GMP reúne-se com servidores da VT de Guaratinguetá, a terra das garças brancas
Do tupi-guarani gûyrá-ting-etá: muitas garças brancas. O povoado surgiu por volta de 1600, às margens do Rio Paraíba, habitat natural das aves naquela época. A informação fidedigna revela-se em diversos livros assinados pelo casal de estudiosos Thereza Maia e Tom Maia, crias do município e referências bibliográficas quando o assunto é história do Vale. Na Praça Martin Afonso, nas proximidades do rio, descansam três garças brancas de 10 metros de altura, em monumento que homenageia a origem do nome dado pelos índios. Perto dali, a uns dois quilômetros de distância, no Bairro Chácara Selles, a Vara do Trabalho de Guarantiguetá, situada na rua Professor Sylvio José Marcondes Coelho, 33, não pára. A unidade judiciária atende, além da população local, o município de Cunha. São mais de 140 mil jurisdicionados segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e uma movimentação que ultrapassa os 1.500 processos ao ano.
Ao interagir com o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), os servidores puderam fazer uma autorreflexão sobre qualidade de vida e participar de uma avaliação com base em indicadores de níveis de estresse no trabalho, a cargo da psicóloga da equipe Juliana Barros de Oliveira e da assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro. Na sequência, a servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, também integrante do GMP, coletou demandas de aspectos estruturais e organizacionais da VT, que foram apresentados posteriormente ao presidente do TRT, Flavio Allegretti de Campos Cooper e ao juiz auxiliar da Presidência e coordenador do grupo, Flavio Landi. Assuntos relacionados à segurança foram tratados pelos servidores com os agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos que também fazem parte do GMP.
De advogado a servidor e construtor de aeromodelos
Na VT de Guaratinguetá trabalha como assistente de juiz, o servidor Alexandre Gomes César, cargo que ocupa graças a sua formação em Direito. Alexandre finalizou o curso em 2002, na tradicional Universidade de Taubaté (Unitau). Chegou a atuar por cerca de um ano e meio como advogado na região, principalmente no litoral, em Caraguatatuba. As viagens constantes fizeram-no repensar o futuro. "Era muito tempo dirigindo no mesmo dia, não tinha condições de dar continuidade, e fiquei um pouco decepcionado, não com o Direito, mas por conta da morosidade. Não via as coisas andarem". Alexandre nunca se interessou pela área trabalhista, mas acabou prestando concurso em 2004 para analista judiciário no TRT-15. Ingressou na 15ª Região em 20 de novembro de 2005, no Fórum Trabalhista de Taubaté. "A Dra. Andréia, que era diretora do FT na época, quando me viu trabalhando ficou surpresa e perguntou o que estava fazendo ali. Como atuava como advogado já a conhecia. E aí comentei: agora sou servidor. Foi muito legal". Trabalhou também na Vara do Trabalho de Pindamonhangaba por um ano e meio e em 30 de abril de 2012 transferiu-se para a VT de Guaratinguetá. Entre seus planos está a Magistratura e anda se preparando para isso.
Nas horas vagas, Alexandre troca os processos trabalhistas pelo isopor e madeira para construir verdadeiras engenhocas voadoras. Aquele sonho de menino que soltava pipas pelas ruas da cidade virou coisa séria e até motivo de pequenas querelas com a esposa Heloísa. "Os aviões tomam conta do rack de casa e das prateleiras do escritório", confidenciou Alexandre. A atividade, que começou com garrafas pet e protótipos movidos a água, foi se aperfeiçoando, impulsionada por seus conhecimentos em mecânica, eletrônica e informática, adquiridos no período em que fez curso técnico. Construiu uns 20 desses antes de literalmente alçar voo. "Para montar é preciso definir as características do tipo de voo que se quer fazer. Estudos do ângulo diédrico permitem aumentar a estabilidade dos aviões e limitar as manobras", explicou demonstrando domínio dos princípios da geometria espacial. Segundo Alexandre, os primeiros protótipos foram feitos para treinar, alguns com base em plantas baixadas da internet, outros feitos com restos de materiais apenas para aprender a pilotar e por último, os aviões montados a partir de kits de madeira já cortados, que funcionam por controle remoto. Além da habilidade com os aeromodelos, o servidor tem "fama" de bom cozinheiro. Uma vez por mês a unidade se reúne para comemorar os aniversários do período e é Alexandre quem pilota o fogão.
A passos largos e apressados
A servidora Sandra Mara Maia Braga Machado é guaratinguetaense e desportista. Sempre gostou de esporte e já praticou de tudo um pouco: natação, voleibol, balé, tênis e sapateado. No ano passado se enveredou pela corrida e não largou mais. A inspiração veio de um artigo que leu sobre o maratonista mais velho do mundo, o britânico de origem indiana Fauja Singh, que iniciou sua carreira nas pistas aos 89 anos e participou de sua última competição aos 100 anos, em 2012. A dedicação ao esporte passou a ditar o modo de vida de Sandra, a influenciar sua alimentação e até no gosto pela leitura. "Sou fissurada sobre o assunto".
Os treinos ocorrem nas segundas, quartas e sextas, e nas terças e quintas, faz musculação com o objetivo de fortalecer os membros, principalmente os joelhos. "Não corro menos de cinco quilômetros. Corrida é um vício e também pretexto para viajar, passear e conhecer gente nova". O marido Lauro a acompanha de vez em quando e os filhos Lucas (13) e Raphael (16) a incentivam. Já participou da competição de cinco quilômetros da Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro e recentemente, garantiu o terceiro lugar em sua categoria na Corrida de Rua promovida pela Unimed de Guarantinguetá.
O apreço pela prática esportiva só perde mesmo para Justiça do Trabalho, onde aprimorou conhecimentos, ampliou laços de amizade e garantiu mais qualidade de vida. Sandra formou-se em Processamento de Dados pela Unitau em 1988 e logo depois casou-se, mudando-se para São Paulo. "A vida na capital não foi nada fácil. Sentia muita saudade dos meus pais e de Guarantinguetá. Influenciada por meu marido, que é advogado, fui fazer Direito na UNIP e acabei prestando concurso para o TRT da 2ª Região". Sandra ingressou como técnica judiciária em 1997. A tão esperada transferência para a 15ª Região, mais precisamente para a VT de Guarantinguetá, ocorreu em fevereiro de 2001. O envolvimento com a JT resultou em curso de pós-graduação em Direito do Trabalho, Processual do Trabalho e Direito Previdenciário, finalizado em 2010 no Centro Universitário Salesiano de São Paulo - Unisal, campus de Lorena (SP).
Mais sobre "Guará"
Terra das garças, do conselheiro do império e presidente do País por dois mandatos, Rodrigues Alves e do primeiro santo católico brasileiro, Frei Galvão, Guaratinguetá (ou simplesmente Guará), com seus atributos geográficos e econômicos, é conhecida como a capital do fundo do Vale. Historicamente, o município, que fica a 235 quilômetros de Campinas, sede do TRT-15, viveu o auge da cafeicultura na segunda metade do século XIX, enfrentando posteriormente, o esgotamento de terras e o surgimento, a partir de 1920, de novos focos de atuação como a pecuária, a industrialização e o comércio. A instalação da Escola de Especialistas de Aeronáutica em 1950 daria inicio ao polo educacional de Guará, complementado com o funcionamento, a partir de 1966, do campus da Unesp – Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá (FEG) e em décadas posteriores, do SENAC (1983) e da FATEC – Faculdade de Tecnologia (1994). A população passou a contar com a atuação local da Justiça do Trabalho em 13 de fevereiro de 1979, quando foi instalada a Junta de Conciliação e Julgamento (JCJ), atual VT. (Com informações da Prefeitura Municipal de Guaratinguetá e IBGE).
Por Ana Claudia de Siqueira
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