Em Garça, servidor se aproxima dos 20 anos de carreira na JT, sem abandonar a dedicação à música
Esta matéria é dedicada ao servidor João Crisóstomo Rodella,
falecido em 2014 e que trabalhou na VT de Garça por 15 anos
Emancipado em 27 de dezembro de 1928, o município de Garça deve seu nome à ave, que existia em grande número num rio da região, na época dos primeiros povoamentos.
Com a Festa da Cerejeira, no mês de julho, a cidade comemora a florada das quinhentas árvores que formam o bosque no Lago Artificial "J. K. Williams", onde está também o Jardim Japonês. Nos quatro dias do evento, são apresentadas dezenas de atrações ressaltando a cultura nipônica, como shows musicais e números de dança.
A economia local, que já foi baseada no agronegócio do café, atualmente se sustenta na produção de eletroeletrônicos, com grande concentração de empresas de portões automáticos e outros produtos de segurança, além de reatores e "no-breaks", entre outros artigos. Isso explica porque Garça se intitula a "Capital da Eletroeletrônica".
Na Rua Plínio de Godoy, 236, funciona a Vara do Trabalho (VT) da cidade, que completou 20 anos em 11 de março passado. Com uma jurisdição que inclui também os municípios de Álvaro de Carvalho, Alvinlândia, Fernão, Gália, Júlio Mesquita e Lupércio, num total de 70 mil pessoas, aproximadamente, a unidade recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores de cada unidade visitada são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, recebem um "feedback" com as conclusões das especialistas do Grupo no tema, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira e a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro. O GMP também registra demandas de caráter estrutural ou administrativo, por intermédio da servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional. Já os problemas relativos à área de segurança são analisados pelos agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que também integram a equipe.
Outra missão do Grupo é traçar um perfil dos servidores da 15ª. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, ou pelo menos uma parte deles, que, espalhados por cerca de uma centena de cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos.
Herança musical
Oto Henrique Pintiaski de Campos, por exemplo, completa 20 anos como analista judiciário da Justiça do Trabalho da 15ª no próximo dia 4 de outubro. Ele começou sua carreira no Fórum Trabalhista de Assis, mas sete meses depois, em maio de 1996, já estava na VT de Garça, onde há 15 anos é o secretário de audiências.
Como Otto Pintiaski, com um "t" a mais, o servidor "se transforma" no pianista, compositor e regente que já tocou no MASP e no Museu da Imagem e do Som (MIS), na capital paulista, e no Centro de Convivência Cultural, em Campinas, além de apresentações em Santos e Goiânia, entre outras cidades. Apresentou-se também na TV Cultura de São Paulo, em programas de música de câmara, e participou da série de concertos "Piano Maior", da Rádio Cultura AM.
A música e a cultura, aliás, estão no sangue. O pai, Geraldo, formado em direito e pedagogia e ex-diretor de escola, também é pianista e compositor, além de organista, e rege o Coral da Catedral de São Bento, em Marília, coro que tem, entre seus integrantes, a mãe do servidor, Zilda, professora e diretora de escola.
Não bastasse a "genética", Oto começou a estudar piano aos oito anos, e durante sete foi aluno do Conservatório Musical e Artístico Carlos Gomes, na mesma Marília, onde nasceu. A primeira apresentação foi aos nove anos, na Loja Maçônica da cidade. Aos 13, em 1985, foi o vencedor do Concurso Estímulo da Secretaria Estadual da Cultura, na categoria melhor intérprete, dando início a quase uma década de intensa atividade. Entre outros feitos desse período, fez uma apresentação, em 1986, no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, como bolsista da Secretaria Estadual da Cultura, e venceu, em 1992, o Concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Como prêmio pela conquista, tocou no mesmo ano com a Osesp no Memorial da América Latina, em São Paulo, sob a regência de Roberto Tibiriçá, e com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, na capital gaúcha, regido por Tullio Colacioppo. Os dois maestros eram assistentes, à época, de Eleazar de Carvalho, considerado por muitos o maior regente da história do País.
Curiosamente, até o segundo ano do ensino médio, o servidor não tinha certeza se queria cursar música na faculdade. A decisão acabaria acontecendo quase por acaso. Um amigo, Carlos Sulpício, hoje trompetista profissional e professor de trompete, convidou Oto para acompanhá-lo, em 1986, na prova de aptidão do vestibular da Universidade de São Paulo. Ao final da apresentação, Carlos recebeu do então chefe do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, George Olivier Toni, não só a notícia de que havia se saído bem, mas também um pedido: "Queremos falar com o seu acompanhador". Fundador do Departamento, George, hoje com 88 anos, disse a Oto naquele dia: "Venha fazer o vestibular no ano que vem".
"Foi o que me impulsionou a fazer música", sublinha nosso entrevistado, que, com efeito, um ano mais tarde estava de volta à USP, e não mais apenas como acompanhador. Com 10 nas provas teórica e prática, foi o 1º colocado no vestibular. Dos anos de curso, no qual se formou em 1991, lembra particularmente do mestre Gilberto Tinetti, "um dos grandes professores de piano do País, quiçá o maior, dono de uma didática fantástica, além de ser um pianista excepcional".
Em 1992, permaneceu em São Paulo, tocando e estudando alemão, mas no ano seguinte um convite da Prefeitura de Garça o traria de volta ao interior. Oto assumiu, então, a direção do Departamento de Cultura de Garça, vinculado à Secretaria Municipal de Educação e Cultura, cargo que exerceu por pouco mais de dois anos. "Saí apenas dois dias antes de ingressar na Justiça do Trabalho. Além de dirigir o Departamento, eu era o regente do Coral Movimento Pró-Cultura de Garça", lembra ele.
Justiça e arte
Com o ingresso na Justiça do Trabalho, a estabilidade e a segurança financeira proporcionadas pela carreira na JT falaram mais alto, e a música, se jamais foi abandonada, perdeu, por outro lado, o "status" de profissão. A rotina de estudos, de duas a três horas diárias, foi mantida, porém, e o próximo dia 8 de dezembro marcará o primeiro aniversário da volta de Oto às apresentações. Em seu retorno, ele tocou em sua terra natal, na inauguração do órgão da Catedral de São Bento. Para 2015, o projeto é fazer uma série de recitais para piano solo na região.
Além disso, Oto deu início a uma fase fértil como compositor. Graças a um "home studio" dotado de piano digital, sintetizador e um computador com um programa que faz as vezes de todos os instrumentos de uma orquestra, ele já coleciona um repertório próprio com aproximadamente 30 composições, incluindo peças para piano (ouça aqui), flauta, coral, quarteto de cordas (aqui) e até sinfônica (aqui). "Toco instrumento por instrumento e depois faço a mixagem, usando a tecnologia para recriar em casa uma orquestra sinfônica." Os três CDs já gravados, no entanto, ainda não foram lançados comercialmente. "Gravo para mim mesmo e para presentear amigos."
Coincidência ou não, Oto aponta como uma de suas principais influências o alemão Johann Sebastian Bach, um dos mais prolíficos compositores da história. É impossível precisar o número exato de suas obras, mas há quem lhe atribua a autoria de mais de mil composições. Quanto aos pianistas, mais especificamente falando, o servidor destaca, do Brasil, Arnaldo Cohen e Nelson Freire, mas seus grandes paradigmas são dois gênios de sua geração, os russos Evgeny Kissin, hoje com 43 anos e que aos 12 já gravava com a Sinfônica de Berlim, e Arcadi Volodos, um ano mais novo. "Ele é milagroso. Nunca vi igual", sublinha Oto. Para ele, porém, ainda mais no topo está o polonês Arthur Rubinstein, que morreu em 1982, aos 95 anos. "É o maior que já existiu." (Com informações da Prefeitura de Garça, do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal – Cepam – e do IBGE)
Texto Luiz Manoel Guimarães
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