GMP visita Vara do Trabalho de Cruzeiro

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 Texto e foto: Ana Claudia de Siqueira

"Estou vivendo o melhor momento de minha vida", comemora o técnico judiciário Manoel José Ferreira Lobianco, após quase dois anos de atuação na Vara do Trabalho de Cruzeiro.  E já se foram muitos deles em seus 55 anos bem vividos. Dono daquele sotaque bem carioca em que o "s" tem som de "x" (uma herança dos portugueses no Rio de Janeiro, que por quase dois séculos foi capital do país), o alegre e extrovertido Manoel conquistou os colegas em pouco tempo. Diante da proposta do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), seu nome soou uníssono, vindo logo à tona. "Uma história a ser contada", ou muitas histórias, seria certo acrescentar.

Os servidores da Vara do Trabalho de Cruzeiro receberam em abril os integrantes do GMP. Entre os objetivos do grupo está o de coletar demandas de aspectos estruturais e organizacionais das varas e postos, além de verificar indicadores de qualidade de vida de juízes e servidores, mediante o levantamento de fontes de estresse.  Coordenado pelo juiz auxiliar da Presidência do Tribunal, Flávio Landi, o GMP tem a missão de intensificar os canais de comunicação entre a 1ª instância e as áreas administrativas do Tribunal. Com participação espontânea tanto de juízes como de servidores, o GMP dá ainda a todos os profissionais da 15ª Região a oportunidade de se conhecerem, por meio de reportagens publicadas no site ou na revista interna on-line Ser15.

O jornaleiro

O menino Manoel nasceu em 1959 e foi criado em Marechal Hermes, o primeiro bairro operário do país, fundado em primeiro de maio de 1913 pelo então presidente Hermes da Fonseca. A vila, situada na zona norte do Rio, ficou conhecida como Pequeno Portugal por concentrar grande número de imigrantes portugueses. Manoel cresceu em suas ruas largas, convivendo com pessoas que aprenderam, logo cedo,  a dar o devido valor ao trabalho, a começar por seu pai, que sustentava a família como "trocador" de ônibus. Após finalizar o segundo grau na escola pública do bairro (José Accioly), Manoel partiu para a labuta em uma distribuidora de jornais, para logo depois virar jornaleiro no posto 6 de Copacabana. Vendia exemplares nos semáforos e na banca. A jornada era puxada, das 22 horas às 8 da matina, 365 dias por ano. Foram 11 anos assim.  Casou-se em 1987, aos 27 anos, com Ana Lúcia, com quem teve dois filhos, Leonam (18) e Sílvio César (23). O fato de não ter vida social passou a incomodá-lo. Foi aí que decidiu ser microempresário, e com um sócio, alugou sua própria banca de jornais na rua Joaquim Nabuco, paralela a orla de Copacabana, perto do Parque Garota de Ipanema. Ali transitava clientes ilustres. Deparou-se, por exemplo, com o músico Arnaldo Antunes, que surgiu de madrugada, de pijama, atrás de notícias frescas. Fez muita amizade. "O jornaleiro é o amigo do bairro", salienta. Lidar com jornais fez dele leitor assíduo também. Das manchetes lembra-se bem das Diretas Já, das eleições e das "peripécias" de Leonel Brizola no Rio.

Meu nome é Bond, James Bond

Carioca inquieto, Manoel desfez a sociedade em 1989 e resolveu atacar de taxista. Comprou um Chevette quatro portas modelo 1979, todo caracterizado. "Daquele jeito, amarelo de faixa azul", complementa. "O carro era muito ruinzinho, quebrava toda hora.  Tive tanto prazer em comprá-lo e depois o desprazer de reconstruí-lo. Na peça de ferro velho chovia mais dentro do que fora, mas eu queria autonomia". Ainda apegado às notícias – lia de quatro a cinco jornais por dia – Manoel bem que poderia ter se tornado personagem das páginas policiais. No expediente noturno foi assaltado "umas sete vezes", com direito a revólver na cabeça. "Papai do céu surge em momentos críticos", dispara. Safou-se das investidas e, o carro, sem condições mais de uso, levou-o a recorrer à cooperativa de taxistas. Se endividou para pegar um Chevette 1992, semi-novo, numa época de inflação galopante.  De vítima, passou a 007, ao se embrenhar pela favela da Maré para encontrar o veículo roubado de um colega. "Cerca de 80 táxis fizeram a busca e justo eu o achei, num beco bem escondido. Como o número identificador de meu rádio amador PX era 007, logo ganhei o apelido de James Bond. E o pior é que não sabia muito bem a minha localização dentro da favela para avisar os companheiros", conta divertidamente.

Manoel só não fez parto, mas quase nasceu um bebê no banco traseiro de seu táxi. "Estava na região de Honório Gurgel,  já no fim do plantão, com o dia ganho. Fui à padaria e logo surgiu uma senhora meio desesperada, pedindo para levar a filha ao hospital. Tenho essa coisa de querer servir e ajudar. O bebê quase nasceu durante a corrida e nem recebi por ela", revela. Entre um serviço e outro, Manoel cursou a faculdade de Direito na UniverCidade Vaz Lobo. Foi aprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em 2006 e chegou a trabalhar na área por três meses, conciliando com o táxi. "Não gostei muito de advogar. Minha característica é servir, e por isso, prestei meu primeiro concurso público em 2009, para a Justiça do Trabalho". Tomou posse no TRT-15 em 3 de setembro de 2012 e passou a atuar na VT de Cruzeiro. São muitas as comemorações desde então. Tirou férias pela primeira vez na vida recentemente, em abril. A viagem à Fortaleza com a esposa  foi um marco, depois de 27 anos de casamento. O único empecilho de viver na pequena Cruzeiro, segundo ele,  é a distância da família, que continua no Rio.  "Fui muito bem recebido aqui e adoro o que faço. Me sinto um devedor e tenho que fazer mais, produzir mais". Prestes a cursar pós-graduação – está em dúvida entre Direito Processual do Trabalho e Direito Constitucional – Manoel orgulha-se de poder comprar seus próprios livros. Quanto ao táxi, um Corsa 2006, ainda está lá, sob os cuidados de seu filho mais velho.

VT de Cruzeiro fechou 2013 com mais de 2.000 processos

A Justiça de Trabalho de Cruzeiro completou 27 anos em 2014. A Junta de Conciliação e Julgamento (JCJ, como eram chamadas as VTs) foi inaugurada em 20 de março de 1987. Além do município-sede, com mais de 80 mil habitantes (segundo estimativa de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE), a VT atende também a população de São José do Barreiro, Lavrinhas, Queluz, Silveiras, Arapeí, Bananal e Areias. Em 2013 foram ajuizadas na VT, 2.153 novas ações e solucionadas 2.148, restando um saldo de 1.165 processos pendentes de solução em 31 de dezembro, na fase de conhecimento. Quanto à fase de execução, o saldo era de 1.901 processos em abril de 2014.

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Comunicação Social