“Anos Incríveis”: em São Sebastião, servidores relembram experiências extraordinárias do passado

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 Por Luiz Manoel Guimarães
Colaborou Leticia Boaretto

A Vara do Trabalho (VT) de São Sebastião, que atende também a vizinha Ilhabela, totalizando mais de 110 mil jurisdicionados, está localizada no nº 55 da Alameda Vereador Mário Olegário Leite, a poucos passos do Centro histórico do município, com seu casario antigo, ainda do Brasil colonial. A cidade, aliás, fundada em 16 de março de 1636, é a mais antiga do litoral norte paulista e se destaca economicamente pelo seu porto. Segundo informações da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), só em 2012 (dados mais recentes) o terminal movimentou 878.317 toneladas de mercadorias, 31,2% a mais do que no ano anterior.

A VT recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, como um canal direto de comunicação entre as unidades visitadas e a Presidência do Tribunal. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o Grupo tem por objetivo identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento.

Além disso, com a criação do GMP, o desembargador Cooper almeja também proporcionar aos servidores da JT da 15ª a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A ideia é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, dar um rosto àqueles que, até então, distribuídos por mais de cem cidades do interior paulista ou dos litorais norte e sul do estado, eram apenas números.

Essa tarefa, no entanto, nem sempre é fácil. Por timidez ou humildade, os servidores, em geral, se abstêm de falar num primeiro momento. Aos poucos, no entanto, eles se dão conta das histórias preciosas que têm para revelar. Afinal, quantos de nós podemos incluir no currículo, por exemplo, ter sido treinador de Neymar?

Pupilo célebre

Quem pode, no caso, é o oficial de justiça Sérgio Matos Chaves de Oliveira Braga, servidor da 15ª há mais de oito anos, sempre na VT de São Sebastião. Nascido em Santos, ele foi atleta de futsal do Clube Internacional de Regatas, o "vermelhinho da ponta da praia", agremiação santista que vai comemorar seu 116º aniversário no próximo 24 de maio – é 14 anos mais antigo do que o rival famoso da Vila Belmiro.

Em 1998, Sérgio tornou-se assistente de Fino, treinador do pré-mirim do futsal do Internacional, para meninos de 10 anos de idade. Os nomes de algumas categorias da época, aliás, são um capítulo à parte: a "chupetinha", por exemplo, reunia pimpolhos de apenas seis anos, a "mamadeira" dizia respeito aos atletas de sete, e os cavalheiros um ano mais velhos integravam a "fraldinha".

Já no ano seguinte, 1999, Sérgio assumiu o comando do mirim do clube, passando a treinar a turma de 12 anos. O sucesso foi imediato. Chegou a ser bicampeão estadual pelo clube, aí já como treinador da série ouro, o sub-15, para meninos de até 14 anos, com direito a goleada de 5 a 1 sobre o Corinthians – o campeonato incluía os grandes clubes da capital, num total de 32 equipes.

Não demorou para o Santos contratá-lo para treinar o sub-13 de seu futsal. Em 2004, Sérgio chegava ao clube de Pelé junto com um menino de apenas 12 anos, franzino e de cabeça raspada: Neymar da Silva Santos Júnior, com direito a Santos até no nome. Por dois anos, Sérgio comandou o jogador que se tornaria o maior nome do futebol brasileiro nos últimos tempos. "Ele já era muito badalado. Diziam que seria o novo Robinho", lembra o servidor, recordando as previsões para o futuro do craque, em tempos de Santos campeão brasileiro com Robinho brilhando no time.

Além do atual camisa 11 do Barcelona, Sérgio também treinou, ainda nos tempos do Internacional santista, o atacante Léo Baptistão, do Atlético de Madrid, atualmente emprestado ao Bétis, de Sevilla. Graças à amizade de seu pai com o lendário Luís Pereira, zagueiro que brilhou no Palmeiras, na Seleção Brasileira e no próprio Atlético de Madrid nos anos 1970, Léo conseguiu um teste no Getafe, da cidade espanhola de mesmo nome, e daí foi para o Rayo Vallecano, outro time madrilenho. Lá ele se destacou, chamando a atenção do segundo maior clube da capital do país, rival histórico do poderoso Real de Cristiano Ronaldo. Reserva dos craques David Villa e Diego Costa no Atlético, no entanto, Léo, de apenas 21 anos, acabou não se firmando no time e tem agora no Bétis uma nova oportunidade. "Falo sempre com o Léo", diz Sérgio. "Ele me chama de mestre", observa o oficial de justiça, orgulhoso. O rol de pupilos inclui ainda Rodrigo Hirochi, profissional do futebol de salão no Catar, e os irmãos Daniel e Renan Pizzo, que brilham no futsal da Itália – Renan, inclusive, já foi convocado para a seleção italiana (os dois têm dupla cidadania).

O ápice da carreira de Sérgio como treinador ocorreu em 2006, 2008 e 2011, anos em que ele foi campeão estadual invicto pela seleção de futsal da cidade de Santos. Embora não incluísse o time da capital do estado, o torneio reunia 24 escretes municipais. Nessa época, Sérgio treinou Gabriel, o Gabigol, e Neilton, atacantes da novíssima geração do Santos. Em 2008, eleito o melhor treinador de futsal da temporada no Estado de São Paulo, chegou a ser cogitado para treinar a seleção estadual e foi sondado pelo São Paulo para assumir o comando do futebol de salão do clube. A segurança do emprego público na JT falou mais alto, no entanto, e Sérgio encerrou a carreira de técnico.

Uma vida na música

E quantos de nós podemos dizer que, na infância, acordavam ao som de Jamelão cantando "Matriz ou filial", clássico de Lúcio Cardim, de 1964? Essa quem viveu foi Renata Aparecida Pasquatti, que, aos domingos, na chácara da família em Anastácio (MS), região de Aquidauana, na "entrada" do Pantanal, despertava às seis da manhã com a voz potente do mangueirense ilustre, para muitos o maior intérprete de samba-enredo de todos os tempos. "Meu pai é fã de Jamelão", explica Renata, "denunciando" a estripulia de "seu" Ronaldo Pasquatti, um ex-jogador de futebol que chegou a alinhar no Esporte Clube Comercial, de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. "Minha bagagem, na viagem para a chácara, era a vitrola de seis pilhas e os discos", lembra Renata.

Ela faz parte há quatro anos da equipe da VT de São Sebastião, tendo passado também pela unidade de Ubatuba e pelo Fórum Trabalhista de Taubaté. Formada em serviço social pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), onde também foi servidora, Renata integrou o coral da instituição de ensino, em 2005, atividade que passaria a fazer parte de seu cotidiano. Dois anos mais tarde, quando já era servidora da VT de Ubatuba, ingressou no coro da cidade, onde reside, por sinal, e não saiu mais. O mesmo se deu em relação ao Coral Municipal Sinésio Pinheiro, de São Sebastião, do qual Renata faz parte desde maio de 2009. O grupo está classificado para a finalíssima (na capital, em data ainda a ser definida) da edição 2013-2014 do Mapa Cultural Paulista, concurso que reúne corais de todo o estado. Na fase regional, em 15 de novembro passado, na cidade de São Bento do Sapucaí, o Coral de São Sebastião disputou a vaga com coros de 39 municípios da região de São José dos Campos. O outro selecionado na ocasião foi o Coral Jovem Municipal Apparecendo, de Aparecida.

O gosto pelo canto Renata atribui, entre outras coisas, à formação musical trazida de casa desde criança. Chorinhos e boleros, por exemplo, fizeram parte da trilha sonora de sua infância e adolescência, que, junto com Jamelão, naturalmente, incluía nomes como o americano de origem mexicana Trini Lopez, do megasucesso La Bamba, além de Nelson Gonçalves, Altemar Dutra e Martinho da Vila, entre outros. The Ray Conniff Orchestra também não podia faltar. "Meu pai tinha um gosto muito eclético", salienta Renata. Mas, e Roberto Carlos? "Minha mãe, Dona Dirce, tinha a coleção completa", lembra a servidora.

Quanto ao futuro, Renata, a menos de quatro anos de se aposentar, não faz por menos: "Vou fazer parte do grupo de André Rieu", profetiza a soprano, referindo-se ao violinista e regente holandês que é sucesso em dezenas de países. "Duas brasileiras já estão lá e eu vou me juntar a elas", ratifica. "Nem que eu comece passando a roupa delas", brinca a servidora, que, além de cantora, também é "jipeira" de carteirinha. "Meu Willys 1961 está sempre me esperando lá no Mato Grosso do Sul."

Aonde o povo está

E quem já montou uma banda de garagem? Essa até que não é tão rara assim, mas, para Marcos José Moreira, muito embora sua "garage band" não tenha ido além dos limites de seus locais de ensaio, a exemplo de quase todas as empreitadas do gênero, o sonho de ser músico foi vivido intensamente.

Nascido em São José dos Campos, casado há 10 anos com Maria Fernanda e há 11 na JT da 15ª (a serem completados no próximo dia 19), Marcos, em 1992, ainda um pirralho de 15 anos, trocou sua caloi cruiser por um contrabaixo. "Ordinário. Mal saía som." O irmão André comprou uma guitarra, e Pablo, amigo da dupla, uma bateria. Pronto: estava formado mais um grupo de candidatos ao sucesso. Foram três anos ensaiando na garagem dos pais, mas André e Pablo logo abandonariam o sonho.

Marcos, ao contrário, até então um autodidata, aos 18 anos começou a estudar música em conservatório e com professores particulares. "Isso começou a me abrir as portas", recorda ele, que, em 1998, tornou-se um dos dez integrantes da banda Vida Reluz, de música católica. "Caí na estrada com os caras e conheci o Brasil inteiro. Fizemos apresentações em mais de 200 cidades do País."

Doze anos e cinco CDs lançados depois, além de um DVD ao vivo – gravado em 2005, no Teatro da TV Gazeta, em São Paulo –, e Marcos deixaria o grupo. "Chegou meu tempo", diz ele. "Já não havia mais a alegria do começo." As lembranças, no entanto, são doces. "As pessoas me pediam autógrafo. Eu me sentia um popstar", resgata o baixista.

Marcos saiu da Vida Reluz, mas não da música. Nos últimos anos, ele tem se apresentado na noite de São Sebastião com sua nova banda, sugestivamente chamada de Sem Registro.

Santana na pista

Já o barato de Priscilla Santana é correr. Nascida em Tremembé, município vizinho a Taubaté, ela completa nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, apenas dois anos como servidora da JT da 15ª, mas já passou pelos Ministérios Públicos Estadual, no qual foi oficial de promotoria, em Caraguatatuba, e Federal, em São Paulo.

O cargo de servidora do Judiciário a fez se render à faculdade de direito, que Priscilla começou em 2013, junto com o colega Marcos Moreira. Todavia, formada em educação física, ela não abre mão de dar um "chega pra lá" no sedentarismo. A JT a levou de volta ao litoral e ao grupo "Pé N'Areia", que participa de corridas de rua. Nele, além de Marcos, Priscilla conta também com a companhia do oficial de justiça Sérgio Braga. "Montamos o grupo com mais alguns amigos para a edição 2013 da Corrida da Independência de São Sebastião, prova tradicional na cidade e que é disputada no 7 de setembro. São sete quilômetros, parte deles na orla, e a paisagem ajuda a completar o percurso", explica a servidora. "Desde então, não paramos mais."

Só em 2013 Priscilla disputou cerca de 10 corridas. No fim do ano anterior, junto com o marido, Seizo, participou pela primeira vez da São Silvestre, nas ruas da capital, completando os 15 quilômetros em aproximadamente 1h50. Além disso, os treinos incluem de 20 a 30 quilômetros de corrida por semana e natação. "Toda essa atividade alivia o estresse e me dá muita confiança. Se consigo vencer 10 quilômetros debaixo de sol, posso fazer tudo a que eu me proponha, desde que eu me prepare para isso", sublinha Priscilla.

Berimbau em Genebra

Alguém aí já foi babá de cachorro e já tocou berimbau no metrô de Genebra? Maria Lúcia Duarte Gavião sim.

Uma itapetingana (de Itapetininga) que foi parar no litoral, servidora da 15ª desde 2002, Maria Lúcia foi ainda muito jovem com amigos para a Europa, onde morou por um ano, entre 1986 e 1987, em Lausanne e Genebra, na Suíça francesa. Na maior parte desse tempo, trabalhou como garçonete, mas foi lá que ela viveu a experiência de cuidar de uma "doce" criatura de quatro patas. "Eu o levava para passear, porque a sua dona já não conseguia mais fazê-lo." Explica-se: estamos falando de um dogue alemão, ou dinamarquês, que, por mais que tenha temperamento calmo e equilibrado, como garantem os conhecedores de cães, é um gigante que pode passar dos cem quilos e atingir mais de dois metros de altura de pé sobre as patas traseiras, características que fazem da raça uma frequentadora assídua do Guiness, o Livro dos Recordes. "Na verdade era ele que me levava", diverte-se a servidora.

Tocando berimbau no metrô da cidade que, entre outras coisas, sedia a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), além de ser a sede europeia da ONU, Maria Lúcia "encheu o chapéu" em apenas uma hora, conforme ela garante. "Foi um tempo de muita aventura."

De volta ao Brasil, em 1988 foi contratada pela Iberia Linhas Aéreas, tornando-se a primeira mulher a fazer parte da equipe de vendas da companhia no País, recorda ela. "Fiquei lá três anos, em São Paulo, capital. Foi uma oportunidade de viajar novamente. Conheci Londres, a Disney e o Algarve, no sul de Portugal, entre outros lugares."

Dez anos depois, finalmente ingressou no serviço público, como servidora do Tribunal de Justiça de São Paulo. Nessa época, morava em Jundiaí e trabalhava no Fórum da Justiça Estadual do município de Campo Limpo Paulista, a cerca de 25 quilômetros de casa. Novo concurso a levou em 2002, enfim, à JT da 15ª, lá mesmo em Campo Limpo, na VT local, onde trabalhou por outros três anos. Mais um período no Fórum Trabalhista de Jundiaí, outro na VT de Itatiba e, em 2007, a "cigana" Maria Lúcia iria para Caraguatatuba, onde, seduzida pela qualidade de vida do litoral, mora até hoje, na companhia de sua vira-lata Zuca. "Maravilhosa!", sublinha Maria Lúcia, corujona. Da equipe da VT da cidade, no entanto, fez parte até 2011, ano em que se transferiu para São Sebastião.

"Fui muito bem recebida aqui. Senti-me valorizada", enfatiza a servidora, para quem a viagem de meia hora entre a casa e o trabalho está valendo a pena. "Workaholic" confessa – "às vezes trabalho nos finais de semana etc." –, Maria Lúcia, atualmente na função de assistente de cálculos, afirma que procura enxergar o trabalho além da tarefa em si. "Independentemente de metas a cumprir, eu procuro sempre fazer o meu melhor. Quando estou trabalhando num processo, tento ter sempre em mente que alguém trabalhou e não recebeu tudo o que lhe era devido."

Vida em família

Prestes a completar 20 anos como servidora da Justiça do Trabalho da 15ª Região, em 20 de abril próximo, Hellen Cortez Pereira dos Santos, de sobrenome que mescla o conquistador espanhol que derrotou o Império Azteca ao diretor de cinema, do clássico Vidas Secas, é a diretora da secretaria da VT de São Sebastião. O começo de carreira foi em São José dos Campos, na 3ª VT local, sob a batuta do desembargador Cooper, à época juiz presidente da unidade.

Sua experiência profissional, no entanto, é eclética. Quando cursava direito, estagiava durante o dia e, da noite para a madrugada, mais precisamente das 21h às 3h da manhã seguinte, era digitadora de matérias no jornal Valeparaibano. Essa foi a sua rotina nos três anos e meio anteriores ao seu ingresso na JT. Trabalhou também no IBGE, contratada temporariamente para o Censo de 1990, e foi servidora da Secretaria Estadual de Saúde por nove meses. Já na JT, exerceu as funções de assistente de diretor e assistente de juiz antes de, em 24 de junho passado, Dia de São João, assumir seu atual posto. A data coincide também com o aniversário do caçula de Hellen, Thiago, de 11 anos. Matheus, o primogênito, nascido no Dia da Abolição, faz 15 este ano. O "terceiro" homem da casa, Esdras, também não fica fora das citações da servidora, que lembra de imediato o dia do aniversário do maridão: 29 de novembro. A família se completa com Luck, o Golden Retriever xodozão de Hellen.

Quando pergunto se a mudança lhe causou "um friozinho na barriga", ela não faz por menos. "Um só não... Passei do período de experiência há pouco tempo", brinca. No entanto, o bom relacionamento com os colegas de equipe e a qualidade do "time", afirma Hellen, têm ajudado a superar as dificuldades inerentes ao exercício da direção. "Como em qualquer família, de vez em quando acontece uma rusga, mas o pessoal é realmente muito bem disposto, com muita vontade de trabalhar", afirma a diretora, que também se sentiu muito bem recebida ao "desembarcar" na VT de São Sebastião.

Disposição, aliás, é o que não parece faltar a essa mato-grossense-do-sul, nascida em Campo Grande. Morando a cinco quilômetros do trabalho, ela vence esse trajeto todos os dias de bicicleta. "Estou realizando esse sonho", comemora Hellen, que não dispensa o capacete vermelho, o farol e outros acessórios de segurança em sua "magrela". Os colegas Sérgio e Marcos, por sinal, já seguem o exemplo da chefe. O primeiro "desenterrou" a bike esquecida, e o outro foi além, comprando a bicicleta que até então nem tinha.

Anjo da guarda de pinguim

E quantos de nós já resgatou um pinguim? A paulistana Paula Baptista de Souza, assistente da juíza titular da unidade, Lúcia Zimmermann, protagonizou essa aventura. Na JT da 15ª há pouco mais de cinco anos, e a dois meses de completar quatro anos na VT de São Sebastião, ela trocou Limeira pelo litoral pela mais imediata das razões: "Adoro praia".

Seu dia a dia começa às 5 da manhã, para um passeio de 15 minutos com Xaiane e Serena, suas adoradas vira-latas. Das 6 às 6h50, são sete quilômetros de corrida, todos os dias, garante Paula, que também faz parte do "Pé N'Areia". "Comecei a correr em 2002, em meio a uma crise de depressão, após perder o emprego", lembra ela, que viu a vida sofrer uma guinada graças à atividade física constante. "Reflete totalmente no meu dia." Como disposição pouca é bobagem, Paula também faz ginástica localizada e está aprendendo a jogar tênis.

E foi numa de suas corridas, em 2011, na Praia de Barequeçaba, que Paula avistou dois vultos na areia, logo no início do percurso, por volta das 6 da manhã. A princípio, julgou que se tratava de dois peixes, mas, ao se aproximar, viu que eram na verdade dois pinguins. Um já não dava sinais de vida, mas o outro ainda se mexia. Por experiência própria – isso mesmo, ela já havia resgatado outro pinguim no ano anterior, mas o animal acabou morrendo no carro, a caminho da Polícia Militar Ambiental –, Paula sabia que precisava agir rapidamente. Sem pensar duas vezes, tomou a ave nos braços e correu para o carro, tomando o cuidado de mantê-la aquecida – ao contrário do senso comum, explica a servidora, que após o primeiro caso procurou se informar a respeito, cercar o pinguim de gelo nessas circunstâncias é pô-lo em sério risco de vida.

Por sorte, diferentemente do primeiro animal que Paula tentou salvar, este estava bem. "Muito bem, por sinal", diverte-se a servidora, que, ao longo dos nove quilômetros até a PM Ambiental, na Praia de São Francisco, teve de se defender das bicadas do pinguim. Desinformado das nobres intenções de sua salvadora, ele "gritava e bicava tudo a que tinha direito, principalmente o meu braço", lembra Paula. Por outro lado, se o animal se aquietava, ela, temendo pela vida de seu resgatado, passava a lhe repetir: "Não morre! Não morre!". Era o que bastava para começar toda a confusão de novo.

Ao chegar ao seu destino, a primeira coisa que ela viu o policial que a recebeu fazer foi providenciar uma caixa para colocar o animal. "Eles são muito bravos", justificou o PM. "‘Tô' sabendo", emendou Paula.

A servidora não teve mais notícias do pinguim, mas acredita que ele tenha sobrevivido. "Deve ter sido levado para Ubatuba, onde normalmente são soltos de volta ao mar", estima. "Fiquei com um ‘roxo' por uma semana no braço, mas faria de novo."

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