Em Cravinhos, uma história de amor com a Justiça do Trabalho, constata Grupo Móvel da Presidência
Na versão mais aceita, Cravinhos, hoje com quase 34 mil habitantes, deve seu nome à flor cravina, espécie de pequeno cravo que seria abundante na região à época do surgimento do lugar, no século 19. A Vara do Trabalho (VT) da cidade, na Rua Manoel Amaro, 119, atende também os municípios de Luís Antônio, São Simão e Serrana, chegando a aproximadamente 105 mil jurisdicionados.
A unidade recebeu a visita do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os participantes são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados, e as conclusões, enviadas a todos os que participaram das atividades.
Outra missão do Grupo é dar aos servidores da Justiça do Trabalho da 15ª Região a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.
Servidora "carta precatória"
Uma dessas pessoas é Carmela Rezende Cardoso, nascida em Batatais e formada pela Faculdade de Direito de Franca. No entanto, seu ingresso na Justiça Trabalhista, em 21 de junho de 1999, na VT da terra natal, não foi como servidora, mas sim na condição de estagiária. "Eu tinha 20 anos e estava no 3º ano da faculdade, ainda com dúvidas em relação à escolha do curso", admite ela. "Mas aí me apaixonei pelo direito do trabalho e pus na cabeça que era aquilo que eu queria para mim, ser servidora da JT."
Não demorou para isso se tornar realidade. No ano seguinte, ainda durante o estágio na VT, ela prestou concurso para o quadro de servidores da Prefeitura de Batatais. O cargo era o de digitadora, mas o objetivo, de fato, era conseguir tão logo fosse possível a cessão para a Justiça do Trabalho. "Era a minha oportunidade", frisou Carmela, que não desperdiçou a chance. Foi a primeira colocada, e na hora certa, pois um pouco antes o juiz titular da VT de Batatais, Paulo Augusto Ferreira, havia enviado um ofício à Prefeitura da cidade, requisitando a cessão de um servidor. "Por pouco a vaga não foi para outra pessoa. Mas, além de tudo, tive a mão de Deus em minha vida e tudo se encaixou. Sou muita grata a todos os colegas da VT e ao juiz Paulo Augusto, que me incentivaram muito a fazer o concurso e me acolheram tão bem na Justiça do Trabalho, tanto como estagiária quanto como servidora", enfatiza ela.
Assim, em 1º de fevereiro de 2001, justamente o ano em que se formaria, Carmela começava uma nova fase de sua carreira na JT. "Foi maravilhoso dormir estagiária e amanhecer servidora. A sensação foi, ao mesmo tempo, de vitória e de tranquilidade, porque faltavam só quatro meses para terminar o estágio."
Ainda não era o bastante, contudo. A meta passou a ser fazer parte do quadro de servidores do TRT-15, e a aprovação viria no concurso de 2004. No dia 1º de julho do ano seguinte, Carmela entrava em exercício na 15ª como técnica judiciária. Quando lhe pergunto qual foi a sensação dessa vez, ela não titubeia:
– Foi a melhor de todas. Bateu aquele sentimento de dever cumprido.
Novos rumos
Estava na hora de começar uma nova missão na JT. Carmela, que fizera junto com o colegial um curso técnico de processamento de dados e já era, a essa altura, a administradora da rede de informática na VT de Batatais, recebeu um convite para trabalhar na sede do Tribunal, em Campinas, na Secretaria de Informática da Corte. Entre outras atividades, ela atuou no Serviço de Apoio ao Usuário de 1º Grau, onde sua experiência anterior foi muito importante, garante a servidora. "Sempre que eu conversava com um colega da 1ª instância sobre algum problema, eu conhecia o assunto e conseguia discernir se se tratava de um erro de procedimento ou de uma falha no sistema."
Passados dois anos, no entanto, Carmela sentiu falta de trabalhar com o direito. Em agosto de 2007 ela estava de volta à 1ª instância, na VT de Itatiba, a pouco mais de 30 quilômetros de Campinas. Decorridos mais dois anos, transferiu-se novamente em setembro de 2009, desta feita para São Carlos, onde assumiria a direção da secretaria da 2ª VT da cidade. Os problemas de saúde do pai, Aldo, que continuava morando em Batatais, levariam-na finalmente à VT de Cravinhos, em 25 de janeiro de 2011. Localizadas na região de Ribeirão Preto, as duas cidades estão separadas por apenas 60 quilômetros. "Fui muito bem recebida por todos", celebra Carmela, que é a assistente da diretora da unidade, Marina Satie Yokoo de Azevedo, e, depois de tantas mudanças, não escapou de um apelido. "Os colegas me chamam de ‘carta precatória'. Eles dizem que eu tenho ‘caráter itinerante'", revela, aos risos.
Seu Aldo, gerente de recursos humanos aposentado, acabaria falecendo em outubro de 2011, mas não sem antes contar com a presença fiel da filha, que voltou a morar em Batatais, inclusive, e da esposa, Rosário, professora da rede estadual de ensino, também aposentada. Carmela agora faz planos de um dia voltar às origens, na VT da terrinha, para ficar ainda mais perto da mãe. "Mas quero acima de tudo continuar a contribuir para a Justiça do Trabalho. É um trabalho que faço com prazer."
Ação social
O entrosamento dos servidores da VT se revela também numa iniciativa em prol das crianças assistidas pela Casa de Amparo "Caminho de Luz", fundada em 2000 no bairro João Berbel II, lá mesmo, em Cravinhos. Todo ano eles mobilizam os advogados e peritos que militam na Justiça do Trabalho local para a doação, em dezembro, de uma cesta básica e uma cesta de Natal a cada criança atendida pela entidade. "Alguns vão além e incluem também um brinquedo no presente", observa Carmela. Segundo ela, a iniciativa começou em 2006, com o então juiz titular da VT, Marcelo Garcia Nunes, e beneficia de 60 a 80 crianças, anualmente. (Com informações da Prefeitura de Cravinhos e do IBGE)
Por Luiz Manoel Guimarães
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