Varas do Trabalho de Piracicaba recebem o GMP

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Por Ana Claudia de Siqueira

Os magistrados e servidores do Fórum Trabalhista de Piracicaba receberam nos dias 16, 17 e 18 de abril, o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de 1ª Instância (GMP). Na dinâmica aplicada pela psicóloga da equipe, Juliana Barros de Oliveira, os servidores responderam questões referentes à qualidade de vida pessoal e no trabalho, à existência de fontes de estresse, sendo introduzido também o conceito de resiliência, ou seja, a habilidade que uma pessoa desenvolve para resistir, lidar e reagir de modo positivo em situações adversas.

A resiliência e o controle do estresse em juízes e servidores públicos do TRT da 15ª Região foram objeto de estudo da tese de Doutorado de Juliana, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC), em 2007. A pesquisa é um desdobramento de sua tese de Mestrado com o mesmo público-alvo, que foi defendida três anos antes e apontou a presença de sintomas de estresse em 72% das 220 pessoas entrevistadas.

Para o Doutorado, a pesquisadora analisou o comportamento daqueles 28% restantes, sujeitos às mesmas fontes de estresse, mas que demonstraram possuir habilidades de enfrentamento das adversidades e regularidades cognitivas. "Constatamos que pessoas com maior senso de auto-eficácia e com habilidades de analisar as causas das adversidades, controlar emoções, ser otimista, e se comportar com empatia estão menos expostas ao risco de desenvolver quadros de estresse crônico", explicou a psicóloga.

É exatamente esta pesquisa que permeia suas intervenções do GMP nas unidades judiciárias da 15ª. Os servidores do FT¨ de Piracicaba puderam fazer uma autoanálise, com base em quatro indicadores – análise causal, empatia, regulação emocional e otimismo – coletados por meio de um questionário e destrinchados em grupo, seguido de exemplos, dicas e orientações para a obtenção de uma melhor qualidade de vida pessoal e no trabalho.

Paralelamente, a assistente social Maria Ângela Caparroz Arelano Cordeiro abordou os jurisdicionados e partes para coletar impressões sobre suas experiências com a Justiça do Trabalho. No FT de Piracicaba, assim como em todas as outras 12 unidades judiciárias já visitadas pelo GMP, os entrevistados fizeram uma avaliação muito positiva do atendimento e da prestação de serviços.

Quatro histórias na JT

Se para os jurisdicionados o bom funcionamento da Justiça do Trabalho é fato, para muitos servidores remete a histórias, satisfação e orgulho. "A Justiça do Trabalho representa muito na minha vida, primeiramente porque nela vivenciei a maior parte de minha carreira e em segundo lugar, porque gosto muito do meu trabalho. Sinto-me realizado quando vejo pilhas e mais pilhas de processos sendo levados ao arquivo, como se aquele fosse nosso produto final", afirma Rene Zambon, diretor de secretaria da 1ª Vara do Trabalho de Piracicaba.

Para ele, a Justiça do Trabalho é de vanguarda, na medida em que absorve prontamente os recursos que permitem a ela ser célere, como as ferramentas eletrônicas (Bacenjud, Renajud, Arisp etc.) e, mais recentemente, o Processo Judicial Eletrônico (PJe). Zambon tem 19 anos de JT. Ingressou em 19 de abril de 1994 e sempre atuou em Piracicaba. É formado em Direito pela Universidade Metodista (UNIMEP), com Pós-Graduação em Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. Foi criado na zona rural de Piracicaba, na propriedade de seu avô e nas horas de lazer procura retornar às suas origens, dedicando seu tempo livre aos animais que mantém em seu sítio, principalmente cavalos, uma de suas paixões.

A diretora de secretaria da 2ª Vara do Trabalho, Mara Regina Barosi, ingressou na Justiça do Trabalho exatamente no dia de instalação da unidade em 12 de dezembro de 1989. Graduada em Matemática, iniciou o curso de Direito na UNIMEP no ano seguinte. "Confesso que nunca fui apaixonada pelo Direito, mas sou encantada pela Justiça. Sempre apreciei as formas não jurisdicionais de solução de conflito, pois além da aproximação da Justiça com o cidadão, também é um meio que descobri de humanização dos processos", conta Mara.

No FT de Piracicaba, Mara é conhecida como ‘diretora zen'. "Penso que ninguém dá aquilo que não tem. Por esse motivo, sempre que possível, com o objetivo de agregar ideias sobre as condições humanas, participo de atividades voltadas ao meu crescimento interior, tais como coaching, automassagem, lian gong (prática corporal oriental), relaxamento, ikebanas (arte de trabalhar com arranjos de flores), o que por certo acabo transmitindo essas vivências às pessoas do meu convívio". Não é à toa que os servidores se deparam com flores nas mesas, depositadas ali, espontaneamente pela faxineira da VT. É comum também interromperem as atividades por alguns minutos, para um breve alongamento, baseado nas técnicas chinesas.

Para Mara tudo isso é gratificante e faz com que a VT seja um espaço diferenciado, um pouco mais leve, alegre e prazeroso de se trabalhar. "Penso que o grande desafio do gestor hoje, é colocar o foco às necessidades humanas, de tal modo que as pessoas que conosco convivem possam se sentir valorizadas, motivadas, inspiradas e reconhecidas, apesar das diversidades culturais. Acredito nesta Justiça, acredito também que estamos caminhando para um mundo maior, não só pelos avanços tecnológicos, mas, principalmente, pelo reconhecimento dos servidores como parte dessa evolução", finaliza a diretora.

Matheus Junqueira Harder, que chegou a ser treinador do menino e hoje medalhista olímpico César Cielo, trocou as piscinas e a profissão de professor de Educação Física pela Justiça do Trabalho. "Não lembro muito bem o ano mais acho que foi em 1999 ou 2000 quando passei por Santa Bárbara D'Oeste e conheci César. Ele tinha entre 12 e 13 anos e eu atuava na escolinha de Natação. Trabalhei com ele por volta de uns dois meses. Logo já passou para a equipe principal, pois naquela época já tinha um grande talento", relembra.

Atualmente na direção de secretaria da 3ª VT, Matheus sente-se satisfeito e recompensado em saber que pode contribuir para uma sociedade melhor, buscando executar um bom trabalho, com celeridade e presteza. "Nossa atividade é muito importante para a população que confia em nós, então não podemos deixar que essa confiança se acabe devendo nos lembrar que a maioria dessas pessoas que buscam a Justiça está desempregada e desamparada. Devemos sempre dar o nosso melhor". Embora na JT desde 2002, Matheus não abandonou a prática esportiva e ainda dedica-se à natação durante a semana, sempre antes de ir para a VT.

"O TRT sempre foi extensão de minha casa". A afirmação é de Luiz Paolieri Neto, diretor de Serviço de Distribuição dos Feitos, filho do desembargador do Trabalho Luiz Carlos Diehl Paolieri e bisneto do advogado e jornalista Jacob Diehl Netto, figura emblemática e tradicional do cenário jurídico piracicabano e paulista, que dá nome ao Fórum Trabalhista. "Doutor Jacob", como era conhecido, concluiu a faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1914. Advogou em prol dos trabalhadores, das causas ambientais e foi combatente na Revolução Constitucionalista de 1932. "Meu bisavô era defensor do rio Piracicaba e enfrentou as forças da indústria agro-açucareira por não se conformar com a degradação da natureza. Por isso, lhe atribuíram o título de Advogado dos Peixes", relembra Luiz, com muito orgulho de ter podido conviver com o Doutor Jacob na infância.

Com estas grandes referências, Luiz acabou por cursar Direito na UNIMEP e chegou a atuar como advogado na área criminal, mas não gostava muito. Sua vida profissional no TRT teve início em 1990, o que motivou-o a prestar concurso público posteriormente. Somente em Piracicaba são 16 anos de dedicação. "Acredito que, de todas as coisas que podemos conceber neste mundo, o mais importante é ter caráter e boa vontade", avalia.

As flores que estão no canteiro

Um canteiro repleto de rosas vermelhas chama a atenção dos jurisdicionados e das partes que frequentam o Fórum Trabalhista localizado na rua João Pedro Correa, no Jardim Santa Terezinha. Iniciativa do desembargador Luiz Antonio Lazarim, que exerceu o cargo de juiz titular da 2ª JCJ (atual VT) no período de 1989 a 1998, o canteiro recebe cuidados diários e olhos atentos de Luiz Paolieri, que também é aficionado por plantas e jardins. Caso pitoresco envolve ainda dois cachorros – Tonico e Pretinha – que foram praticamente adotados por servidores e pela OAB. Todos se unem para providenciar alimentação e preservar a saúde dos dois animais.

A Justiça de Trabalho em Piracicaba data de 19 de janeiro de 1963, quando se deu a instalação da primeira Junta de Conciliação e Julgamento (JCJ), sob jurisdição do TRT da 2ª Região (SP). Atualmente, as três varas do trabalho e o serviço de Distribuição dos Feitos abrangem, além de Piracicaba, mais cinco municípios: Saltinho, Águas de São Pedro, Santa Maria da Serra, Charqueada e São Pedro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), juntos as cidades somam uma população de 426.500 pessoas (Censo/2010). No próximo mês, as unidades judiciárias implantarão o Processo Judicial Eletrônico (PJe-JT), que irá agilizar a tramitação dos processos.

Em tupi-guarani: lugar onde o peixe para

Dizem os moradores da freguesia de Piracicaba que, tendo a felicidade de ocuparem o terreno mais fértil conhecido e de verem cada dia aumentar o número dos cultivadores, achando-se já levantados dezoito engenhos de cana-de-açúcar e mais 12 em disposição de se levantarem, com 22 fazendas de criar (...). Enquanto não houver naquela freguesia justiça que faça observar  asbenéficas leis e mantenha sossego público, o que jamais se poderá obter sem que seja erigida em vila. O texto – extraído do documento original elaborado pelos moradores em 17 de junho de 1816, solicitando a elevação da freguesia em Vila – revela indícios do potencial produtivo daquela região já no início do século XIX. A solicitação ocorreu, vias de fato, em 1821. O lugarejo, fundado em 1767, já era habitado pelos índios Paiaguás que batizaram-no de pirá (peixe), syk (chegar, parar) e aba (lugar), referindo-se às quedas do Rio Piracicaba, que bloqueiam a migração (piracema) dos peixes. Em 1881, o município já ostentava o maior engenho de cana-de-açúcar do país, construído para substituir o trabalho escravo pelo assalariado e pela mecanização. O chamado Engenho Central é hoje patrimônio histórico e importante espaço cultural, artístico e recreativo de Piracicaba. Apesar de ter vivenciado períodos de crise, a cidade se mantém como um dos maiores polos de produção de açúcar e álcool, além de contar com importante centro industrial e universidades de renome, como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP), o campus de Odontologia da Unicamp e a Unimep. (Fontes: Prefeitura e Câmara Municipal de Piracicaba, IBGE, site IndicaPira).

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