GMP em Hortolândia: carreira de servidor da VT se confunde com a própria história do Tribunal
Embora sua jurisdição se restrinja apenas à cidade onde está sediada, a Vara do Trabalho (VT) de Hortolândia, município da Região Metropolitana de Campinas (RMC), atende mais de 210 mil pessoas. Instalada na Avenida Anhanguera, 252, a unidade recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte.
Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores de cada unidade visitada são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse e recebem um feedback com as conclusões das especialistas do Grupo no tema, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira e a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro. O GMP também registra demandas de caráter estrutural ou administrativo, por intermédio da servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional. Já os problemas relativos à área de segurança são analisados pelos agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que também integram a equipe.
Outra missão do Grupo é traçar um perfil dos servidores da 15ª. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, ou pelo menos uma parte deles, que, espalhados por cerca de uma centena de cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.
Testemunha ocular
Fernando Bello Fernandes de Araújo, diretor da secretaria da VT de Hortolândia, por exemplo, é servidor do TRT-15 desde a fundação da Corte, em dezembro de 1986. "Participei da Comissão Instaladora", lembra ele, que fez parte da equipe liderada pelo desembargador Pedro Benjamin Vieira, presidente instalador do Tribunal. Uma das tarefas do grupo foi localizar em Campinas um prédio que pudesse ser a primeira sede do TRT, desafio que teria fim com a localização do edifício da Rua Doutor Quirino, 1.080, que sediou o Regional por quase 16 anos e hoje abriga a sede administrativa da Corte.
De início, Fernando dirigiu o então Serviço (hoje Coordenadoria) de Compras e posteriormente foi diretor de Material e Patrimônio. A migração para a 1ª instância, no final de 1991, o levou à direção da Distribuição de Feitos do Fórum Trabalhista de Jundiaí, cargo que ele exerceu também em Piracicaba e Americana, até que, já em 1997, começou a trabalhar em secretaria de VT. Passou pela 4ª, pela 8ª – onde foi secretário de audiência e assistente de diretor – e pela 6ª de Campinas, na qual foi nomeado pela primeira vez para a direção, em 2003. Com a inauguração da VT de Hortolândia, em 16 de dezembro de 2005, Fernando se tornou o primeiro diretor da secretaria da unidade. "Contribuí, com a força do meu trabalho, para a construção do Tribunal, que não demorou para se tornar o segundo maior do País na Justiça do Trabalho, e os jovens que estão ingressando na 15ª nos últimos anos, tanto magistrados quanto servidores, vêm melhorando e muito aquilo que nós daquele primeiro grupo sonhamos", afirma o servidor.
Equipe da VT de Hortolândia - Fernando é o terceiro à direita
O tom de despedida é justificável. A aposentadoria se aproxima, e alguns planos já estão traçados. "Aposentar-se é um momento que pede preparação. É como o casamento, um filho, um novo emprego", defende Fernando. A propósito, tocar uma empresa juntamente com o filho, ?, administrador de empresas no ramo de comércio exterior, é uma possibilidade. "Ele pretende montar o próprio negócio, um escritório nessa área, prestando serviço a importadores e exportadores." Uma viagem à Europa com a esposa, Magda, porém, é a ideia mais imediata, sem falar em algo mais "radical": "Minha mulher, eu e mais três casais vamos despachar nossas motos de Viracopos para Buenos Aires e de lá atravessaremos os Andes, numa viagem de seis mil quilômetros e aproximadamente 30 dias", planeja o diretor. "É o tipo de coisa impossível de se fazer quando se está trabalhando. Partiremos sem uma data exata para retornar, apenas com uma previsão. Se gostarmos muito de um lugar, podemos permanecer nele por mais tempo do que o inicialmente estipulado. Será a realização de um sonho."
Magda e os amigos, no entanto, não serão seus únicos companheiros nessa verdadeira expedição. A sensação de dever cumprido também estará com esse carioca da Praia de Botafogo e sofrido torcedor do Club de Regatas Vasco da Gama. "É possível, sim, fazer Justiça do Trabalho no solo paulista", garante Fernando. "Aqui em Hortolândia, por exemplo, era comum no início as ações trabalhistas incluírem o pedido de anotação e assinatura do próprio contrato de trabalho na carteira profissional do reclamante. Hoje isso mudou bastante. A presença atuante do Estado no município, na figura da Vara do Trabalho, transformou essa realidade, de forma que, atualmente, as ações envolvem questões muito mais complexas, uma vez que o desrespeito aos direitos mais imediatos do trabalhador diminuiu. A partir da presença do Estado, a cidadania passa a prevalecer."
A cidade
Os primeiros capítulos da história de Hortolândia têm início entre os séculos XVIII e XIX, com o cultivo de café e algodão nas terras que, à época, eram conhecidas como bairro Jacuba, nome que, em tupi-guarani (y-acub), significa "água quente". Vem de um pirão feito com farinha de mandioca, cachaça, açúcar e mel e que era muito apreciado por viajantes que passavam pela região naquela época.
Em 1947, surge o primeiro loteamento, o Parque Ortolândia, pertencente a João Ortolan. O empreendimento começa a trazer urbanização para o local e, seis anos mais tarde, o vilarejo, ainda com a denominação de Jacuba, é alçado à condição de distrito do Município de Sumaré. O nome Hortolândia só seria adotado em 1958.
Já nos anos 1980, a instalação no local de várias indústrias, atraídas por incentivos fiscais, faz Hortolândia tornar-se responsável por mais de 60% da arrecadação de Sumaré. Começa um movimento que culminaria num plebiscito em 19 de maio de 1991, quando a maioria dos eleitores locais vota a favor da emancipação, dando origem ao município. (Com informações da Prefeitura de Hortolândia e do IBGE)
- 20 visualizações