Em visita à VT de Caçapava, GMP conhece escritor, cronista e blogueiro

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Quem trafega pela Rodovia Presidente Dutra entre São Paulo e Rio de Janeiro necessariamente passa pelo município de Caçapava, do km 134 ao 119. Mais de três séculos depois da formação do povoado, Caçapava ainda faz jus ao nome de origem tupi-guarani: clareira ou "passagem na mata", de ka'a, "mata" e asapaba, "passagem". A paisagem contrasta com aquela dos idos de 1700. A mata cedeu lugar às indústrias de grande porte, que margeiam a pista revelando o grande potencial econômico da região, complementado ainda pela atividade agropecuária, com destaque para a produção de leite. A Caçapava de 2014 soma uma população de mais de 90 mil pessoas. A atuação local da Justiça do Trabalho se fez necessária no final da década de 1990. A Junta de Conciliação e Julgamento (atual Vara do Trabalho) foi inaugurada em 25 de novembro de 1998 e tem jurisdição ainda no pequeno município de Jambeiro, com seus quase seis mil moradores e distante 25 quilômetros de Caçapava. Em 2013, a movimentação processual da VT girou em torno de 1.100 ações recebidas e 1.300 solucionadas, restando um saldo de 696 processos pendentes de solução, na fase de conhecimento, em 31 de dezembro.

Os servidores e o juiz titular da VT, Orlando Amâncio Taveira, receberam os integrantes do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP) para a coleta de demandas de aspectos estruturais e organizacionais, além de verificar indicadores de qualidade de vida, mediante o levantamento de fontes de estresse. Coordenado pelo juiz auxiliar da Presidência do Tribunal, Flávio Landi, o GMP tem a missão de intensificar os canais de comunicação entre a 1ª instância e as áreas administrativas do Tribunal. Com participação espontânea, o GMP dá ainda a todos os profissionais da 15ª Região a oportunidade de se conhecerem, por meio de reportagens publicadas no site ou na revista interna on-line Ser15.

Ao chegarem à VT, que funciona em salas de um prédio comercial localizado na região central do município, na Rua Treze de Maio, 40, os profissionais do GMP encontraram um ansioso e, ao mesmo tempo, empolgado diretor de Secretaria, o servidor Sergio Adriano Goncalves Geia. Naquele dia aconteceria à noite em Taubaté, na Livraria Nobel do Via Vale Garden Shopping, o lançamento de seu primeiro livro, intitulado "Confidências de um Sacerdote".

Viajando naquelas histórias

Geia nasceu na cidade vizinha, Taubaté. Estudou na Escola Padre Anchieta e na Escola Municipal prof. José Ezequiel de Souza. Nesses tempos de colégio recebia elogios dos professores por sua capacidade de criar histórias e elaborar redações. "Esse registro é muito forte dentro de mim. Depois veio o apego pelos livros e o prazer que proporcionava a leitura. Monteiro Lobato, aqueles escritores mineiros, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino. Eles me proporcionavam sensações fantásticas. Era muito bom estar ali, deitado no meu quarto, viajando naquelas histórias".

Para Geia, a leitura se tornou uma atividade muito prazerosa. Por conta disso, associou-se ao Círculo do Livro e comprava em média dois títulos por mês. Em sua avaliação, a pessoa que lê muito, principalmente literatura, e gosta de escrever, em certo momento é tomado pela vontade de produzir alguma coisa própria. "Cristovão Tezza diz que fazer literatura é uma atividade existencial. Rodrigo Lacerda diz que ele precisa escrever para ter a sensação de que o dia valeu a pena. É isso. Faz parte da minha essência, do meu eu verdadeiro. Não me sentiria pleno sem o exercício da escrita, sem o ato de escrever", revela.

Geia publica crônicas semanalmente no jornal Matéria-Prima, de Taubaté e mantém um blog de literatura ( http://sergiogeia.blogspot.com.br). O primeiro livro, um romance, é inspirado no convívio com os bastidores da igreja, desde a época em que foi coroinha e coordenador de pastoral da juventude. A mãe e as tias também cantavam no coral e os tios eram voluntários. Depois de ler "O crime do padre Amaro", sentiu-se tentado a escrever algo sobre o que conhecia. No livro a história é narrada por um ex-padre que abandonou a igreja por não concordar com a forma como era administrada. Em certo momento recorre ao filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau: "Quantos homens entre mim e Deus" (citação da obra Emílio, livro IV).

Graduado em Direito com pós-graduação em Direito do Trabalho e Processo do Trabalho, Geia queria, a princípio, a Magistratura e chegou até a sentença em exames no TRT da 2ª Região e também na 15ª. Ingressou no TRT-15 em 2005, após prestar concurso para analista judiciário um ano antes, garantindo o quinto lugar no ranking. Foi lotado em Taubaté, na 2ª VT. Em outubro de 2006, passou a atuar na VT de Caçapava como assistente de diretor e em 2011, assumiu o cargo de diretor de Secretaria. "Trabalhar na Justiça do Trabalho é acima de tudo ser um instrumento importante na concretização da Justiça. Expedir uma guia para o reclamante não é um ato frio e técnico, mas, antes de tudo, a realização da justiça na sua forma mais concreta", avalia.

De acordo com Geia, o consumo regular da literatura permite enxergar o trabalho na Justiça por outro ângulo. "Um bom romance tem o poder de desnudar o ser humano, com suas contradições, suas agruras, suas inquietações, sua natureza complexa e imperfeita. A maior parte de nosso tempo nós passamos com os colegas, e não com as pessoas que amamos. Trabalhar num ambiente hostil deve ser insuportável. Por outro lado, se o trabalho ocorre num ambiente de amizade, respeito, honestidade, confiança e carinho, o resultado certamente será outro. Ganham todos. Servidores e os jurisdicionados, que enxergam uma unidade jurisdicional humana, e não uma máquina fria e assoberbada de papel. Talvez este seja um ângulo possível a ser considerado: a humanização do trabalho.

Texto Ana Claudia de Siqueira

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Comunicação Social