Em Pederneiras, servidora organiza iniciativas que expressam a união do grupo da Vara do Trabalho
Pederneiras, cidade de aproximadamente 45 mil habitantes, estrategicamente localizada entre Bauru e Jaú, é conhecida popularmente como a "Princesinha da Terra Roxa". O nome, porém, deriva da grande quantidade de "pedras de fogo" existente na região. A pederneira é uma rocha capaz de produzir faíscas quando atritada por uma peça de metal, principalmente o ferro. Era muito utilizada na artilharia antiga e em isqueiros, entre outros usos.
Na Rua Professor Antonio Volponi, 0-11, funciona a Vara do Trabalho (VT) local. A unidade atende também o município de Boraceia, elevando a população jurisdicionada para cerca de 50 mil pessoas. Itaju e Bariri também fazem parte da jurisdição, mas são atendidas pelo Posto Avançado da Justiça do Trabalho instalado nessa última cidade.
A VT recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Uma das missões do Grupo é traçar um perfil dos servidores da 15ª. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, ou pelo menos uma parte deles, que, espalhados por cerca de 110 cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos. Em Pederneiras, a entrevistada foi a servidora Josiane Guimarães Botteon.
Fincando raízes
Nascida em Tupã e formada pela Faculdade de Direito da Alta Paulista, a Fadap, lá mesmo em sua terra natal, Josiane advogou por 12 anos, sobretudo na área de família. O interesse por concursos públicos começou quando uma amiga, Cláudia Regina Costa de Lírio Servilha, ingressou na Magistratura Trabalhista da 23ª Região (MT). Hoje titular da VT de Alta Floresta, no norte mato-grossense, logo no início da carreira, em 2005, a juíza passou a incentivar Josiane a buscar o mesmo. Depois de algumas tentativas sem sucesso, a então advogada resolveu mudar o foco e, em 2009, prestou sete concursos para o cargo de analista judiciário, incluindo não só a 15ª Região, mas também a 2ª (Região Metropolitana de São Paulo, capital, e Baixada Santista), a 9ª (PR) e a 24ª (MS). Passou em todos.
Sua primeira convocação foi para o TRT-2, em março do ano seguinte. Lotada na 28ª VT paulistana, a àquela altura servidora da JT se instalou num flat na Consolação, "contando os dias para ser chamada pela 15ª", como ela recorda. "Sou filha única, e meus pais, que moram em Tupã, já estavam com mais de 60 anos naquela época. Eu queria ficar perto deles. Além disso, sempre gostei de viver em cidade pequena." Assim, em 4 de agosto de 2010, exatos quatro meses e 22 dias depois de começar a trabalhar na capital – ela contou mesmo –, Josiane desembarcava em Pederneiras, reduzindo a menos da metade a distância para dona Maria de Lourdes e seu Eloy, que até então era de mais de 500 quilômetros.
Bem adaptada a sua nova cidade, nossa entrevistada vai ver os pais a cada duas semanas e espera que em breve eles venham morar com ela. "Eu me encontrei aqui, até mesmo profissionalmente", sublinha Josiane, que já não pensa em tentar novamente carreira na Magistratura Trabalhista. "O meu trabalho como analista judiciário, e na área judicial, inclusive, é o que eu quero fazer."
Multiartista
Fã do holandês André Rieu, violinista, regente e compositor de sucesso internacional, com direito a dezenas de milhões de discos vendidos, Josiane estuda violino há nove anos. Também se dedica ao artesanato – pintura, bordado e patchwork, o "trabalho com retalhos" – e ainda se aventura na poesia. Na festa de final de ano na VT, em 2013, recitou um poema seu, com uma estrofe dedicada a cada um dos colegas da unidade. "Bateu uma inspiração e eu fiz." Não foi um caso isolado. O número exato ela já não sabe, mas Josiane acredita ter de 20 a 30 poemas prontos, os quais, no entanto, ela diz não pretender publicar. "Poucas pessoas tiveram acesso a isso", diz a servidora, divertindo-se com a própria, digamos, "timidez editorial".
Seus talentos não param por aí. Ela é também a "promoter" da VT, e nenhum evento lhe escapa. "Amigo oculto", "chá de bebê", café da manhã nas ocasiões em que recebem alguma visita, como no caso do próprio GMP, por exemplo, tudo ela organiza.
Josiane "ataca" ainda de "produtora cultural" na secretaria da unidade. "Toda tarde eu ponho pra tocar uma espécie de ‘música temática', relacionada a algum acontecimento do dia. Pode ser para comemorar alguma coisa, como o aniversário de algum colega, ou porque alguém está chegando à VT ou indo embora. É sempre uma música oferecida a uma pessoa." A semana anterior à entrevista, por exemplo, marcou a saída da servidora Natalie de Bastiani Conte, que se transferiu para a 4ª VT de Bauru. Ao longo de toda a semana, o repertório incluiu clássicos como "Canção da América", uma espécie de "hino à amizade", de autoria de Milton Nascimento e Fernando Brant, e "Amigos para sempre", versão de "Friends for Life", de Andrew Lloyd Webber e Don Black, composição tornada célebre ao ser o tema das Olimpíadas de Barcelona (1992). "É o nosso ‘momento cult', que acontece todo dia, sem exceção. Mas é sempre baixinho, para não atrapalhar o expediente", afirma Josiane, que não faz questão da exclusividade sobre a escolha da música do dia. "Às vezes a sugestão parte de outra pessoa. Geralmente alguém vem de casa com uma boa ideia." Ela garante também que o grupo não abre mão de um criterioso "controle de qualidade". "Anitta não", enfatiza Josiane, incisiva, referindo-se à funkeira carioca, uma das "celebridades" excluídas do momento musical da VT.
O GMP
Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores de cada unidade visitada são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, eles recebem um feedback com as conclusões das especialistas do Grupo no tema, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira e a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro. O GMP também registra demandas de caráter estrutural ou administrativo, por intermédio da servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional. Já os problemas relativos à área de segurança são analisados pelos agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que também integram a equipe. (Com informações da Prefeitura de Pederneiras, do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal – Cepam – e do IBGE)
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