Em Bebedouro, Grupo Móvel da Presidência do TRT conhece servidores amantes do esporte

Conteúdo da Notícia

 Por Luiz Manoel Guimarães

Monte Azul Paulista, Pirangi, Pitangueiras, Taquaral, Terra Roxa e Viradouro completam a jurisdição da Vara do Trabalho (VT) de Bebedouro, município a cerca de 80 quilômetros de Ribeirão Preto. No total, são aproximadamente 175 mil pessoas, segundo números do IBGE.

Entre outras curiosidades, está instalado em Bebedouro o Museu de Armas, Veículos e Máquinas Eduardo André Matarazzo, mais conhecido como Museu do Automóvel, mantido por meio de um convênio com a Prefeitura da cidade. São quase 300 peças, entre automóveis (cerca de 90, a maioria fabricada na primeira metade do século XX), aeronaves (de caças a aviões comerciais de grande porte), locomotivas, motocicletas, carros de combate, motores, aparelhos de comunicação e outros objetos antigos.

A VT de Bebedouro recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre as unidades visitadas e a Presidência do Tribunal. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP visitará, até dezembro de 2014, quando termina a gestão do desembargador Cooper, todas as varas, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos da Justiça do Trabalho da 15ª, identificando demandas e criando oportunidades de aprimoramento.

As dinâmicas aplicadas pelo GMP têm ênfase em indicadores de estresse e qualidade de vida. Os dados levantados pelo Grupo serão submetidos à Comissão de Qualidade de Vida do TRT da 15ª Região, criada em junho deste ano para auxiliar a Presidência do Regional nas iniciativas visando ao bem-estar de magistrados e servidores. Presidida pela desembargadora Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e Moraes, a Comissão é composta também pela desembargadora Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla, pelo juiz Flávio Landi e pelas servidoras Adriana Martorano Amaral Corchetti, diretora-geral substituta do TRT, e Heloísa Helena Mazon Zakia, secretária de Saúde do Tribunal.

Uma vida entre números

O 1º de abril não é só o Dia da Mentira. Nessa data, 20 anos atrás, Marilanda Feijão Courel começou sua carreira como servidora na Justiça do Trabalho da 15ª Região. Com curso técnico de contabilidade e bacharelado em ciências contábeis, além de pós-graduação em direito do trabalho e processo do trabalho, essa bebedourense "da gema" é a assistente de cálculos da VT da cidade. A opção pela área contábil, no entanto, não foi exatamente um sonho de criança, admite Marilanda. "Foi conselho de meu pai", lembra ela. "Mas aos poucos eu fui ‘tomando gosto'."
Aos 15 anos, já trabalhava num escritório de contabilidade, e, quatro anos mais tarde, ingressaria no quadro de servidores da extinta Nossa Caixa. Foram nove anos lá, cinco na área administrativa e o restante na, para muitos, "temida" função de caixa. "Não é tão ruim", garante Marilanda, do alto de sua familiaridade com os números. "O legal é o contato com o público. Eu atendia antigos amigos de escola, professores. Lembro de algumas senhoras, por exemplo, que, ao chegar ao meu caixa, diziam coisas como ‘Ah, eu estava na fila torcendo para ser atendida por você'. E, em nove anos, nunca passei por um assalto."

A Justiça do Trabalho, até então, era uma "ilustre desconhecida", mas houve o concurso em 1990, e Marilanda resolveu tentar. Acabou aprovada na quarta colocação. "A recepção foi muito boa", recorda ela, que foi secretária de audiências por dois anos, antes de assumir a atual função.

O cotidiano de seu trabalho consiste, principalmente, em avaliar os cálculos apresentados pelas partes ou pelo perito, "para saber se as verbas foram apuradas de acordo com o que dispõe a sentença de liquidação". Também auxilia o juiz da VT na análise de eventuais embargos. "De maneira geral, eu atuo como auxiliar do juízo em toda a fase de liquidação e de execução do processo", resume Marilanda, para quem ser assistente de cálculos "é a oportunidade de exercer minha profissão na Justiça do Trabalho".

Em 14 anos na função, completados neste mês de dezembro, a servidora já se deparou com cálculos que chegavam a ser 500% superiores ao valor efetivamente devido. Mas, pondera ela, isso não necessariamente significa má-fé. "O cálculo trabalhista é complexo. Depende dos critérios aplicados, do entendimento do juiz", argumenta. "Isso faz do meu trabalho algo muito estimulante. É um desafio saber que todo dia eu vou contribuir para a efetividade da Justiça nos exatos termos em que isso deve ocorrer. Nem para mais, nem para menos", sublinha Marilanda, que já vê próxima a aposentadoria. "Está programada para janeiro de 2015."

Os planos futuros incluem seguir trabalhando com os números. "Talvez eu faça perícia contábil." Antes, porém, Marilanda pretende "curtir" um ano sabático, para, sobretudo, ficar mais próxima dos filhos Jaqueline, 15 anos, e Leonardo, 12. Amante de viagens e adepta de esportes como rafting (descida em corredeiras em equipe utilizando botes infláveis e equipamentos de segurança), bodyboarding (surfe deitado) e arvorismo, ela pretende ensinar atividades desse tipo aos filhos. "Se desestressa? Com certeza. É uma terapia", garante Marilanda, que exibe como "papel de parede" no monitor do microcomputador uma foto de uma das belas praias de Fernando de Noronha.

Entre o fogo e as cortadas

Outra apaixonada por esportes é Elaine de Souza Lima da Silva. Formada em administração de empresas e servidora há oito anos da JT, Elaine, a exemplo da colega Marilanda, acumula uma experiência anterior significativa no serviço público – por sete anos, foi escrivã de polícia e atuou na Delegacia de Defesa da Mulher de Bebedouro.

Paulistana, ela mora desde os 17 anos na cidade, quando o pai, Orestes de Souza Lima, assumiu o comando do Corpo de Bombeiros local. O homem que, para as outras crianças, era o herói mítico que dia a dia enfrenta o fogo para salvar vidas, para Elaine era o pai, o chefe da família que cotidianamente estava de volta ao lar, após mais um dia de trabalho. "Era natural para nós", afirma ela, incluindo também a irmã, Luciana, nessa forma de encarar a profissão do pai. "Mas no fundo tinha um pouco essa coisa do herói que salva vidas, sim", admite Elaine, permitindo-se revelar a admiração pelo comandante Orestes.
Mais do que poder ver o pai, ao menos em parte, como um homem de carne e osso, ser filha do chefão dos bombeiros também lhe rendeu alguns "privilégios", como, por exemplo, passear num dos venerados caminhões vermelhos, nas festas de final de ano. E foi numa dessas celebrações que Elaine, a essa altura já não tão menina, é bom que se diga, conheceu um certo Nilton César da Silva, também bombeiro (soldado na época, e sargento hoje em dia) e seu futuro marido. Mas que ninguém pense que o fato de ser colega do "sogrão" facilitou a vida do rapaz. "Para chegar em casa não foi fácil", lembra Elaine, sem conter o riso, referindo-se ao clássico momento de "pavor" na vida de muitos namorados: enfrentar o pai de sua amada. "A gente contou com a ajuda de minha mãe, que ‘intermediou' tudo. Foi a dona Carmen que resolveu o problema", conta a servidora, divertindo-se.

Hoje tanto Orestes quanto Nilton já estão na reserva, depois de, respectivamente, 30 e 22 anos de serviço na corporação, mas Elaine ainda lembra de alguns momentos difíceis que ela e sua mãe viveram. Recorda-se particularmente de um incêndio ocorrido no final dos anos 1990, ironicamente na câmara fria de um entreposto da Comfrio, empresa que atua no armazenamento de produtos congelados, a chamada "logística refrigerada", entre outros serviços. A presença de amônia, gás usado na refrigeração em larga escala, tornou a operação especialmente perigosa. Além de tóxica, a substância torna-se inflamável a altas temperaturas. "Era meu pai no comando, o Nilton na linha de frente e eu e minha mãe em casa, rezando", lembra Elaine. "Eles ficaram o dia inteiro trabalhando no resfriamento da câmara, para ela não explodir. Foi preciso evacuar várias casas vizinhas. Depois de tudo, no entanto, ninguém se feriu."

A coragem desses heróis não se manifesta só no combate ao fogo, aliás. Trazer novas vidas à luz também faz parte da rotina. "Meu marido já fez vários partos na unidade de resgate, a caminho do hospital. Foi até homenageado por isso", revela Elaine. "Os bombeiros são treinados para essa ocasiões. Eles têm o ‘kit parto', inclusive", explica.

E o esporte?

O esporte chegou cedo à vida de Elaine. Aos 11 anos ela já era uma promissora jogadora de vôlei, no Clube de Campo Associação Atlética Guapira, em São Paulo, próximo ao célebre bairro do Jaçanã, imortalizado por Adoniran Barbosa no clássico "Trem das Onze". Logo que chegou a Bebedouro, passou a fazer parte do time de vôlei da Associação Atlética Internacional, clube fundado em 1906 e que, a exemplo do famoso homônimo de Porto Alegre, veste as cores vermelha e branca.

Jogou até os 21, quando a faculdade e o casamento se sobrepuseram à paixão pelo esporte que consagrou nomes como Bernard, William, Giba, Giovane e Nalbert, entre tantos outros jogadores do escrete nacional, além, é claro, dos técnicos Bernardinho e José Roberto Guimarães. Mas, passados apenas quatro anos, lá estava ela de volta, e só parou aos 30, justamente quando ingressou na JT. Recentemente, em 2011, fez parte do time sênior de Bebedouro nos Jogos Regionais, promovidos anualmente pela Secretaria Estadual de Esporte, Lazer e Juventude. Conquistaram o 3º lugar, entre oito equipes.
 Quando pergunto se ela definitivamente "pendurou as chuteiras", Elaine titubeia. "Estou vendo se volto, mas falta tempo", reponde ela, com cara de quem, se pudesse, correria naquele mesmo instante para uma quadra. Mas, se por um lado o tempo não lhe tirou a forma esguia, por outro seus atuais 39 anos, que Elaine revela sem pudor, já começam a pesar, e a estatura de 1,70 m, considerada alta em sua juventude, hoje a faria parecer baixinha, perto das atuais profissionais do esporte. A estatura média da Seleção Brasileira feminina atual, por exemplo, é de 1,80 m, e ainda assim é 3 cm inferior à do time que disputou (e venceu) as Olimpíadas de Londres, no ano passado.

Fã de Maurício e Ricardinho ("o levantador é o cérebro do time", diz ela, com conhecimento de causa), Elaine destaca também Carlão, medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992), e Ana Moser, bronze em Atlanta (1996). Um jogo especial? Um não, dois: Pirelli versus Fiat Minas no Ibirapuera, em São Paulo, a que Elaine assistiu "in loco", e a grande final de Barcelona, quando o Brasil derrotou a forte equipe holandesa por 3 a 0. "Não esqueço o ponto decisivo, no saque do Marcelo Negrão."

Oito meses atrás, de tanto ver os treinos do filho, Elaine se tornou também uma praticante do jiu-jitsu. "E já consegui ser graduada", frisa, orgulhosa de seu 3º dan na faixa branca. "É um esporte muito gostoso, de muita força e agilidade, mas também de muita estratégia. É preciso saber a hora certa de encaixar o golpe, e como sair dele também." Mais do que ao físico, no entanto, a nova atividade parece fazer bem ao espírito da servidora. "Eu dou risada, me divirto e tenho feito muitas amizades", comemora Elaine, que, mesmo principiante, já deu uma "chave de braço" no estresse, graças ao jiu-jitsu.

Barnabé 

 "Barnabé", marchinha de Haroldo Barbosa e Antonio Almeida, sucesso do carnaval de 1948 na voz de Emilinha Borba, fazia referência a um certo funcionário que, de tão pouco que ganhava, tinha de "gastar a sola do sapato". "Ai Ai Barnabé / Todo mundo anda de bonde / Só você anda a pé...", dizia a letra. De tão popular que a música se tornou, a expressão acabou virando uma espécie de sinônimo informal de servidor público.

Muito tempo depois, mais precisamente em 2011, outro Barnabé – este "de papel passado", porque Barnabé no nome –, começaria carreira na JT da 15ª. Mas, ao contrário do xará da marchinha, Rafael Vinícius Amaral Barnabé circula muito bem motorizado em sua moto. Hoje com 27 anos, ele curte as duas rodas desde os 16, quando começou a trabalhar.

Se de início as motos foram "uma solução para o meu transporte", conforme lembra Rafael, com o tempo elas se tornaram companheiras inseparáveis do servidor. Tanto que, no próximo mês de fevereiro, em suas férias, ele já programou uma viagem de 10 dias, que fará junto com amigos do Motoclube de Bebedouro. Serão aproximadamente 3.200 quilômetros, passando por Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás, além de várias cidades paulistas. De Bebedouro a São José dos Campos, daí a Teixeira de Freitas, no extremo sul baiano, e em seguida até Brasília, cruzando as Minas Gerais. Da capital federal, o grupo retorna ao ponto inicial, num trecho que inclui Anápolis e Goiânia, entre outros locais.
"Será minha primeira grande viagem, uma fuga da rotina, para desestressar", resume Rafael, que garante não abrir mão do respeito ao limite de velocidade nas estradas e da roupa adequada para pilotar sua moto. Os cuidados tem uma razão: no Brasil, a vida não é fácil para os motociclistas, que têm no perigo um companheiro constante. Mas não por vontade própria, esclarece Rafael. "Muitos motoristas não respeitam as motos", lamenta ele.

As consequências dessa falta de educação no trânsito brasileiro Rafael sentiu na pele, literalmente. Ao passar por um cruzamento em Bebedouro, às 7h30 da manhã, a caminho do trabalho, trafegando a 40 quilômetros por hora, ele foi colhido por um carro que não respeitou a ordem de preferência. "Passou reto no ‘pare' e me acertou na perna. Tive fratura exposta da tíbia e da fíbula." Foram necessárias seis cirurgias e três anos de tratamento para Rafael se recuperar completamente.

O acidente reforçou no servidor a convicção na necessidade de os motociclistas agirem com rigor quando o assunto é segurança. Capacete – "sempre!", frisa ele – e luvas são fundamentais, e jaquetas apropriadas também aumentam significativamente a proteção ao motociclista, ensina Rafael. Além disso, alguns procedimentos são indispensáveis, como, por exemplo, ultrapassar sempre pela esquerda, reforça o servidor. "É preciso manter-se visível o tempo todo, executando a ultrapassagem ou qualquer outra manobra somente com a certeza de estar sendo visto pelos outros condutores", sublinha. "Antes eu contava com o ‘pare' para os outros. Agora, não mais."

Unidade Responsável:
Comunicação Social