5 quilômetros diariamente, das 7 às 8h15 da manhã. O segredo é a disciplina", preconiza, garantindo ter disposição para caminhar 20 ou até 25 quilômetros sem maiores problemas. Jaime já percorreu quatro vezes, inclusive, o "Caminho da Fé", inspirado no Caminho de Santiago de Compostela, na Europa. "Vamos de Águas da Prata a Aparecida, aqui no Estado de São Paulo. São 322 quilômetros, que vencemos em 10 dias, o que exige a média de 32 quilômetros diários de caminhada. É preciso estar muito bem preparado. Entre outras coisas, as bolhas no pé são inevitáveis."

Uma iniciativa adotada pelo diretor Jaime são as reuniões bimestrais com toda a equipe, "para aparar as arestas". "Problemas existem, sem dúvida, mas nós trabalhamos no sentido de alcançar o melhor ambiente de trabalho possível. Tanto que o nosso nível de absenteísmo é muito baixo", assegura o diretor.

Outra característica de Jaime valorizada pelos colegas é o fato de ele partilhar os conhecimentos adquiridos. "Sempre que ele assiste a uma palestra ou a algum evento desse tipo, reúne o grupo e retransmite o conteúdo que foi abordado", observa Cesar Augusto Del Lama de Unamuno, atual secretário de audiências da VT.

Se as caminhadas são rotina para Jaime, sua colega Ana Paula Ferreira de Menezes Soara concentra seus esforços nas corridas de rua. Mãe aos 36 e aos 39 anos (desta feita de gêmeos, que completaram 10 anos no último domingo, 25), Ana Paula disputou em julho de 2012 a Meia Maratona do Rio de Janeiro, fechando os 21 quilômetros da prova com o tempo de 2h09min04. "É verdade que, logo depois de eu completar, os atletas de ponta finalizaram a maratona, com o dobro do percurso [na colocação geral, o campeão foi o queniano Willy Cangogo Kimutai, com 2h15min01, recorde da prova, e, na disputa feminina, Thabita Kibet, também do Quênia, venceu com 2h34min41, outro recorde]. Mas para mim, pessoalmente falando, foi uma vitória muito grande", lembra Ana Paula.

Por sua vez, a assistente de Jaime, Leide Fátima Zampronio, dedica parte de seu tempo ao trabalho voluntário em prol da Casa Abrigo Nosso Lar, entidade fundada em 1991 em Sertãozinho, para atender meninas de até 18 anos. "São crianças e adolescentes em situação de risco", explica Leide. "Elas vêm de lares desestruturados, de pais alcoólatras ou dependentes químicos. São meninas vítimas de abuso sexual, de violência física e/ou psicológica, de todo tipo de maus-tratos", lamenta Leide. "Hoje temos cerca de 20 meninas, uma delas com apenas três meses, mas já chegamos a ter aproximadamente 30."

Por iniciativa do Conselho Tutelar de Sertãozinho, com a autorização da Vara da Infância e da Juventude local, ou por determinação direta do juízo da Vara, as meninas são afastadas temporariamente de suas famílias e ficam abrigadas na entidade, onde, explica Leide, contam com a assistência de psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais. "Esses profissionais desenvolvem também um trabalho com cada uma das famílias, na tentativa de reintegrar as meninas ao lar. Se não há condições de reabilitar os pais, eles buscam uma avó, uma tia ou algum outro parente, na expectativa de encontrar a melhor solução em benefício da criança ou da adolescente. Mas, quando realmente não há alternativa, o juízo da Vara da Infância e da Juventude determina o afastamento definitivo da menina, retirando o poder familiar sobre ela, que então permanece abrigada na entidade à espera de uma família adotiva", esclarece a servidora.

Bacharel em Direito e em Economia, Leide atua junto com outros voluntários na promoção de eventos com o fim de arrecadar dinheiro para sustentar a entidade. "Fazemos jantares dançantes, bailes pré-carnavalescos, venda de pizzas, porco no rolete e ‘manhã da sobremesa', entre outras iniciativas. Recentemente, nos dias 9, 10 e 11 de agosto, a Prefeitura promoveu uma grande festa, para cerca de três mil pessoas, em benefício das entidades assistenciais do município, e cada instituição pôde contar com a renda de três barracas. No nosso caso, vendemos doces. Dessa forma, apesar de o Abrigo precisar de uma receita de 25 mil a 30 mil reais por mês, estamos conseguindo manter as contas da entidade em dia", comemorou Leide.

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Comunicação Social