De Fernandópolis para o mundo: servidoras da VT da cidade espantam o estresse viajando

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Por Luiz Manoel Guimarães

No último mês de fevereiro, o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, esteve na Vara do Trabalho (VT) de Fernandópolis, no noroeste paulista. O nome da cidade é uma homenagem a Fernando Costa, interventor federal do Estado de São Paulo na época da elevação do lugar à categoria de município, em 1º de janeiro de 1945. A jurisdição da VT inclui ainda outras 12 cidades – Estrela d'Oeste, General Salgado, Guarani d'Oeste, Indiaporã, Macedônia, Meridiano, Mira Estrela, Nova Castilho, Ouroeste, Pedranópolis, São João das Duas Pontes e São João de Iracema –, totalizando cerca de 120 mil pessoas atendidas.

Faz parte da equipe da unidade a oficial de justiça Adenice Ferreira Duarte Rosa, que completa, no próximo dia 1º de junho, notáveis 35 anos de carreira na Justiça do Trabalho, além de outros cinco na Secretaria Estadual de Educação. Formada em ciências contábeis, com pós-graduação em direito do trabalho, Adenice já programou sua aposentadoria para julho deste ano. É do que ela precisa para se dedicar ainda mais àquilo de que mais gosta: viajar.

Porto Seguro, Fortaleza, Natal, Maceió, Aracaju, Porto Alegre e Curitiba estão entre as cidades brasileiras que a servidora já conheceu. Já foi 11 vezes a Gramado, na Serra Gaúcha. Olinda, Manaus e Salvador, por outro lado, são sonhos ainda não realizados.

Nos EUA, além das clássicas Nova Iorque e Miami, a capital do país, Washington, também já recebeu Adenice. Na Europa, foi ao Vaticano, mas, confessa, não viu o Papa. Com parentes em Lisboa e em Castelo Branco, cidade do centro-leste lusitano, percorreu Portugal "de norte a sul, de leste a oeste". Encantou-se com Barcelona, e Veneza foi a città que mais a seduziu na terra de Da Vinci, Michelangelo e, fazer o quê?, Paolo Rossi. Mas seus olhos brilharam mesmo foi na "Cidade Luz". "Tudo em Paris é um sonho", sublinha.

Sem flores no começo

Em suas viagens, Adenice conta frequentemente com a companhia da colega Érica Cagliari, que, no último dia 29 de outubro, completou 20 anos na JT da 15ª, sempre na VT de Fernandópolis. "Vim, gostei e fiquei", resume Érica, para quem o mundo também já não ficou tão grande assim.

O início de carreira, no entanto, foi espinhoso. Ela morava em Votuporanga, a 35 quilômetros de Fernandópolis. No final do expediente, eram mais 135 quilômetros de ônibus, aproximadamente, até Araçatuba, onde cursava a faculdade de direito. O retorno para casa tinha início lá pelas 23h30, e só por volta das 2h30 ou 3 da manhã Érica ia dormir. Levantava às 7, porque duas horas mais tarde já tinha de estar no batente. "Em época de prova, eu ainda estudava antes de ir para a cama", recorda a servidora. "Foi essa a minha rotina por quatro ou cinco anos", completa ela, que há 12 anos mora na própria Fernandópolis.

Seu primeiro emprego foi no Votuporanga Clube, no Departamento de Esportes, organizando competições de tênis, futebol, vôlei e futsal. Saiu de lá para estudar para concursos, decisão que rapidamente se revelaria acertada. Trabalhou na Justiça Estadual, nos cargos de escrevente e oficial de justiça, e, formada em ciências biológicas, resolveu tentar o concurso para analista judiciário da Justiça do Trabalho. O lugar favorito para estudar era "embaixo do pé de manga no fundo do quintal de casa". Funcionou: foi a 2ª colocada no polo de São José do Rio Preto.

Espírito de Indiana Jones

Érica é ainda mais aventureira do que Adenice. Suas viagens incluem roteiros exóticos, como uma incursão pela Floresta Amazônica, num grupo que incluía, além de outro brasileiro, uma coreana, uma polonesa, um argentino e um holandês. "E um japonês que só sabia japonês", lembra a servidora. Para completar a Babel, o guia, de origem indígena, falava muito mal o português.

A odisseia começou de barco, subindo o Rio Amazonas. Viram o espetáculo do Encontro das Águas, na confluência dos Rios Negro, de água escura, e Solimões, de água barrenta. Seguiram abrindo caminho por igarapés, até chegar a um barranco, onde o guia montou um abrigo com uma lona azul e armou as redes em que o grupo iria dormir. Estendeu também um mosquiteiro, recurso imprescindível na Amazônia.

A par do caráter aprazível do lugar, com direito a uma cachoeira próxima, a chuva logo começaria a castigar o acampamento. Tanto que os dois frangos que o guia se pôs a preparar para o jantar, classicamente transpassados por um pedaço de pau e postos pouco acima de uma fogueira, exigiram duas horas para ficarem prontos, porque a chuva teimava em apagar o fogo. Nesse meio-tempo, o guia talhou colheres na madeira e improvisou "pratos" com folhas de bananeira, para dar aos seus companheiros de aventura uma experiência digna de Jim das Selvas, personagem vivido no cinema pelo mítico Johnny Weissmuller. Ao menu foi acrescentado um caldeirão de arroz com os miúdos dos frangos. Em que medida o "tempero da fome" teve influência na avaliação final do cardápio é impossível saber, mas a verdade é que, ao menos para Érica, gastronomicamente falando a ocasião não ficou devendo nada a jantares apreciados em elegantes restaurantes. "O frango estava deliciosamente defumado e derretendo", lembra ela. "Foi o melhor frango defumado que já comi."

Durante a noite, o barulho da chuva na lona embalou o sono de todos. "Foi um passeio incrível", arremata Érica, convicta de que a jornada pela floresta valeu a pena.

No outro extremo, a servidora também não dispensa as grandes cidades, a começar pelo Rio de Janeiro. O pôr do sol no Arpoador, os Arcos da Lapa, o bairro de Santa Teresa, a Confeitaria Colombo, a Biblioteca Nacional e o Teatro Municipal são experiências obrigatórias para quem visita o Rio, recomenda Érica, que adiciona ainda aos encantos da Cidade Maravilhosa o conhecido "jeitão do carioca".

Do que ainda falta ver no Brasil a servidora destaca, além de Recife e Olinda, a paradisíaca praia de Jericoacoara (Ceará), que ela pretende conhecer na próxima Semana Santa. Cita também o Jalapão, badalado roteiro de ecoturismo e turismo de aventura, no Tocantins, a 180 quilômetros da capital, Palmas. O lugar é rico em cachoeiras, rios de águas cristalinas, corredeiras, grandes chapadas e formações rochosas de cores e formas variadas, além de dunas de areia dourada de até 30 metros de altura. Érica inclui ainda como um de seus futuros roteiros os famosos Lençóis Maranhenses, onde dunas ainda maiores, que chegam a 40 metros de altura, intercalam-se com lagoas de água doce cujo tom varia entre o verde e o azul.

Lá fora ela quer ver a Muralha da China, a "efervescência multicultural e a espiritualidade da Índia" e o Japão. O que seduz Érica na Terra do Sol Nascente vai desde as cerejeiras, cuja flor, a sakura, é um dos símbolos do país, até o contraste entre a cultura milenar e a sociedade ultramoderna, permeada por tecnologia de última geração.

Do que já viu no exterior, lembra-se especialmente do Parque Nacional dos Lagos de Plitvice, na Croácia. Trata-se de uma sucessão de bosques, lagos e cascatas que podem ser vistos ao longo de trilhas e passarelas. A cada estação do ano, a flora e a fauna do lugar – que inclui até espécimes do urso-europeu – proporcionam um espetáculo diferente, até mesmo no inverno. Ainda na Croácia, Érica foi conquistada por Dubrovnik, "a pérola do Adriático", com seu centro antigo rodeado por uma muralha de dois quilômetros de extensão, os quais podem ser percorridos a pé, e 25 metros de altura. "Quando penso num lugar bonito, é a imagem que me vem à cabeça", resume a servidora. As duas preciosidades croatas foram, inclusive, erigidas à condição de Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Ainda na Europa, a servidora aponta a Vrtoglavica, a maior caverna do mundo pelo critério de altura contínua, com um abismo de mais de 600 metros. Em duas horas e meia aproximadamente, Érica percorreu os 21 quilômetros de extensão da caverna, em vagões do tipo usado em minas. Outro lugar que lhe deixou muita saudade foi Santorini, na Grécia, com sua arquitetura típica, de casas pintadas de branco, com portas e janelas azuis, e dispostas ao longo de ruas estreitas, sempre com vista para o azul intenso do Mar Egeu.

Érica também ficou maravilhada com o Parque Nacional Torres del Paine, na Patagônia chilena, e com a impressionante visão da geleira Perito Moreno, do lado argentino. "É do tamanho de Buenos Aires", compara. Ainda na Argentina, via Foz do Iguaçu, ela percorreu cerca de 6.500 quilômetros, incluindo parte da Ruta 40, a versão latino-americana da lendária Rota 66 estadunidense. Na terra de nuestros hermanos, gostou particularmente da Quebrada de Humahuaca, vale no noroeste do país, quase na fronteira com a Bolívia, onde se destaca o Cerro de los Siete Colores, colina que exibe um colorido exclusivo, resultado de sua história geológica.

Casal JT

Aparecida Midoli Tagami Lodeti e seu marido, Claudenir Antonio Lodeti, vivem na Justiça do Trabalho, literalmente, um caso de amor. Ambos são servidores da VT de Fernandópolis – ela, secretária de audiência, e ele, calculista – e estão há mais de 20 anos na 15ª Região. Midoli (como é conhecida pelos colegas), aprovada em 2º lugar no concurso de que fez parte, ingressou em fevereiro de 1993, e Claudenir, o 3º colocado, dois meses depois.

Mas a história profissional e afetiva conjunta do casal é muito anterior a isso. Eles se conheceram no ônibus que os levava à faculdade, de Fernandópolis para Votuporanga, onde os dois cursavam administração. Midoli tinha apenas 17, e seu futuro marido, 21. Eram da mesma turma e se formaram juntos, inclusive.

Incentivada por Claudenir, que já na época da faculdade era funcionário da Nossa Caixa, ela fez concurso para a instituição financeira e passou. Foi a primeira experiência dos dois como colegas de trabalho, por pouco mais de três anos. A dupla só se separou por um período relativamente curto (talvez não para eles), antes ainda do início da carreira na JT, quando Midoli, sansei (neta de japoneses), morou por cerca de um ano e meio em Kobe, no Japão, trabalhando numa empresa de refeições prontas. Conseguiu, inclusive, ser promovida da linha de produção para o cargo de auxiliar de laboratório, para trabalhar na análise de amostras. "Tínhamos de verificar se estava tudo ok, sem contaminação", resume ela. "Só assim para a gente se separar", brinca a servidora, cuja ligação com Claudenir se tornou definitivamente forte com a vinda dos filhos Bruno e Fernanda.

Sobre as vantagens e desvantagens de trabalhar junto ao marido, Midoli é enfática: "Eu gosto, é positivo. Temos os mesmos problemas, vivemos a mesma realidade. Isso nos ajuda a nos entendermos melhor e não nos estressarmos." O "lado B" da história vem quando o casal briga em casa. "Aí eu tenho que ver a cara dele aqui no trabalho", diverte-se Midoli, aos risos.

Projeto inédito

O GMP foi criado para ser um canal direto de comunicação das unidades de 1ª instância da 15ª com a Presidência do TRT-15. O Grupo é coordenado pelo juiz Flávio Landi e já visitou, em cerca de um ano de trabalho, mais de cem unidades, entre VTs, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos.

O objetivo principal do projeto é identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento, mas o Grupo pretende também dar aos servidores do TRT a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.

Unidade Responsável:
Comunicação Social