Em Espírito Santo do Pinhal, GMP conhece servidor que trocou a bola pelo direito e pela literatura

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Distante cerca de 100 quilômetros de Campinas, Espírito Santo do Pinhal, que conquistou a emancipação em 1877, deve sua origem à Fazenda do Pinhal, propriedade dominada por araucárias. Na Rua Dr. João Mendes, 126, está instalado o Posto Avançado (PA) da Justiça Trabalhista na cidade, vinculado à Vara do Trabalho de São João da Boa Vista. A jurisdição da unidade inclui o município de Santo Antônio do Jardim, totalizando aproximadamente 50 mil jurisdicionados.

O Posto recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, e coordenado pelo juiz Flávio Landi. O GMP é um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte e desenvolve em cada unidade atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores respondem um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno do Grupo à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados, e as conclusões, enviadas a todos os que participaram das atividades.

Outra missão do GMP é dar aos servidores da 15ª Região a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.

De jogador de futebol a escritor

No Posto Avançado de Espírito Santo do Pinhal trabalha Roberto Francisco Nogueira Corsi, cedido pela Prefeitura local. Depois de nove meses de treinamento na VT de São João da Boa Vista, ele se juntou à equipe do posto já na inauguração da unidade, em 2 de dezembro de 2010.

Pinhalense de nascimento, o servidor tentou na juventude a carreira de jogador de futebol. O amor pelo "esporte bretão", aliás, está no sangue. Aos 12, 13 anos, no Guarani de Campinas e no Mogi Mirim Esporte Clube, Roberto seguia em escolinhas de futebol os passos do pai, Nei Corsi, volante revelado pelo próprio Guarani, no qual assinou seu primeiro contrato profissional, em 1968, depois de passar por todas as categorias de base do Bugre. Atuou também no Rio Preto Esporte Clube, onde permaneceu por oito anos, e na Ferroviária de Araraquara, entre outras equipes, e chegou a jogar na Seleção Brasileira de Novos, denominação dada até a década de 1980 ao escrete formado por atletas ainda não profissionais ou recém-profissionalizados. No Rio Preto, esteve sob a batuta de técnicos do calibre de Carlos Alberto Silva, campeão brasileiro pelo Guarani em 1978 e padrinho de casamento de Nei, e Rubens Minelli, com quem o ex-jogador mantém uma relação de amizade até hoje. Minelli conquistou o brasileiro três vezes, e consecutivamente – pelo Internacional de Porto Alegre (1975 e 1976) e pelo São Paulo (1977).

Prevaleceria, no entanto, a influência da mãe, a professora Elizabeti, hoje aposentada, que não via com os melhores olhos a carreira de futebolista. "Ela sentiu muito a ausência de meu pai, que, enquanto jogou, muitas vezes ficou longe da família", explica o servidor. E não é para menos. Nem no dia do casamento, 14 de julho de 1973, um sábado, o casal escapou, conta Roberto. Encerrada a cerimônia, Nei foi direto para a concentração, a fim de se preparar para o jogo do dia seguinte. "Nas fotografias das festas de aniversário dos filhos, principalmente as da minha irmã, Adriana, que é quatro anos mais velha do que eu, meu pai raramente aparece, porque quase sempre estava viajando", acrescenta o servidor, que aos três anos viu a carreira do pai se encerrar. "Quando dava, minha irmã ia junto com ele para o clube e ficava assistindo ao treinamento, vigiada pelo médico ou por algum outro funcionário." Assim é que, depois de aproximadamente um ano de escolinha, Roberto desistiu de tentar o futebol profissional.

Sua vida acabaria tomando rumos muito diferentes da intenção inicial. Hoje, aos 35 anos, formado em direito pelo Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal, ele comemora o êxito de seu primeiro livro, "O Cotidiano é Nosso", uma obra de autoajuda lançada em 2013 nas versões impressa e e-book pelo Clube de Autores. Com nuances autobiográficas, o livro fala justamente da valorização da família, entre outros temas. "A vida nos envolve com mistérios e segredos, sim, mas quem disse que da cartola do mágico só sai um coelho? As surpresas, sejam elas quais forem, não nos mandam convite. Tudo isso junto brinda o nosso dia a dia, um cotidiano que não pode ser vendido ou comprado. Ele é só seu. É você que o constrói. Uma das certezas que a vida nos mostra é que o cotidiano é nosso", sublinha o autor.

Ainda na 1ª edição, a obra também pode ser adquirida, na versão digital, por meio das Livrarias Saraiva e Siciliano. "Recebi um e-mail da Saraiva informando que o livro passou pelo que eles chamam de ‘mudança de territorialidade' e está sendo vendido também no exterior atualmente", revela o servidor, que já está escrevendo um novo trabalho. "Será um romance", adianta ele.

Sua grande incentivadora é sua esposa, Juliana, com quem Roberto está casado há um ano e meio. "Foi ela quem começou a mandar os originais do meu livro para as editoras." Outra presença importante na vida do escritor é a irmã, hoje também muito distante, geograficamente, até, da garotinha que ansiava à beira do gramado pelo fim do treino do pai. Psicóloga com mestrado e doutorado pela L'Université Paris-Sorbonne, Adriana mora há quase 12 anos na capital francesa, onde desenvolve um trabalho com crianças autistas. Roberto morou por cerca de um ano e meio com ela, quando ainda era solteiro. "Foi uma experiência fantástica, tanto de caráter pessoal, por me dar a chance de aprender o idioma e viver de forma mais independente, quanto no plano profissional", resume ele, que, durante esse período, trabalhou numa escola de informática. (Com informações da Prefeitura de Espírito Santo do Pinhal e do IBGE)

Texto Luiz Manoel Guimarães

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Comunicação Social