Cine Pipoca exibe “O dia que durou 21 anos”

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 Por Ademar Lopes Junior

Coordenada pela desembargadora Maria Madalena de Oliveira, a terceira edição do Cine Pipoca, nesta quinta-feira, 24/4, na Escola Judicial do TRT-15, apresentou a um público seleto o filme-documentário "O dia que durou 21 anos". Dentre os participantes que prestigiaram o evento, estava o desembargador Lorival Ferreira dos Santos, que destacou a importância do tema do filme, no qual, pela primeira vez, os americanos admitem ter financiado o Golpe Militar de 1964 no Brasil.

A desembargadora Madalena, que se autodenominou uma "cinéfila assumida", disse que sua primeira opção de filme era uma comédia francesa que explora o tema do assédio moral, porém, mudou de ideia, considerando o momento atual por que passa o País, que lembra neste ano os 50 anos da Revolução de 1964.

A magistrada afirmou também que estudou Direito no Largo de São Francisco durante os "anos de chumbo", e rememorou alguns episódios daquela época, como por exemplo, o seu vestibular, em dezembro de 1968, uma semana depois da assinatura do Ato Institucional número 5 (AI 5), instrumento que deu ao regime militar poderes absolutos e cuja primeira consequência foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano. O AI 5 provocou manifestações estudantis e, segundo a desembargadora Madalena, durante sua prova de vestibular, rojões eram atirados dentro das salas, causando pânico e desespero. Madalena também contou um episódio em que, num dia de "pendura", um grupo de estudantes, no qual ela também se encontrava, depois de jantarem num famoso restaurante paulista, na avenida Pamplona, foram levados por soldados do Exército ao Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), órgão de inteligência e repressão do governo, subordinado ao Exército. A denúncia, feita pelo proprietário do restaurante, foi de que os estudantes seriam "terroristas". Dissipado o engano, quando se percebeu a "brincadeira da pendura", todos foram encaminhados ao Quarto Distrito Policial, e de lá, foram encaminhados, por ordem do delegado, de volta ao restaurante, onde comeram sobremesa e tomaram um cafezinho.

As marcas desse tempo, porém, segundo a desembargadora Madalena, não podem ser apagadas, e para quem não viveu aquela época, ela costuma dizer que tudo foi "um pouco pior" e, até por isso, "é importante esse excesso de memórias, para que fatos como os do passado nunca mais aconteçam", concluiu.

Antes da exibição do filme, a coordenadora leu uma dedicatória no livro "Conto como fomos – Juventude de chumbo", feita pela própria autora, a colega desembargadora Maria Cecília Fernandes Álvares Leite. Maria Madalena lembrou que a colega Cecília, e também os desembargadores Gerson Lacerda Pistori e Olga Aida Joaquim Gomieri estudaram no Largo de São Francisco no mesmo período que ela, durante os "anos de chumbo".

O filme

O dia que durou 21 anos é um documentário brasileiro, dirigido por Camilo Galli Tavares, e conta a participação do governo dos Estados Unidos na preparação do Golpe de Estado de 1964, no Brasil.

A história tem início na crise provocada pela deposição do presidente Jânio Quadros, em agosto de 1961, e prossegue até o ano de 1969, com o sequestro do então embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick, por grupos armados. Em troca de sua libertação, 15 presos políticos são soltos e posteriormente banidos do país.

Um dos presos, o jornalista Flávio Tavares, radicado no México, é o pai de Camilo, o cineasta. Seu nome é uma homenagem ao padre católico e guerrilheiro colombiano Camilo Torres, morto em 1966.

O dia que durou 21 anos, produzido pela Pequi Filmes, estreou nos cinemas brasileiros em 29 de março de 2013 e teve também uma versão para televisão, exibida anteriormente, dividida em três episódios de 26 minutos cada. O documentário também foi apresentado em universidades renomadas dos Estados Unidos (Columbia, Massachusetts Institute of Technology [MIT], Yale, Brown e Princeton).

Em outubro de 2013, o documentário foi apresentado no Palácio da Alvorada, em Brasília, com a presença da presidente Dilma Rousseff. A repercussão abriu espaço para que o filme chegasse no mesmo mês a Harvard, onde a Rockfeller Foundation sediou um debate sobre o papel americano durante a ditadura no Brasil, com a participação de professores e estudantes universitários dos Estados Unidos.

"Nós queremos levar consciência ao ninho da serpente", brinca o diretor Camilo Tavares. O objetivo não é só retratar a participação dos presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson, e do embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, na ação militar que deu início à ditadura, há exatos 50 anos. O dia que durou 21 anos também pretende problematizar o modelo político dos Estados Unidos. "Espero que eles reflitam sobre a democracia e sobre o conceito de Freedom, que parece estar sempre relacionado a um viés militar no país", diz Tavares.

O documentário já recebeu o Prêmio Especial do Júri em Festival em Nova York - 29º Long Island Film Festival e o Prêmio Especial do Júri no 22º Arizona International Film Festival, ambos nos Estados Unidos. Na França, recebeu o prêmio de melhor documentário estrangeiro no St. Tropez International Film Festival. Também faturou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, em 2013.

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