Grupo Móvel da Presidência visita Itu, “terra dos exageros” e de servidores amantes do esporte

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 Texto: Luiz Manoel Guimarães
Colaborou Alessandra Xavier

Com origem tupi, Itu deriva de utu-guaçu, ou "grande queda d'água". Com mais de 160 mil habitantes e economia calcada no turismo, na indústria e no comércio, a cidade é também a terra natal de Prudente de Morais, primeiro presidente da República eleito no Brasil e primeiro civil a ocupar o cargo (1894-1898), logo depois dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

Mas a ideia que deu notoriedade nacional a Itu e que rende à cidade o título de estância turística, inclusive, partiu do humorista Francisco Flaviano de Almeida, também nascido na cidade e falecido em 2004. Provavelmente poucas pessoas vão ligar o nome à pessoa, mas se falarmos em Simplício, com certeza muita gente, sobretudo quem tiver pelo menos 30, lembrará facilmente do personagem que atravessou gerações como um dos frequentadores de "A Praça da Alegria", célebre humorístico criado por Manuel de Nóbrega nos anos 1950, e da versão mais recente do programa, "A Praça é Nossa", comandada pelo filho de Manuel, Carlos Alberto. No banco da "Praça", Simplício insistia que, em Itu, "tudo é grande", bordão em torno do qual fazia suas piadas.

A fama "pegou" e, em 1973, a cidade ganhava o maior símbolo de sua condição de "terra dos exageros", o famoso "orelhão de Itu", com sete metros de altura. Instalado na Praça Padre Miguel, ele já passou por duas reestilizações, a última em 2012, para se ajustar às mudanças ocorridas na telefonia do País nas últimas décadas. Ao orelhão logo se juntou o semáforo gigante, na mesma praça, junto à Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária. A despeito do tamanho, ele atua, de fato, como sinalização de trânsito, devendo ser respeitado por motoristas e pedestres. Além disso, várias lojas no entorno da praça vendem um sem número de suvenires de proporções exageradas – de réguas, lápis, borrachas e cadernos a chinelos, pentes e tesouras; de brinquedos a instrumentos musicais; de cédulas e moedas a chicletes.

Preparado para enfrentar o estresse

Na Rua Santa Cruz, nº 533, numa casa no Centro Histórico da cidade, funciona a Vara do Trabalho (VT) de Itu. A jurisdição da unidade inclui também o município de Cabreúva, somando cerca de 210 mil pessoas atendidas.

No último mês de fevereiro, a VT recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Uma das missões do Grupo é dar aos servidores do TRT a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.

Rogério Bueno de Oliveira é o diretor da secretaria da VT desde janeiro de 2012. Nascido em Jundiaí, ele ingressou na Justiça do Trabalho em 26 de junho de 1986, na 2ª Região, mais de cinco meses antes da criação da 15ª. Tinha apenas 22 anos e ainda cursava a faculdade de direito, mas já trazia a experiência de três anos como menor aprendiz no Banco do Brasil, e outros dois como funcionário da então Caixa Econômica Estadual, que viria a se tornar a Nossa Caixa, hoje extinta. Quando passou no concurso para a Justiça do Trabalho, havia sido aprovado também para as Justiças Estadual e Eleitoral e para o Banco do Estado de São Paulo, o Banespa, também extinto. Preferiu a JT.

Começou na então 1ª Junta de Conciliação e Julgamento – antiga denominação das VTs – de Jundiaí. Em apenas dois anos, já era o assistente do diretor, e bastaram mais cinco para Rogério assumir a direção da secretaria da 3ª JCJ da cidade, recém inaugurada. Em 2004, passou a dirigir a secretaria da 2ª VT de Sorocaba, onde ficou até dezembro de 2011.

Com mais de 20 anos ininterruptos de exercício do cargo, Rogério se sente bem na condição de diretor. "Gosto muito do que faço", resume ele, que, no entanto, adverte que o apreço por si só pelo trabalho não basta. "Sempre procurei me cuidar. Se eu não estiver no meu melhor, vou ‘quebrar'. Cabeça e físico tem de estar ‘ok'", enfatiza o servidor.

Mas mente sã em corpo são é coisa que não vem do nada. A rotina semanal, garante Rogério, inclui atividades físicas em pelo menos quatro dias. Além de 40 minutos de corrida duas ou três vezes por semana, ele faz musculação e, fã de Roger Federer, suíço que para muitos é o maior nome de todos os tempos do tênis (302 semanas no topo do ranking mundial, recorde absoluto), há pouco mais de um ano começou a praticar o esporte que consagrou nosso Guga Kuerten.

E não para aí. Por influência do irmão Sérgio, coronel do Exército, já faz 20 anos que Rogério pratica tiro (pistola calibre 12). "É um ótimo antiestresse", recomenda. Para completar, também fez cursos de mergulho, nas águas de Angra dos Reis e Ubatuba, assim como no Parque Estadual Marinho da Laje de Santos. Com formato que lembra uma enorme baleia, a Laje é uma ilha rochosa situada a cerca de 40 quilômetros do litoral de São Vicente, na Baixada Santista, e que faz parte de uma área de proteção integral, dotada de condições especiais de visibilidade e profundidade, além de uma biodiversidade que encanta os mergulhadores. Mas o que chama especialmente a atenção de Rogério no lugar são os restos de embarcações naufragadas, como, conforme ele exemplifica, um navio a vapor que sucumbiu em 1920. "Os naufrágios me lembram uma cidade perdida", compara o servidor, que já atingiu 30 metros de profundidade em seus mergulhos. "Mas os profissionais chegam aos 90 metros", observa ele.

O suporte ao dia a dia exigente, acrescenta o diretor, vem também da família, em especial da esposa Sandra, professora no ensino público, e da filha Laura, que, aos 11 anos, já definiu sua carreira profissional. "É uma futura médica", orgulha-se o pai.

"Eu não imaginava ficar tanto tempo como diretor", revela Rogério. "É um cargo que se conquista um pouco a cada dia. É difícil, exige muito jogo de cintura, bom senso. Temos de atuar em três frentes. Além dos juízes e dos colegas, lidamos diariamente com os advogados e jurisdicionados", leciona ele. "É preciso manter a calma, relevar certas coisas. Não podemos levar tudo a ferro e fogo", preconiza. "Tolerância é uma qualidade que todo diretor de secretaria deve ter."

Craque no botão

Na VT de Itu desde setembro de 2012, o sorocabano Rafael Souza Mello está cedido à Justiça do Trabalho pela Prefeitura da cidade, da qual é servidor desde 2000, no cargo de fiscal sanitário. "Foi meu primeiro emprego", assinala. "No que diz respeito à vigilância sanitária, a situação na cidade é boa até, mas há exceções", alerta ele. Das ações de que participou como fiscal, o caso que mais lhe chamou a atenção foi o de quatro farmácias que comercializavam abortivos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa. "Foi o próprio Conselho Regional de Farmácia que fez a denúncia."

Casado com Juliana e pai de Miguel, nove meses completados no último dia 25 de abril, Rafael é um craque no futebol. No futebol de mesa, o popular "jogo de botão", convém especificar. Começou aos oito anos, com botões de plástico, em Ibiúna, onde o pai, Benedito, era gerente da Caixa Econômica Federal. Logo passou para o formato mais nobre, em acrílico e com bola redonda, de feltro. "Meu pai foi meu grande incentivador. Ele também jogava, quando era mais jovem."

Os feitos de Rafael incluem o título da Copa Estado de São Paulo, em 2010, por equipes, defendendo o Bloco do R, de Itu, mas seu grande ano foi a temporada anterior, quando disputou quatro "opens" (competições individuais) e em todos chegou ao pódio: venceu um, foi vice noutro e terceiro colocado nas outras duas oportunidades. Em 2013, o servidor jogou pelo Clube do Botão de Campinas, filiado à Federação Paulista de Futebol de Mesa.

Esporte levado a sério

Segundo Rafael, o futebol de mesa é um esporte organizado no Brasil, com federações em quase todos os estados, além da Confederação Brasileira. Só o Estado de São Paulo tem cerca de 300 jogadores federados, afirma o servidor. Em todo o País são cerca de mil, estima ele. "Somos todos amadores, no entanto", observa Rafael. "Alguns talvez tenham patrocínio."

Rafael disputa a modalidade da regra dos 12 toques, em que o jogador ou equipe tem até o 12º toque consecutivo para avisar ao adversário que vai chutar ao gol, explica o servidor. Do contrário, a posse de bola passa para o time oposto. Isso também acontece se a "redonda" toca num jogador do oponente, bem como se o atleta dá mais de três toques consecutivos na bola com o mesmo botão. Além disso, o chute a gol deve ser desferido no campo de ataque do chutador e é preciso aguardar a autorização do adversário, que deve ter a oportunidade de posicionar o goleiro antes do chute.

Os jogos são disputados em dois tempos de 10 minutos cada um, e a mesa oficial, montada sobre cavaletes de 1,20 m de altura, mede 1,80 m de comprimento por 1,20 de largura. Já as medidas do campo são 1,60 m por 1,00 m. Com a bola de feltro, existe ainda o jogo em três toques. O rol de modalidades se completa com duas categorias em que a "redonda" de redonda não tem nada: a "dadinho", em que a "bola" é um cubo, em geral de acrílico, e a "pastilha", disputada com uma espécie de disco de aproximadamente 1 cm de diâmetro e que lembra as tradicionais balas feitas nesse formato.

O paranaense Robertinho, pentacampeão brasileiro da modalidade 12 toques na categoria adulto, é o melhor "botonista" (forma como os jogadores são conhecidos) do País, na opinião de Rafael.

Bom de mesa também

Na JT desde 9 de novembro de 2005, o também sorocabano Deives Fernando Cruzeiro é outro craque em esporte de mesa. No caso, o tênis de mesa. No campeonato paulista, chegou a ser 3º colocado na categoria adulto, que reúne de 30 a 40 atletas dos 21 aos 30 anos. Integrando o time de Votorantim, cidade onde mora, foi também 3º lugar na competição por equipes nos dois últimos anos. Seu maior feito, no entanto, foi em 2011, em Brasília: vice-campeão da Copa Brasil, torneio que reuniu cerca de 100 competidores. "Era gente do País inteiro."

Torneiro mecânico formado pelo Senai, foi metalúrgico dos 16 aos 21 anos, quando, já estudante de direito, pediu demissão do emprego e começou a estagiar na área. De início, a renda mensal caiu para menos da metade, lembra Deives, mas valeu a pena – em dois anos, já era servidor da 15ª.

O primeiro contato com o tênis de mesa foi aos 14 anos, ainda na escola do Senai, em Sorocaba. Nos intervalos das aulas, Deives começou a praticar o esporte, no salão de jogos da unidade. O dia a dia corrido, de quem concilia trabalho e estudo, acabou por afastá-lo do esporte quatro anos mais tarde. Retomou a prática justamente quando se formou e ingressou na JT. Treinava de duas horas e meia a três horas por dia, cinco ou até seis vezes semanalmente. Foi assim até 2012, quando o punho e o ombro esquerdos (Deives é canhoto) e os dois joelhos, todos castigados pela tendinite, não suportaram mais a rotina penosa. "Eu diminui a carga, mas continuo treinando, porém apenas duas vezes por semana", ressalva Deives, que é filiado à Federação Paulista e à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.

Também praticante do kung fu – em quatro anos, já chegou à faixa roxa, restando-lhe agora a vermelha e a marrom, antes da preta – Deives se concentra agora numa nova meta, a Magistratura Trabalhista. Começou a prestar concurso em 2012, na 9ª (PR) e na 2ª Região, e já chegou à fase discursiva (sentença).

Projeto inédito

Iniciativa nunca antes desenvolvida, o GMP é coordenado pelo juiz Flávio Landi e já visitou, em pouco mais de um ano de trabalho, mais de cem unidades, entre VTs, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos.

O objetivo principal do projeto é identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento, bem como verificar indicadores de qualidade de vida dos magistrados e servidores. As atividades do GMP em cada unidade incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e no trabalho. Os participantes são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede da Corte, em Campinas, os resultados são analisados e as conclusões são enviadas a todos os que participaram das atividades. Até mesmo situações individuais são abordadas, quando há solicitação nesse sentido por parte do juiz ou servidor, e sempre com o necessário sigilo. (Com informações da Prefeitura de Itu e do IBGE)

Unidade Responsável:
Comunicação Social