Grupo Móvel da Presidência do TRT visita o Fórum Trabalhista de Marília

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Texto e fotos: Luiz Manoel Guimarães

Localizada no centro-oeste paulista, na Serra de Agudos, a 373 quilômetros de Campinas, Marília conta hoje, segundo o IBGE, com cerca de 230 mil habitantes. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município é 0,798, considerado alto e que coloca Marília na 47ª posição entre as 5.570 cidades brasileiras. Berço de grandes empresas, como a TAM Linhas Aéreas e o Bradesco, é chamada a "Capital Nacional do Alimento", com quase 400 mil toneladas produzidas anualmente, segundo o Marília e Região Convention & Visitors Bureau.

A cidade é, também, sede do Fórum Trabalhista Adilson Bassalho Pereira. O nome é uma homenagem ao desembargador que presidiu o TRT da 15ª Região no biênio 1992-1994 e se tornou um dos maiores ícones da história da Corte. Com duas varas instaladas e uma jurisdição que inclui também os municípios de Guaimbê, Lutécia, Ocauçu, Oriente, Oscar Bressane, Pompeia e Vera Cruz, o Fórum atende mais de 280 mil pessoas e, no último mês de setembro, recebeu a visita do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper.

Desde que começou suas atividades, em fevereiro deste ano, o GMP já visitou cerca de 80 unidades da Justiça do Trabalho da 15ª Região, entre varas, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o Grupo busca identificar as demandas locais e criar oportunidades de aprimoramento, funcionando como um canal de comunicação direto entre as unidades visitadas e a Presidência do TRT.

Esperança e fé

Nascida lá mesmo em Marília, Esperança Lopes Zaparolli, servidora da 1ª VT da cidade, alimentou desde criança um sonho: ser freira. E não que houvesse alguém próximo a lhe exercer influência nesse sentido – na família (católica, é verdade) ninguém havia seguido a carreira religiosa. Assim, aos 17 anos, Esperança ingressou no convento de Herculândia (a 60 quilômetros de Marília), onde naquela época, lá pelo início dos anos 1970, havia o noviciado, período que precede a emissão dos votos religiosos. Hoje, segundo a servidora, a Congregação ainda existe na cidade, com o nome de Instituto Secular das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima, mantendo um pequeno hospital, mas não mais com o noviciado.

Foi uma decisão absolutamente individual, garante ela. "Eu fui sozinha ao convento", lembra Esperança, que à época já estava com o ensino médio completo, ao contrário de várias de suas amigas – 40 anos atrás o acesso à educação era bem mais restrito, sobretudo para as mulheres. "Meu pai era um operário adepto da ideia de que era preciso ter educação justamente para se conquistar autonomia, ser livre, seguir o caminho que se quisesse", recorda ela. "A palavra de ordem lá em casa era ‘estude'", sublinha. "Mas, por outro lado, ele me ensinou que nós devemos assumir as consequências de nossos atos, de nossas escolhas." A mãe, doméstica, tinha em comum com o marido não só o apego à escola, mas também a defesa da liberdade da filha. "Só fui saber que ela era contra o meu ingresso no convento depois que eu abandonei o hábito", diverte-se Esperança. "Além de minha mãe, era minha grande amiga. Falávamos de tudo."

Abnegação

No primeiro estágio do noviciado, a candidata a freira é chamada de "aspirante", explica a servidora. "É o período em que conhecemos o que é ser uma freira, e temos a chance de saber se é realmente isso que queremos."

Na fase seguinte, já como "postulante", a candidata trabalha num dos projetos em que a Congregação atua, prossegue ela. "Fazíamos o trabalho que, de maneira geral, ninguém mais queria fazer, em creches ou hospitais, por exemplo", resume Esperança. "Tive que aprender ‘na raça' a ser enfermeira." Um caso não sai de sua memória. Ainda em Herculândia, no hospital, viu dar entrada um homem de aproximadamente 50 anos, que sofrera um derrame. Ele morava num quartinho de fundos na casa de um irmão, e a família praticamente se limitava a lhe dar água e comida, apenas, sem outros cuidados, conta a servidora. "O irmão só concordou em deixá-lo no hospital se alguém ficasse responsável por ele, e eu fiquei", lembra. "O paciente chegou barbudo, com diarreia", descreve ela, que na época tinha apenas 18 anos. "Cuidei dele, dando-lhe comida na boca, inclusive, até ser transferida para o Rio. A oportunidade de cuidar das pessoas me fazia feliz."

No terceiro estágio, a moça se torna noviça. Depois disso, já na condição de professa, faz os votos, que podem ser temporários ou perpétuos, caso em que só o Papa tem autoridade para liberar a freira do compromisso. "Mas não era o meu caso", esclarece Esperança. Segundo ela, a duração dos estágios varia, mas em geral cada um deles dura em torno de um ano.

Na carreira religiosa, Esperança conheceu lugares como São Gonçalo e Araruama, no Estado do Rio Janeiro, e Caldas do Jorro, na Bahia. Em Portugal, além de Lisboa e do Porto, as duas maiores cidades do país, passou por Bragança e Cidade da Guarda, no nordeste português. "Trabalhei como cozinheira em pensionatos, casas de idosos e seminários. Eu adorava cozinhar, tinha muito orgulho disso. O cardápio do dia a dia era batata, macarrão, frango, grão de bico e, claro, bacalhau." Na Itália, onde a então freira ficou por cerca de um ano, na localidade de Salice Terme, na Pavia, província da Lombardia (norte do país), Esperança cuidou de deficientes físicos e mentais. "Aproveitei para aprender a fazer o folare, uma espécie de pão da Páscoa."

Ex-noviça e rebelde

Em 1986, no entanto, Esperança se viu diante de um impasse. De volta a Marília, cursando o 1º ano de Psicologia, recebeu a notícia de que seria transferida novamente para o Rio de Janeiro. Por mais que não quisesse abandonar a missão que abraçara cerca de 15 anos antes, naquele momento Esperança tinha na vontade de estudar sua maior prioridade. "Eu disse que só iria com a garantia de vaga em outra faculdade no Rio, e, como isso não aconteceu, não me restou alternativa a não ser deixar a carreira religiosa. Não fosse por isso, eu não teria saído", lamenta ela. "Ainda sonho que sou freira. No sonho, estou pronta para viajar, com uma mala pequena e mais nada, como nos tempos de congregação, mas digo que só aceito a transferência se puder levar meus filhos, que hoje já estão com 22 e 24 anos. Ainda bem que acordo", diverte-se, aos risos.

No último ano da faculdade, em 1989, ela se casou pela primeira vez. A união durou cinco anos, durante os quais Esperança adotou seus filhos. O primeiro, Luís Vítor, apresentava um quadro de subnutrição. "Com nove meses, pesava apenas cinco quilos." Três meses depois, foi buscar o segundo, Rodrigo, que também era "muito magrinho", recorda ela. "Tinha dois anos e alguns meses. Eu olhava para as perninhas e os bracinhos dele e me perguntava: ‘Será que algum dia isso vai engrossar?'" Hoje, curiosamente, Rodrigo cursa educação física junto com a mãe, que, além de psicologia, também se formou em direito. Em 1997, três anos depois da separação, veio novo casamento, que duraria até 2009, quando o segundo marido de Esperança faleceu.

Na Justiça do Trabalho, já são 23 anos de carreira, 20 deles em Marília. Incansável, a servidora não sabe ainda exatamente o que vai fazer quando se aposentar, daqui a sete anos – "as coisas aparecem" –, mas o ramo de atuação já está escolhido. "Gosto da área de saúde", sintetiza a servidora, que já empresta sua garra e sua alegria de viver a um projeto de educação física para cuidadores. "São profissionais que lidam com idosos ou com pacientes com deficiência mental ou física severa, ou ainda que, muitas vezes, são deficientes físicos e mentais ao mesmo tempo. Em geral, a carga de trabalho a que o cuidador é submetido é muito grande e exige muito dele fisicamente, daí a importância da preparação física", explica.

O sentimento de querer cuidar das outras pessoas está arraigado em Esperança. Em 2012, fez um curso técnico de massoterapia, e agora pretende conseguir um espaço no próprio Fórum Trabalhista de Marília para montar uma sala onde possa cuidar dos colegas, reduzindo neles os efeitos do uso constante de computadores. "Uma das minhas ideias é fazer a chamada ‘quick massage', a massagem rápida, naquela cadeira apropriada, que eu tenho e posso trazer aqui para o Fórum", planeja a servidora.

No final da entrevista, pergunto se seu nome teria sido uma espécie de "premonição" dos pais. "Nada é por acaso", responde Esperança, sorrindo.

Solidariedade

Sandra Maria Marins Nishikito completa no próximo dia 18 de janeiro nada menos do que 32 anos como servidora da Justiça do Trabalho, carreira iniciada ainda na 2ª Região, na então 28ª Junta de Conciliação e Julgamento (JCJ) de São Paulo. Em julho daquele mesmo ano, ela, outra mariliense apegada à terra natal, já estava trabalhando na única JCJ da cidade à época, inaugurada um mês antes. Na década seguinte, com a instalação da 2ª JCJ, transferiu-se para a nova unidade, e daí finalmente para a Coordenadoria de Distribuição de Feitos, onde atua hoje.

Evangélica, Sandra frequenta a 1ª Igreja Presbiteriana Independente de Marília há mais de 30 anos. Nos cultos, na parte de louvor e adoração, ela canta, acompanhada dos filhos Lucas, 21 anos, guitarrista, e João Marcos, 19, baixista.

O principal foco da família, no entanto, é o trabalho com famílias carentes. "Conheci meu marido na Igreja, nesse tipo de trabalho, em bairros pobres da cidade. É um projeto de cunho social, associado ao trabalho espiritual, em que podemos ver a transformação da vida dessas famílias, com as pessoas conseguindo emprego, se estruturando." Exemplos de sucesso no projeto são duas funcionárias terceirizadas ali mesmo do Fórum Trabalhista e que fazem a limpeza do prédio. "Eram famílias em situação bem delicada", conta Ana, com sua voz tranquila e pausada. >

Alto astral

Mara Silvana Galdiano Araujo, 20 anos de carreira no Judiciário, com passagens pelas Justiças Estadual e Federal, há 12 anos é oficial de justiça na JT, em Marília. "É o que eu sempre quis", enfatiza, com um sorriso largo que teima em não sair de seu rosto. Já "ganhou corrida" de cachorro e até de pato, conta ela, rindo ainda mais francamente. Sofreu ameaças, também, mas nada que se compare a uma experiência vivida por seu irmão, outro oficial de justiça. "Ele fugiu de tiros."

A rotina do cargo reserva, por outro lado, situações cômicas, dignas de uma comédia "pastelão", pelo menos para quem não sofreu o infortúnio. Não Mara, mas outra oficial, foi "brindada" com um balde de água fria na cabeça, literalmente, por uma parte mais exaltada. Impassível, a servidora permaneceu exatamente onde estava, no portão da casa, e chamou a polícia. A viatura demorou tanto, porém, que, ao chegarem, os policiais já a encontraram seca.

Outras experiências são diametralmente opostas. Certa vez, num caso em que a empresa havia sido fechada, a execução prosseguiu na pessoa dos sócios do empreendimento. Mara foi à casa de uma sócia, para fazer a citação da devedora e, se o caso, não havendo o pagamento espontâneo da dívida, efetivar a penhora de bens. "A casa era muito pobre, não havia o que penhorar, e a moça tentava fazer render um mingau ralo para os dois filhos pequenos. O marido, o verdadeiro dono do negócio, havia sumido junto com uma amante", descreve Mara, emocionada. "Antes de sair, peguei o dinheiro que tinha na minha bolsa e deixei sobre um móvel da sala."

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