Em Votuporanga, servidores da JT esbanjam carisma, constata Grupo Móvel da Presidência do Tribunal

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Texto e fotos: Luiz Manoel Guimarães

Álvares Florence, Américo de Campos, Cardoso, Floreal, Gastão Vidigal, Magda, Monções, Nhandeara, Nova Luzitânia, Parisi, Pontes Gestal, Riolândia, Sebastianópolis do Sul e Valentim Gentil – é preciso fôlego para dizer o nome de todos os municípios que completam a jurisdição da Vara do Trabalho de Votuporanga, instalada na Rua Alagoas, 2.915. No total, mais de 170 mil pessoas são atendidas pela unidade.

Apesar de seu nome significar "brisa suave" em tupi-guarani, a cidade está entre as mais quentes do Estado de São Paulo e não raramente a temperatura passa dos 40 ºC. No último dia 11 de fevereiro, no entanto, Votuporanga recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP) com as primeiras chuvas depois de algumas semanas de estiagem, e o calor deu uma trégua aos visitantes. Criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, como um canal direto de comunicação com a Presidência da Corte, o GMP é coordenado pelo juiz Flávio Landi e já visitou, em cerca de um ano de trabalho, mais de cem unidades da 15ª, entre VTs, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos.

O objetivo principal é identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento, mas o Grupo pretende também, por meio das matérias publicadas no site do Tribunal, dar aos servidores do TRT a oportunidade de se conhecerem. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do TRT com os cedidos por outros órgãos públicos, e estão espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo.

Eficiência

Um dos servidores da VT de Votuporanga, Júlio Fernando Gava de Barros (na foto abaixo) ouvia normalmente até os sete anos. De repente, de uma só vez, viu-se em meio ao silêncio profundo. "Foi como se uma chave tivesse sido desligada", compara ele. Desde então, acometido de surdez sensório-neural bilateral, de grau severo para profundo, segundo ele próprio, Júlio depende de um aparelho para ouvir alguma coisa. "Mesmo assim, são só alguns sons, que eu não consigo identificar."

A deficiência, no entanto, não impediu Júlio, um craque na leitura labial, de construir sua carreira. Aos 15 anos já trabalhava como office-boy numa construtora, lá mesmo em Votuporanga. Foram sete anos galgando cargos na empresa, até que a aprovação num concurso público o levou à prefeitura da cidade, onde ficou por mais dois anos, como escriturário. Sucessivamente bem sucedido em concursos, Júlio passou ainda pela Justiça Estadual (foram nove meses como auxiliar judiciário), antes de, em 1º de outubro de 1993, aportar na Justiça do Trabalho, aprovado para o cargo de técnico judiciário. Dois meses depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo o convocaria novamente, desta feita para o cargo de escrevente, mas ele se decidiu pela JT. "Fiz um bom negócio", brinca Júlio, que chegou a ser convocado também para o cargo de analista judiciário na 15ª, mas como a vaga era para a VT de José Bonifácio, a cerca de 120 quilômetros de Votuporanga, ele, votuporanguense "da gema", resolveu abrir mão da mudança e permanecer na cidade natal.

Perfeccionista "confesso", Júlio raramente comete um erro em seu trabalho, garantem os colegas da VT. "A gente ‘comemora' quando ele erra", brincam eles. Formado em direito e em ciências contábeis, com pós-graduação em direito público e direito privado, o servidor é ainda o expert em informática da unidade.

Outra de suas características é a independência – viajar para a Itália anualmente, por exemplo, é evento obrigatório em seu calendário. Júlio já visitou o "país da bota" quatro vezes. Na primeira, numa excursão, que incluiu também Espanha e França. Nas outras três, no entanto, foi sozinho, "por conta", como se costuma dizer, e a próxima já está agendada para agosto deste ano. Não demorou para ele ser "adotado" por duas famílias que, embora tragam o mesmo sobrenome – Gava – dos avós de Júlio, não têm com ele nenhuma relação de parentesco oficial, pelo menos não que se saiba. Agora, quando desembarca na terra das massas, Júlio é o "primo" querido, que acaba "disputado" pelos Gavas de Sacile e pelos de Campodarsego, nas Províncias de Pordenone e Pádua, respectivamente, ambas no nordeste italiano. Para a sorte de uns e outros, a solidariedade familiar prevalece: Júlio sabe que ir a uma é garantia de ser levado à outra, ao final, cerca de 100 quilômetros estrada a fora.

Dedicação

Maria Avelina Lisboa e Silva de Moura (na foto acima) é a carismática responsável pelo balcão da VT, uma espécie de "relações públicas" informal da unidade. Paulistana de nascimento, ela se mudou com apenas um ano de idade para Votuporanga, de onde não saiu mais.

Aos 18 anos, Maria Avelina já era funcionária de um frigorífico da cidade, onde trabalhou por mais de três anos, período no qual cursou administração de empresas, além de começar a prestar concursos. Em 27 de abril de 1983, há quase 31 anos, tornou-se servidora da JT, ainda na 2ª Região (a 15ª só seria criada três anos mais tarde). O ingresso no Judiciário a levaria a cursar a faculdade de direito também.

Nessas mais de três décadas, já fez "de tudo um pouco" na JT, inclusive ser assistente da diretora da secretaria da VT, mas o trabalho com que realmente se identifica é o atendimento ao público. "Trabalho de bem com a vida. É gratificante ajudar as pessoas mais simples", sublinha a servidora, que, certa vez, recebeu de uma senhorinha idosa, de uns 70 anos, mais ou menos, o desejo de que lhe caísse "uma chuva de bençãos". "Uma chuva, não. Uma tempestade, um dilúvio", corrigiu de imediato a simpática velhinha, de tão gratificada.

A dura lida no balcão, todavia, tem seu outro lado. Embora o atendimento só tenha início ao meio-dia, Maria, por vezes, logo às 8 da manhã já se encontra a postos na VT, para adiantar o serviço interno. "Tento manter o humor sempre, mas, se bate o estresse, fico sozinha por um tempo, só um pouquinho, para me acalmar."

Casada com José Alves de Moura, também servidor da VT, com quem tem os filhos Aline, 27 anos, terapeuta ocupacional radicada em Campinas, Marianne, 22, perita em redes de computadores, e Leonardo, 18, estudante do 2º ano de engenharia do petróleo, em Santos, Maria ainda encontra disposição para o trabalho voluntário na Paróquia de Santa Luzia, em Votuporanga, mesmo, no projeto chamado "Associação Católica Pequeninos do Senhor", cuja sede fica na Arquidiocese de Campinas. Desenvolvida em todas as paróquias interessadas, a iniciativa consiste em evangelizar, com o auxílio de desenhos, pinturas e outros recursos lúdicos, crianças de 3 a 7 anos, durante as missas e celebrações dominicais. "É muito mais um lazer do que um trabalho, na verdade", sublinha Maria.

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Comunicação Social