Em visita à VT de Mogi Guaçu, GMP vê exemplos de inclusão

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Em visita à Vara do Trabalho de Mogi Guaçu, os integrantes do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP) conheceram um dos prédios mais modernos e amplos da Justiça do Trabalho de 1ª grau da 15ª Região. Localizada na Avenida Brasil, 4801, no Jardim Serra Dourada, a sede própria da VT, inaugurada em maio de 2011, foi a primeira do TRT-15 a atender aos padrões de construção estipulados pela Resolução nº 54/2008 - Anexo II, do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT), que incluem as áreas mínimas necessárias ao bom desempenho funcional dos órgãos do judiciário trabalhista.

Entre outros fatores, a edificação contempla recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência e idosos, com rampas, vagas específicas no estacionamento e sanitários adaptados. Outro aspecto importante envolve sustentabilidade, com maior aproveitamento de luz natural e a adoção de um sistema de captação de água da chuva utilizada nas descargas dos sanitários. O prédio é equipado ainda com torneiras e mictórios com fechamento automático, também visando à economia de água.

Os servidores da VT interagiram com o GMP para a coleta de demandas de aspectos estruturais e organizacionais, além de verificar indicadores de qualidade de vida, mediante o levantamento de fontes de estresse. Coordenado pelo juiz auxiliar da Presidência do Tribunal, Flávio Landi, o GMP tem a missão de intensificar os canais de comunicação entre a 1ª instância e as áreas administrativas do Tribunal. Complementam a equipe a psicóloga Juliana Barros de Oliveira, a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro, a servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional e os agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que analisam questões relacionadas à área de segurança. Também integram o grupo, profissionais da área de Comunicação do Tribunal, responsáveis por elaborar reportagens sobre as unidades visitadas, seus servidores e magistrados.

"Acasos da vida"

Depois de cinco anos trabalhando na 1ª Vara Cível de Mogi Guaçu, na Justiça Estadual, Márcio Roberto Vallim, 47, tomou posse, no dia 18 de janeiro de 2011, como técnico judiciário na VT, onde recebe petições eletrônicas, protocolos em malote digital, dá andamento a toda parte de notificação de testemunhas, autuação dos processos e faz, de quando em quando, o atendimento telefônico.

Formado em Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 1991, emendou mestrado em engenharia de materiais, na área de plásticos e borracha como condutores de energia elétrica; e doutorado, com linha de pesquisa centrada em plásticos recicláveis. Paralelamente, dava aulas de química, física e matemática no ensino médio, técnico e superior, este último, nas Faculdades Integradas Maria Imaculada, em Mogi Mirim. Chegou a trabalhar também na iniciativa privada, na antiga Alpargatas, no mesmo município.

O investimento na carreira judiciária foi motivado em parte, por questões financeiras. Casado e pai de duas filhas na época, Mariana e Beatriz (hoje com 19 e 17 anos, respectivamente e tem também a Luíza, com 10), resolveu prestar concurso público para o Tribunal de Justiça com vaga em Mogi Guaçu. "O salário era melhor, quase dobrava com relação à remuneração de professor. Foi também um período muito intenso entre a pesquisa e a licenciatura", relembra.

"Acasos da vida". Assim define Márcio Roberto Vallim sobre o uso de óculos "fundo de garrafa" que corrigiam seu alto grau de miopia, um mal de família, e uma bolada numa partida de futebol, que lhe tirou a visão de um dos olhos, quando tinha por volta de 30 anos. "Foi no final do doutorado e um fator muito complicador. Tive descolamento de retina e fiz tratamento por um ano, mas não adiantou", conta. Depois desenvolveu uma catarata irreversível no outro olho, resultando em perda total da visão.

"Tive que retomar a minha vida. Foi um extenso processo de reabilitação em que se tornou essencial procurar ajuda de instituições especializadas como o Instituto dos Cegos, participar de terapias de grupo na tentativa de acabar com o sentimento de vitimização. Conheci pessoas em situação pior que a minha, convivi com os outros e descobri que estava no céu, apesar das dificuldades", sintetiza.

Márcio teve que reaprender a caminhar, a ler em braille. A informática também foi importante para ajudá-lo a reerguer-se e adquirir confiança, além da companhia de um fiel escudeiro, Champ, um cão-guia da raça labrador, treinado em Brasília em projeto específico do Instituto de Integração Social e de Promoção da Cidadania (Integra). Ele está com Márcio há pouco mais de oito anos.

A mudança do TJ para o TRT foi na empolgação. Resolveu prestar o concurso para a Justiça do Trabalho da 15ª e acabou sendo aprovado e chamado antes do esperado. "Tudo mudou da água para o vinho. A Secretaria de Gestão de Pessoas me deu total apoio e atenção". O Tribunal providenciou rapidamente a compra e a instalação do software especial Virtual Vision para que Márcio pudesse fazer a leitura de textos em word e da Internet, além de um "scanner" especial, capaz de "ler" com mais detalhes, especialmente as configurações virtuais do ambiente de trabalho. "O processo de adaptação foi muito melhor do que no TJ e o cão-guia sempre rouba a cena", brinca Márcio, o primeiro servidor com cegueira total a ingressar por concurso no TRT da 15ª, concorrendo na cota de 5% de vagas reservadas a pessoas com deficiência. "Minha perspectiva é boa para o futuro, quero melhorar e crescer profissionalmente na Justiça do Trabalho", finaliza.

"Em um ambiente bom de trabalho é difícil ter barreiras"

Vera Aparecida da Silva estaciona seu próprio carro para mais um dia de trabalho na VT de Mogi Guaçu. Nem acredita que retomou suas atividades normais depois de um ano e meio de licença-saúde e boa parte dela, presa a uma cama. Vitima de poliomielite quando criança, apresentou depois de muito tempo, um desgaste crônico no joelho, sendo obrigada a passar por cirurgia, em novembro de 2012. "Tive algumas complicações, minha recuperação não foi com a mesma rapidez das outras pessoas. Usei ‘gaiola', tive que fazer muita fisioterapia e me adaptar à cadeira de rodas".

Nesse mesmo período vivenciou um forte estresse por conta da perda da mãe. "Tive que tomar antidepressivos. É natural com esse quadro. Sempre fui muito ativa e por esse motivo voltei. Sabia que teria esse suporte de qualidade de vida no trabalho. Recebi o apoio incondicional dos colegas. Gosto do que faço e das pessoas que trabalham comigo. Quando você se sente bem no ambiente de trabalho é difícil ter barreiras".

Cedida pela prefeitura municipal, Vera ingressou na VT em 26 de agosto de 1993 para ajudar no atendimento ao público cerca de nove meses após a inauguração, e se integrou totalmente ao ritmo de trabalho. Locomovia-se com a ajuda de bengala e não tinha muitas limitações, apenas o cuidado de manter-se ereta para não afetar a coluna vertebral. Sua fama sempre foi de grande guerreira. "Está sempre empolgada, nada a segura", dizem os colegas. Vera planeja sua aposentadoria para 2015.

Mais sobre Mogi Guaçu

Distante 68 quilômetros do município-sede do TRT, Campinas, Mogi Guaçu vai completar em abril de 2015, 138 anos de história e emancipação. Assim como muitas cidades paulistas, desenvolveu-se a partir do cultivo do café e da construção da malha ferroviária da companhia Mogiana, em 1875. O fim da escravidão e a chegada dos imigrantes italianos fizeram Mogi reinventar-se. Surgiram as primeiras cerâmicas e indústrias de outros segmentos. Atualmente é o setor que mais emprega, seguido da construção civil e comércio, de acordo com informações da prefeitura municipal.

A Justiça do Trabalho local foi instalada em 6 de novembro de 1992, ainda sob nomenclatura de Junta de Conciliação e Julgamento (JCJ). A movimentação processual no ano passado ultrapassou a casa dos 1.500 processos, patamar considerado adequado para o bom funcionamento da prestação jurisdicional. Deram entrada na VT, 2.095 novas ações e foram solucionadas 2.068. A unidade atende também as demandas trabalhistas oriundas do município de Estiva Gerbi. Segundo estimativa de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somadas, as duas cidades totalizam uma população de aproximadamente 157 mil habitantes.

Por Ana Claudia de Siqueira

Unidade Responsável:
Comunicação Social