VT de São Joaquim da Barra recebe Grupo Móvel da Presidência

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Por Ana Claudia de Siqueira e Matheus Zampa

As mesas são dispostas de forma harmônica, uma em frente da outra, permitindo uma maior interação entre os servidores, comandados pela juíza Andreia Alves de Oliveira Gomide e pelo diretor de secretaria Alexandre Ivan de Souza. Os processos trabalhistas ocupam as prateleiras em parte do salão, com o objetivo de facilitar a consulta e o manuseio. Bandeirinhas coloridas penduradas no hall de entrada e nas dependências internas indicam que ali, há alguns dias, haviam ocorrido festividades juninas. Uma divisória de madeira, transformada em painel, guarda os inúmeros momentos vivenciados pela Vara do Trabalho de São Joaquim da Barra: confraternizações, comemorações e visitas de servidores do TRT, juízes e desembargadores. A presença do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP) no dia 3 de julho também foi registrada e deve integrar o mosaico de fotografias.

Entre as imagens e bandeirinhas, encontra-se ainda um ofício da Corregedoria Regional. A VT de São Joaquim da Barra apresentou variação positiva no mapeamento global de desempenho e recebeu elogios aos esforços empreendidos. O bom clima organizacional refletiu-se nas dinâmicas propostas pelo GMP. A análise dos indicadores de qualidade de vida relacionados ao trabalho e ao relacionamento do gestor e da equipe apontou um ambiente bastante amigável na VT de São Joaquim.

Estresse

Durante sua intervenção com os servidores e a juíza Andreia, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira discorreu sobre o estresse. "Trata-se de um conjunto de respostas orgânicas, que ocorrem diante de eventos ameaçadores do equilíbrio do organismo, sejam eles estressores físicos ou psíquicos. Podemos dizer que é um mecanismo absolutamente saudável de nosso corpo. O problema ocorre quando os agentes estressores se mantêm ou intensificam ao longo de um tempo e adoecemos", esclareceu ela ao grupo. Segundo a psicóloga, o estresse está dividido em quatro estágios: de alerta (a fase positiva, quando o ser humano automaticamente se prepara para a ação), de resistência (fase de alerta prolongada), de quase-exaustão (a tensão excede o limite do gerenciável e a resistência física e emocional começa a quebrar) e a fase de exaustão (o organismo se rende aos efeitos do estresse, o que leva à instalação de doenças físicas ou psíquicas de maior gravidade).

Dentre as 52 unidades já visitadas pelo GMP, de fevereiro a julho (somam-se aqui, varas, serviços de Distribuição, postos, centrais de Mandados e ambulatórios médicos), a VT de São Joaquim da Barra foi a que apresentou a menor incidência percentual de indicadores de estresse. "Um dos motivos de nossa produtividade são os momentos de confraternização", justifica a servidora Julia Cintra. Formada em Direito pela Faculdade de Franca (FDF) e com curso de pós-graduação, Julia foi aprovada no concurso público de 2009 e atuou no Posto Avançado de Morro Agudo por três meses, antes de se estabelecer em São Joaquim, onde trabalha como assistente da juíza Andreia. "Nosso ambiente de trabalho é descontraído e adoramos reuniões na cozinha, onde fazemos diversas comidas e guloseimas, o que nos permite manter um ótimo ambiente, um verdadeiro clima familiar", ressalta.

Até mesmo o café, passado na hora e servido "na bica" – como gosta de se referir o "barista" oficial da unidade, Marco Polo Trindade – gera a pausa, o bate-papo e onde também surgem as soluções para as demandas de trabalho. De perfil agregador, Trindade é executante e atua na VT há mais de 10 anos.

"Rasguei um lugar no mundo"

Trinta de abril de 1999. Ao mencionar a data, a servidora Sandra Teixeira se transporta para aquele momento em que esteve diante da sede do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Seus olhos "dizem" e "sorriem" a partir das lembranças revisitadas do dia de sua posse. Ali tudo mudou. São 14 anos na Justiça do Trabalho, seis deles na VT de Ituverava e o restante em São Joaquim da Barra. Reformou a casa de sua mãe, deu um carro 0 km para o seu pai. Viajou para Nova Iorque, Paris, Madri, Lisboa, Berlim. Casou-se e teve três filhos (duas meninas e um menino). "Não é carreira, nem ‘status'. É um sonho que se realizou", enfatiza.

Sandra costuma dizer que "rasgou um lugar no mundo". A infância foi forçosamente trocada pelo trabalho na lavoura, em Guará, na região de Ribeirão Preto, na década de 1980. Menina pobre e negra, fazia a colheita de algodão e café para ajudar a família. Foi, por muitas vezes, vítima do preconceito. "Certo dia, debaixo de sol quente, fiz a parada para o almoço e encontrei pedras na marmita", relembra entre risos e sem sinal de ressentimento. "A pobreza é difícil, mas a ignorância é pior", complementa.

Ainda na adolescência, lançou seus olhos indagadores à avó e à mãe, prometendo a si mesma, que não teria o mesmo destino. "O meu único caminho era o estudo", conta. As aulas foram frequentadas em escola pública, no período noturno. Mas Sandra revela que estudou em instituição particular "por tabela" ao fazer as tarefas dos filhos dos ricos agricultores e "devorar" as apostilas deles. Era excelente aluna e sonhava em ser oficial de Justiça.

Em 1991, com o ensino médio finalizado, prestou seu primeiro concurso, para a polícia civil. Passou em primeiro lugar e "viciou". Ao longo dos anos foram 32, garantindo classificação em 16 deles e gabaritando em quatro exames. Sandra estudou Direito na Faculdade de Franca, ao mesmo tempo em que sustentava a família e cuidava dos quatro sobrinhos. "Nesse período tinha apenas uma calça marrom, um vestido e uma sapato plataforma. Não podia comer nem pastel na faculdade e precisava tirar boas notas para garantir desconto. Fiz faxina, vendi carnê do baú, bijuterias e roupas usadas que ganhava dos amigos. Estas eu colocava na bicicleta e ia oferecer para as pessoas da roça. Fazia o maior sucesso", recorda.

Sandra trabalhou na Polícia Civil de Cajuru e frequentava uma padaria perto da Vara do Trabalho do município. Ficou sabendo ali que naquele ano de 1998 seria realizado concurso público para o TRT da 15ª Região. Temendo a matemática, mas já com muita experiência em exames do gênero, Sandra estudou e foi aprovada. O sonho daquela adolescente iria, enfim, se tornar realidade. O amor pela profissão se traduz em desempenho. "Até caixão já penhorei", revela, entre gargalhadas.

Sandra é pós-graduada em Direito e atualmente está estudando música. Além da cena que sempre revive – a de estar diante do TRT para a posse – e do fato de ser mãe, Sandra cita ainda um outro momento marcante de sua vida. "Cansei de ter todos os meus antepassados na senzala e fiz questão de visitar uma. Doeu muito, mas só reforçou aquilo que me propus a fazer, mudar a minha história". Ali, a frase costumeira utilizada por ela, mais uma vez, se concretiza. Sandra definitivamente rasgou seu lugar no mundo.

Capão do Meio, pouso de viajantes e tropeiros

Tudo começou na região conhecida como "Capão do Meio", local de pouso de tropeiros e viajantes no percurso entre Ipuã e Nuporanga. A terra roxa e fértil atraiu mineiros. Alguns moradores que viviam em áreas mais dispersas resolveram montar uma comissão para angariar fundos, visando adquirir grandes pedaços de terra e fundar um povoado. Em 1895, José Esteves Lima comprou uma área situada na fazenda São Joaquim e em 1898 formalizou a doação. Nesse ínterim, foi construída a primeira casa de comércio na estrada que ligava Batatais a Ipuã. A capela surgiu em 1901. A chegada dos trilhos da Companhia Mogiana impulsionou o crescimento do lugar. Foi elevado a categoria de município em 1917. Por conta da Lei Federal de 1944, que não permitia duas localidades com a mesma nomenclatura, foi acrescido "Barra" para nominar o município, inspirado no córrego mais importante da região.

A VT de São Joaquim da Barra atende também o município de Ipuã. As duas localidades possuem, somadas, cerca de 60 mil habitantes. A unidade registrou, em 2012, uma movimentação de 1.907 processos recebidos e 2.235 solucionados, restando em dezembro o saldo de 1.018 ações em trâmite, na fase de conhecimento.

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