Em Piedade, “Capital da Alcachofra” e terra das cerejeiras, Grupo Móvel visita a primeira VT da 15ª a receber o PJe
Ela é a "Capital da Alcachofra", responsável por 90% da produção do País. Anualmente, nos meses de setembro e outubro, realiza o Roteiro Gastronômico de Alcachofras, no qual é possível conhecer várias formas de uso da flor na culinária, além de passear pelas plantações. Também se destaca pelas cerejeiras que enfeitam a cidade na época da florada, em junho e julho, quando a comunidade japonesa local celebra, inclusive, a Festa da Cerejeira. Vale citar ainda as culturas do morango e do caqui.
Essa é Piedade, município a cerca de 30 quilômetros de Sorocaba. Sua origem remonta a 1835, quando Vicente Garcia, líder dos primeiros moradores do lugar, constrói uma capela dedicada a Nossa Senhora da Piedade. Oficialmente, no entanto, a fundação da cidade se deu em 20 de maio de 1840, data em que a capela foi benzida.
Com 22 anos de existência – a serem completados no próximo dia 27 de novembro –, a Vara do Trabalho (VT) local está instalada na Rua Comendador Parada, 29, 1º andar, no Centro. Além dos cerca de 55 mil habitantes de Piedade, a jurisdição inclui outros 80 mil cidadãos, aproximadamente, dos municípios de Pilar do Sul, Salto de Pirapora e Tapiraí.
Pioneira do Processo Eletrônico
Primeira a receber o Processo Judicial Eletrônico (PJe) na 15ª – a implantação ocorreu em 3 de agosto de 2012 –, a VT de Piedade foi mais uma a ser visitada pelo Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores de cada unidade visitada são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, recebem um feedback com as conclusões das especialistas do Grupo no tema, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira e a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro.
O GMP também registra demandas de caráter estrutural ou administrativo, por intermédio da servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional. Já os problemas relativos à área de segurança são analisados pelos agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que também integram a equipe. Outra missão do Grupo é traçar um perfil dos servidores da 15ª. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, ou pelo menos uma parte deles, que, espalhados por cerca de 110 cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.
Isso inclui a diretora da secretaria da VT de Piedade, a sorocabana Renata Monteiro Gomes de Oliveira. Prestes a completar 16 anos de carreira na Justiça do Trabalho da 15ª Região – em 22 de fevereiro do próximo ano –, ela coleciona outros dois anos e meio no Tribunal Regional Federal da 3ª Região, período em que trabalhou na sede da Corte, em São Paulo, e mais seis meses no TRT-2, também na capital paulista, na 35ª VT da cidade.
Formada pela Faculdade de Direito de Sorocaba, Renata passou, na 15ª, pelas VTs de Itapeva e Capão Bonito, onde também foi diretora por quase seis anos, antes de ser nomeada para sua atual função, em 12 de maio de 2009. Numa secretaria de VT, aliás, ela parece mesmo "se sentir em casa". "Gosto de trabalhar com processos. Você tem de pensar que, por trás de cada um deles, existe uma pessoa que acreditou na instituição e quer uma resposta. Não é só um monte de papel."
Já que falamos de casa, o lar, propriamente dito, é o outro lugar onde Renata também se sente realmente feliz, garante ela. Modesta, a servidora insistiu no início da entrevista não ter "nenhum talento especial" que justificasse sua condição de, como se diz no jargão jornalístico, "personagem" da matéria sobre a visita do GMP a Piedade. Ledo engano. Rapidamente é possível perceber que Renata tem um dom, sim, e um dom muito relevante nesses tempos em que, cada vez mais, a mulher galga espaço no mercado profissional. Ela possui uma habilidade especial para conciliar justamente o trabalho, incluindo as exigências e responsabilidades derivadas do cargo de diretora de secretaria, com as demandas características de quem é mãe e esposa.
O lar é o seu porto seguro. "Gosto muito de ficar em casa com eles", sublinha Renata, referindo-se aos filhos Daniel, de sete anos, e Lucas, de dois, bem como ao marido, Sandro, e aos filhos dele, Alexia, 16 anos, Alanis, 15, e Sandro Filho, 12. Por "ficar em casa", porém, entenda-se não necessariamente estar na residência da família. Do tipo aventureiro, Sandro é adepto de uma série de atividades ao ar livre, como, por exemplo, navegar numa represa da região. "Às vezes, a gente comete a loucura de ir para Caraguatatuba e pôr o barco no mar", observa Renata, que ainda está aprendendo os segredos da navegação. "Por enquanto eu fico só olhando. Mas quero aprender."
Sedentária confessa, ela está se esforçando para acompanhar o ritmo do marido, que pratica também motocross – já ganhou inclusive o Campeonato Paulista de Enduro de Velocidade (1997) e o Sul Paulista de Motocross (1997 e 1998), na categoria 125 cc importada –, mergulho, esqui na água e aeromodelismo. Atualmente, Sandro lidera a Copa Oeste de Motocross, na categoria 45 anos. "Ele é irritante com tanta disposição", brinca Renata. "Mas você acaba sendo ‘contaminada'. Estou curtindo também e procuro não cerceá-lo de forma alguma." E não é só ela que está sendo "capturada" pelo espírito de aventura. Segundo a nossa entrevistada, o caçula da família está encantado com esse estilo de vida. "O Lucas já curte motos. Acho que ele vai ser igual ao Sandro." Aliás, se no que diz respeito à prática de atividades esportivas Renata ainda está tentando se ajustar ao pique do marido, no apego aos filhos reside uma das grandes afinidades do casal. "Tivemos uma sorte tremenda de os dois gostarem muito de crianças."
A servidora lembra que a harmonia entre os membros das outrora duas famílias foi posta à prova logo no início do casamento, numa viagem ao Uruguai. "Compramos um carro de oito lugares e fomos todos juntos, estrada a fora. Sabíamos que ia ter de tudo: bom humor, mau humor, bons hotéis, hotéis ruins. A ideia era criar uma oportunidade de todos se conhecerem bem rapidamente, e nada como uma viagem para isso. Foi um sucesso." Em 15 dias, o grupo percorreu mais de cinco mil quilômetros, segundo Renata, visitando a capital uruguaia, Montevidéu, e o balneário de Punta del Este, entre outros lugares.
Em janeiro deste ano, decidiram repetir a dose, mas no sentido contrário. Foram a Fortaleza, onde ficaram uma semana. Para chegar à capital cearense, contudo, o grupo optou pelo avião. O carro, dessa vez, seguiu sozinho, numa "cegonha" – a quem interessar possa, o custo foi de R$ 1.000 –, e foi nele que a turma toda voltou, com direito a períodos de estadia em Natal (RN), Porto Seguro (BA) e Belo Horizonte (MG). Em 2013, foi a vez de Tiradentes e São João Del Rey, cidades históricas mineiras.
"O bebê do PJe"
Renata garante que o grupo da VT está bem adaptado ao PJe. Segundo ela, a evolução entre a primeira e a atual versão do sistema é significativa. O começo, no entanto, foi complicado, diz a diretora, e particularmente para ela mesma, que havia voltado da licença-maternidade em maio de 2012, apenas três meses antes da implantação do sistema. "Distanciar-me do Lucas foi terrível. O período de licença não é suficiente para preparar essa separação de mãe e filho. E quando eu soube da notícia do PJe, pensei: ‘Não é possível. Deus esqueceu de mim. Com 153 varas do trabalho na 15ª, foram escolher justamente a VT da mãe do Lucas'", conta Renata, já, digamos, "quase" se divertindo com o infortúnio de outrora, como mais uma pessoa a protagonizar a velha máxima que diz: "Um dia a gente ainda vai rir disso tudo".
Logo de início, a diretora teve de ir a Brasília, para um curso de cinco dias sobre o sistema. Como ainda estava amamentando, não teve dúvidas e carregou Lucas consigo. "Ele mamou até os dez meses. O engraçado é que bastou voltar de Brasília para ele parar de mamar, o danado." No dia do retorno da capital, ainda no aeroporto Juscelino Kubitschek, Renata, com Lucas "a tiracolo", se deparou com vários colegas do curso, que até então não conheciam o menino. "Pronto. Ele virou o ‘bebê do PJe", lembra a diretora, agora sim deixando o riso correr solto.
Nesses dois anos, Renata viveu um período de trabalho intensivo com o PJe, tanto na própria VT de Piedade, quanto, pelo fato de ter sido um dos primeiros servidores da 15ª a dominar a nova tecnologia, na capacitação de colegas de outras unidades. A diretora e sua equipe atuaram como "vara-madrinha" de cerca de outras vinte VTs da 15ª, calcula ela, transferindo know-how "in loco", na própria secretaria de cada uma dessas unidades, à medida que o sistema era implantado. Além disso, também lecionou para os colegas em vários cursos na sede do Tribunal, em Campinas. (Com informações da Prefeitura de Piedade, do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal – Cepam – e do IBGE)
Texto: Luiz Manoel Guimarães
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