Em São João da Boa Vista, GMP vê servidores engajados na inclusão social
Rua Luiz Previeiro, 91. Esse é o endereço da Vara do Trabalho (VT) de São João da Boa Vista, cidade de aproximadamente 90 mil habitantes e que está localizada a cerca de 125 quilômetros de Campinas, sede do TRT-15. O número de pessoas atendidas pela unidade passa dos 170 mil, no entanto, porque a jurisdição inclui os municípios de Aguaí, Águas da Prata e Vargem Grande do Sul. Também parte da jurisdição, Santo Antônio do Jardim e Espirito Santo do Pinhal são atendidos desde dezembro de 2010 pelo Posto Avançado instalado nessa última cidade.
O nome São João da Boa Vista deriva, de um lado, da data de fundação da cidade, 24 de junho de 1821, Dia de São João Batista, e, de outro, da Fazenda Boa Vista, em cujos limites o município começou a se formar. Por sua vez, a antiga propriedade rural foi batizada em conformidade com as belas paisagens que podem ser vistas na região – São João da Boa Vista é conhecida como "Cidade dos Crepúsculos Maravilhosos".
O Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, e coordenado pelo juiz Flávio Landi, esteve na VT local, dando sequência à sua missão de ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Em cada unidade, o Grupo desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados, e as conclusões, enviadas a todos os que participaram das atividades.
Outra missão do GMP é dar aos servidores da 15ª Região a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades paulistas, passam de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.
Inclusão
São João da Boa Vista é a terra natal de Patrícia Rehder Galvão, a Pagu (foto), poeta, escritora e jornalista de participação destacada no Movimento Modernista brasileiro. Militante comunista, Pagu foi presa em 15 de abril de 1931 pelas forças de repressão do governo Vargas, tornando-se, assim, a primeira mulher a ser detida no País por razões políticas.
Engajamento é palavra que faz parte também do cotidiano de Sueli Aparecida Cardoso, oficial de justiça da VT da cidade. Na Justiça do Trabalho há 21 anos, ela completou três décadas a serviço do Judiciário brasileiro no último dia 11 de setembro – foi servidora também da Justiça Estadual em Aguaí, município onde se radicou. "Tornar-me integrante do Judiciário foi motivo de grande orgulho para mim. Sempre admirei muito o trabalho dos juízes e dos membros do Ministério Público, assim como o dos servidores que os auxiliam na consecução dos objetivos da Justiça. Quando passei a fazer parte desse universo, eu me senti muito orgulhosa", enfatiza ela.
Nesses 30 anos, um caso em particular tornou-se um paradigma para Sueli. Ainda como oficial da Justiça Estadual, no início dos anos 1990, ela foi cumprir um mandado expedido pela Vara da Infância e Juventude. "Era um caso de guarda, que estava sendo concedida ao pai. Ele já tinha a guarda provisória do filho, de oito anos, e havia conquistado a guarda definitiva. Em geral, o oficial de justiça é recebido com medo ou raiva, tanto que a minha primeira preocupação é sempre deixar claro que sou uma emissária do juiz que não está ali para criar problemas, mas, sim, para levar a solução. E esse menino me passou a sensação de ter entendido exatamente qual era a minha missão naquele momento. Primeiro, ele disse para mim: ‘Por favor, moça, deixa eu assinar também, porque já sei escrever'. Depois, olhou-me de uma maneira muito linda e me agradeceu", recorda Sueli, que ainda se emociona com a lembrança do caso. "Sempre que me vejo numa situação difícil, procuro mentalizar a imagem daquela criança."
Nascida em Amparo e formada em direito pelo Centro Universitário Octávio Bastos (Unifeob), na própria São João da Boa Vista, a servidora já vive a expectativa da aposentadoria, prevista para o final deste ano. É certo, porém, que não lhe faltará o que fazer. Além da carreira profissional, ela se dedica ao trabalho voluntário na Sociedade Aguaiana de Educação e Cultura Negra (SAECN), entidade sem fins lucrativos da qual Sueli é presidente desde a fundação, em 5 de junho de 1989. De acordo com a página da instituição na internet, o objetivo principal da SAECN é "a valorização do homem de origem negra", com a promoção de atividades educativas, sociais e culturais que beneficiem não só os associados da entidade, mas também "a comunidade aguaiana de maneira geral, sem distinção de credo religioso, de convicção política, de nacionalidade, de raça, de classe ou de cor".
A sede da Sociedade está localizada na Rua Treze de Maio, 403, em Aguaí – o telefone é (19) 3652-7159. Declarada de utilidade pública municipal desde 2000, a instituição desenvolve iniciativas como o "Projeto Alfa", curso gratuito de alfabetização para adultos, e a "Patrulha Mirim", para crianças e adolescentes de 8 a 17 anos. Realizada aos sábados, das 9h às 11h e das 13h às 17h, a "Patrulha" inclui atividades como noções de cidadania, primeiros socorros, artesanato, dança, música e reforço escolar em português, matemática e inglês. Já o projeto "Adote um Sorriso", de atendimento odontológico gratuito para crianças carentes, está em fase de implantação.
Segundo Sueli, embora não disponha de um departamento jurídico próprio, a Sociedade também presta assistência em casos de racismo ou injúria racial. "Damos orientação à vítima e, se for o caso, nós a encaminhamos à promotoria. Aguaí é uma cidade pequena e lá tudo é muito velado, mas existe, sim, discriminação racial."
A servidora participa também do Conselho Comunitário de Segurança do município, desde 2003. Presidente por três mandatos consecutivos, de 2007 a 2013, ela é hoje a 1ª secretária do Conselho, na gestão que se encerra no próximo ano. Nas últimas eleições municipais, foi candidata a prefeito de Aguaí pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS) e ficou em quarto lugar, com 1.880 votos.
De volta às origens
O paulistano José Paschoal de Souza, também oficial de justiça, é contemporâneo de Sueli na Justiça do Trabalho da 15ª, na qual ingressou apenas alguns meses antes, em 11 de maio de 1993. As coincidências com a colega não param por aí. Ele também foi servidor da Justiça Estadual, já em São João da Boa Vista, no caso, cidade para onde se mudou ainda criança, aos 9 anos. Antes de mudar para a JT, era escrevente-chefe, mas começou em 1978 como fiel, cargo em que cumpria, entre outros serviços, uma tarefa impensável para os dias de hoje, ao menos para ramos indiscutivelmente sobrecarregados do Judiciário brasileiro, como a própria Justiça Estadual paulista ou a Justiça do Trabalho. Em outras palavras, pelas mãos de Paschoal "a montanha ia a Maomé". "Todo dia, pela manhã, eu levava os processos para os advogados numa pasta, munido também do livro-carga. Eles podiam se manifestar na hora ou fazer carga dos autos."
Seus primeiros 10 anos na JT foram na VT de Mogi Mirim, onde ficou até 30 de junho de 2003, quando foi transferido para São João da Boa Vista. Na cidade em que se radicou, Paschoal participa, desde 1990, do Caminho Neocatecumenal, movimento que propõe o retorno "às origens do cristianismo, no qual todos se amam", como explica o servidor. "Hoje em dia há quem tenha o discurso cristão, mas não a prática cristã. A maior expressão do cristianismo é o amor pelo outro. Assim, a proposta é amar o outro apesar do seu pecado. Jesus Cristo não olha para o pecado, mas, sim, para o pecador, porque, afinal de contas, ‘só o doente precisa de médico'", sintetiza Paschoal.
Entre as iniciativas dos praticantes do Caminho Neocatecumenal está a participação na Jornada Mundial da Juventude, evento promovido pela Igreja Católica e que reúne, a cada dois ou três anos, numa cidade escolhida pelo Papa, milhões de jovens católicos de todo o mundo. A 28ª edição, em julho de 2013, ocorreu no Rio de Janeiro e contou com a presença de um grupo de 130 catecúmenos (como são chamados os fiéis do Caminho) da região de São João da Boa Vista, incluindo Paschoal, e também de Mococa, cidade onde o oficial de justiça é catequista. (Com informações do IBGE e da Prefeitura de São João da Boa Vista)
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