Grupo Móvel da Presidência do TRT vai à VT de Lins, 1ª em movimento processual na 15ª em 2013
Texto Luiz Manoel Guimarães
Em março deste ano, a cidade de Lins recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Emancipado em 21 de abril de 1920, o município deve seu nome ao político Manuel Joaquim de Albuquerque Lins, presidente da então Província de São Paulo de 1908 a 1912.
A Vara do Trabalho (VT) local, na Rua Val de Palmas, 168, também tem jurisdição sobre Balbinos, Cafelândia, Getulina, Guaiçara, Guarantã, Pirajuí, Pongaí, Promissão, Reginópolis, Sabino e Uru, cidades que, junto com a própria Lins, somam aproximadamente 207 mil habitantes. Em 2013, a VT foi a que mais recebeu processos em toda a 15ª Região, com nada menos do que 3.431 ações novas.
Paulistana "no último", a começar pela ascendência japonesa e italiana, Luciana Keiko Cardin Rizzo faz parte da equipe encarregada de enfrentar essa demanda desafiadora. Desafios, aliás, não são novidade para a servidora, que encarou e venceu a própria morte.
Sobrevivente
Ironicamente, o momento mais difícil da vida de Luciana não se deu na capital, com seus quase 12 milhões de habitantes e altos índices de violência – e onde a servidora viveu até os 18 anos, sem jamais ser assaltada –, mas na pequena Promissão, de apenas 35 mil moradores atualmente. A cidade é a terra natal dos pais da servidora, Euclides e Yoshiko, e para lá a família ia com frequência, para visitar os parentes.
Numa dessas ocasiões, no final da década de 1980, Luciana conheceria Valdemir, seu futuro marido. Não demorou para ela fazer o caminho inverso ao percorrido por seus pais décadas antes. Na época, a servidora era funcionária da Itautec, braço tecnológico do Itaú, e conseguiu uma transferência para uma agência do banco em Penápolis, indo morar em Promissão.
O ano de 1993 marcaria Luciana para sempre, literalmente do início ao fim. Em janeiro, ela ingressou na Justiça do Trabalho, já na VT de Lins, e, em 10 de dezembro, casou-se com Valdemir. Marcante também seria o dia 10 de outubro de 2006, quando teria início o drama da servidora. A residência do casal era ao mesmo tempo a sede da empresa de transporte coletivo fundada por Valdemir e, naquele dia, ao sair ao quintal de casa, logo pela manhã, Luciana foi surpreendida por um bandido mascarado e de arma em punho. Com o susto, ela não conteve o grito, levando seu marido a correr em seu socorro. Foi a vez de o marginal se assustar e atirar no casal. No reflexo, Valdemir se agachou e não foi alvejado, descreve Luciana. Ela, no entanto, por muito pouco não ficou paraplégica. "Levei um tiro de .38 no peito. A bala simplesmente se alojou a apenas quatro milímetros da medula", explica a servidora.
O imprevisto fez o bandido desistir do assalto e fugir, junto com quatro comparsas (três homens e uma mulher), mas a quadrilha acabou sendo detida pela Polícia Militar em poucas horas. Dias depois, prenderam também o último integrante do bando, um empregado de Valdemir, responsável por "dar o serviço" para o grupo, lembra Luciana. "Foi o primeiro assalto à mão armada da história de Promissão. Parou a cidade."
Seu drama estava apenas começando. Sem Corpo de Bombeiros na cidade, restou-lhe percorrer os 20 quilômetros até o hospital, em Lins, num velho fusquinha que, àquela altura, ainda prestava serviço à PM. "Eu gritava de tanta dor."
No hospital, conta a servidora, os médicos divergiam. Uns entendiam que a bala tinha de ser extraída. Outros preferiam não mexer nela, em virtude dos riscos da cirurgia para a coluna vertebral. Foram 10 dias de internação, seis deles na UTI, além de uma semana em casa, à espera de uma solução, período em que Luciana permaneceu deitada e chegou a tomar morfina para suportar a dor.
Durante todo esse tempo, Valdemir procurou um médico que pudesse salvar sua esposa. A persistência valeu a pena. No Centro do Cérebro e Coluna, em São José do Rio Preto, a mais de 100 quilômetros de Promissão, ele encontrou o médico Eduardo Carlos, especialista em neurocirurgia da coluna. Lá, depois de seis horas de cirurgia, finalmente a bala foi retirada.
Foram necessários ainda 11 meses de recuperação e dois anos de fisioterapia intensiva. "Passei meses sem cobrir os pés, de tanto que doía. Nem um lençol eu conseguia pôr. Tinha de dormir com os pés descobertos", recorda a servidora, que, no entanto, enfrenta a situação com uma serenidade admirável. Em momento algum ela altera o tom extremamente calmo da voz, e o lado bom de todo o infortúnio, estar viva, é o que Luciana insiste em ver. "Nasci de novo, não posso nem reclamar. Acho que meu marido sofreu muito mais do que eu com tudo isso."
Tempos modernos
A servidora terá de conviver pelo resto da vida com fragmentos da bala e de ossos alojados em sua coluna, e a dor, garante ela, teima em lhe fazer companhia. Trabalhar, por exemplo, exige um esforço adicional. Todavia, em tempos de Processo Judicial Eletrônico (PJe), implantado na VT de Lins em outubro de 2013, a tecnologia tornou possível a Luciana voltar a ser uma profissional produtiva, graças ao chamado teletrabalho, o trabalho à distância. Duas ou três vezes por semana, ela ainda cumpre expediente "in loco", na secretaria da unidade, mas a maior parte do tempo de labuta é cumprida em casa. "Faz muita diferença para mim", diz Luciana, para quem investir parte do dia em atividade física tornou-se uma obrigação. "Faço natação diariamente, além de musculação às segundas e quartas, e pilates às terças e quintas. Não fosse por isso, acho que eu não conseguiria sair da cama."
À Justiça do Trabalho Luciana é duplamente grata – à instituição, de maneira geral, "por me dar a oportunidade de continuar a trabalhar", e aos colegas da VT, que lhe deram uma rara demonstração de solidariedade, no momento mais difícil de sua vida. "Quando cheguei ao hospital em Lins, no dia em que fui baleada, eles já estavam lá, me esperando. Todos eles."
Já são quase oito anos desde então, e em todo esse tempo a família também foi fundamental na recuperação de Luciana. Além de Valdemir e dos filhos Renan e Giovanni, hoje com 15 e 11 anos, respectivamente, ela pôde contar com os pais, que, depois de aposentados, voltaram a morar em Promissão.
A vida, por sinal, assegura a servidora, segue firme, sem traumas. "Não tenho medo de ficar sozinha em casa, por exemplo", afirma.
O GMP
Iniciativa pioneira, o GMP é coordenado pelo juiz Flávio Landi e tem como objetivo principal identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento. As atividades do Grupo em cada unidade incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os participantes são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados e as conclusões são enviadas a todos os que participaram das atividades. Até mesmo situações individuais são abordadas, quando há solicitação nesse sentido por parte do juiz ou servidor, e sempre com a preservação do sigilo.
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