Na Itapira de Bellini, esquadrão de ouro é “o” eterno campeão
Em ano de Copa do Mundo no Brasil, a visita do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP) à Vara do Trabalho de Itapira foi marcada pela nostalgia, por aqueles momentos que merecem ser recordados. Afinal de contas, o município, localizado a 70 quilômetros de Campinas, é terra natal de Hideraldo Luiz Bellini, o jogador brasileiro bicampeão mundial (venceu também em 1962), que fez história ao eternizar o gesto de erguer a taça Jules Rimet naquela final surpreendente diante da Suécia, no campeonato de 1958. Mais de meio século depois, todo e qualquer desportista vencedor levanta sua taça, sua medalha, o seu troféu, repetindo aquele gesto do capitão Bellini. O meio-campista Philipp Lahm o fez também, quando a Alemanha sagrou-se campeã em solo brasileiro, após vencer a Argentina na final e, em partida anterior, "esmagar" a seleção canarinho por amargos 7 x 1. Esse sim, um episódio para se esquecer.
Voltemos a 1958. Foi com aquele esquadrão de ouro – composto por Garrincha, Pelé, Zagalo, Djalma Santos, Didi e tantos outros, liderados pelo zagueiro Bellini – que o Brasil iniciaria sua trajetória até tornar-se mundialmente conhecido como o país do futebol. Uma campanha que se transpôs no tempo, passou de geração para geração, resultando em uma paixão nacional que contagia e leva milhões de torcedores aos estádios, numa fidelidade quase religiosa, inclusive nos clubes. A primeira conquista, seguida de outras, fez de todo brasileiro, um técnico de futebol.
Na simpática Itapira, com seus 70 mil habitantes (estimativa IBGE/2014), o respeito pelo ídolo da casa intensifica-se. Pouco mais de um mês antes da visita dos integrantes do GMP à Vara do Trabalho, a população do município vivenciou, comovida e parte dela também revoltada, o sepultamento de seu maior ícone desportista. Com passagens memoráveis por times como Vasco da Gama, São Paulo e Atlético Paranaense, Bellini iniciou sua carreira na equipe local, o Itapirense e ainda atuou no clube da cidade vizinha, São João da Boa Vista, o Esportiva Sanjoanense, antes de brilhar nos gramados do mundo.
"Bem-vindo a Itapira, terra do capitão Bellini", anunciava o outdoor fixado no trevo principal de acesso ao município. A oficial de Justiça Denise de Paula Queluz Nascimento conta os bastidores de uma disputa envolvendo a figura do jogador, supostamente provocada por motivações políticas. "Exatamente nessa entrada da cidade tinha uma placa em homenagem a Bellini, que a prefeitura retirou, desagradando muita gente. Foi aí então que providenciaram o outdoor".
Para Denise, assim como para os demais servidores da VT, Bellini era um grande jogador, uma pessoa simples e muito querida. "O filho da terra que se destacou e por isso, motivo de orgulho para todos nós. Não há uma pessoa em Itapira que não tenha uma pequena história com ele. De vê-lo caminhando pelas ruas, cumprimentando a todos". Pouco mais de um mês depois, no dia 7 de junho, quando Bellini completaria 84 anos, um grupo de voluntários inconformados fez erguer uma escultura de bronze na Rua Armando Salles de Oliveira, que reproduz o gesto imortalizado por seu "eterno" capitão.
Ossos do Ofício
Como praticamente todo oficial de Justiça, Denise não esconde o apreço pela profissão. Ingressou no TRT-15 em 1993 como técnica judiciária e trabalhou na Diretoria-Geral em Campinas, antes de prestar novo concurso, desta vez para analista com especialidade em oficial de Justiça avaliador, garantindo a vaga em outubro de 1995. Atuou entre 1996 e 1998 em Capivari, encarando inúmeras diligências desgastantes. Em 23 de novembro de 1998 transferiu-se para Itapira, dois dias depois da inauguração da unidade. A jurisdição da VT abrange também os municípios de Socorro, Águas de Lindóia e Lindóia, região com ampla zona rural, muita hotelaria e malharias. Em uma de suas andanças, Denise foi fazer um auto de constatação em um curtume, nas imediações de Socorro. "O sítio parecia um pouco abandonado e sinistro, com bodes, cavalos e cachorros. Os caseiros estavam apreensivos e me perguntei: por que será?". Ao adentrar em um galpão sem muita iluminação se deu conta do que a esperava. Havia muitas casas de marimbondos nos buracos das paredes e não teve escapatória. "Eles me atacaram mesmo por cima da roupa", revela. Denise descobriu ser alérgica às picadas. A reação provocou inchaços e teve que tomar soro. "Mas no dia seguinte já estava tudo bem, pronta para outra", relembra divertidamente do episódio.
De estagiário à assistente, de técnico à analista
Antes mesmo de assumir o posto de assistente de diretor de Secretaria da VT de Itapira, Mateus Labigalini Fuini já conhecia bem toda a dinâmica da unidade. Em 2003, quando ainda estava no 5º ano da faculdade de Direito na PUC-Campinas, Mateus estagiou na VT durante 12 meses, fato que deu novo rumo a sua vida. O mundo do Direito, de certa forma, estava ali sempre presente, mas não as causas trabalhistas. Dois anos antes tinha feito estágio no Ministério Público e também adquiriu experiência trabalhando em escritório de Advocacia. "Gostava muito da área criminal e o Direito do Trabalho não me dizia muita coisa. Com o estágio na VT de Itapira passei a me interessar. Me mostrou algo que até então não pensava".
Mateus chegou a advogar, mas em 2004, quando surgiu a oportunidade de prestar concurso para a 15ª, não pestanejou. A aprovação como técnico levou-o a assumir, no mesmo ano, uma vaga na 11ª VT de Campinas e a já pleitear a remoção para Itapira, o que veio a acontecer, de fato, em 3 de maio de 2005. Mateus está "por hora técnico", como ele mesmo refere-se, demonstrando grande satisfação por também ter sido aprovado para o cargo de analista neste último concurso, realizado em 2013. "Passei em 16º lugar no polo de Piracicaba e estou aguardando a convocação", comemora.
Das Finanças para o Direito
A VT de Itapira contabiliza, em média, 1.300 processos ajuizados por ano. Para dar cabo dos cálculos, a unidade conta em seu quadro de servidores com a especialista Edilaine Aparecida Alves Pedroso Lara, que é formada em Ciências Contábeis pela PUC-Campinas, com pós-graduação em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas. Depois de trabalhar na iniciativa privada, na área financeira, optou pelo concurso público. "Fui aprovada no TRT em 2004 para o cargo de técnico judiciário. Fiquei dois meses na 9ª VT de Campinas e desde 2 de maio de 2005 atuo na VT de Itapira", salienta.
Edilaine começou a gostar tanto do trabalho que retornou ao ambiente acadêmico para cursar Direito. Está no 5º ano e vive a mesma expectativa de Mateus. Dois servidores dedicados e determinados, diga-se de passagem. Assim como o assistente do diretor da VT, Edilaine prestou concurso novamente, desta vez para analista, classificando-se em 14º lugar e está aguardando ser chamada para assumir novo posto no polo de Piracicaba. "Torço apenas para que a convocação aconteça em 2015. Assim posso finalizar a faculdade".
Itapira, tradição na Magistratura do TRT-15
A VT de Itapira foi instalada em 21 de novembro de 1998. Terra do desembargador do TRT-15, José Otávio de Souza Ferreira, Itapira registra breve passagem da desembargadora Ana Paula Pellegrina Lockmann, hoje coordenadora Nacional do Sistema do PJe-JT do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que foi a primeira juíza titular da VT, entre fevereiro e outubro de 1999. Também passaram por lá as magistradas Eliane de Carvalho Costa Ribeiro, Andrea Guelfi Cunha e Luciana Moro Loureiro. Atualmente, a VT tem como titular o juiz Flávio Landi, que exerce a função de juiz auxiliar da Presidência do TRT-15 e é também coordenador do GMP. Quem o substitui na VT é o juiz Caio Rodrigues Martins Passos.
Juca Mulato
"Nuvens voam pelo ar como bando de garças. Artista boêmio, o sol, mescla na cordilheira pinceladas esparsas de ouro fosco. Num mastro apruma-se a bandeira de S. João desfraldando o seu alvo losango. Juca Mulato cisma. A sonolência vence-o." Os versos de Juca Mulato, um dos livros de Paulo Menotti Del Picchia, lançado em 1917, parecem enquadrar a paisagem itapirense. Paulistano, Del Picchia mudou-se aos cinco anos para o município e lá viveu sua infância e juventude. Depois de formar-se na Faculdade de Direito de São Paulo retornou à Itapira, onde advogou, fundou o jornal O Grito e escreveu Juca Mulato, obra de repercussão internacional.
Para homenagear o poeta, que foi um dos líderes da Semana de Arte Moderna de 22, o município criou o Parque Juca Mulato, sua principal atração turística. Dele é possível avistar boa parte da cidade, das montanhas do sul de Minas Gerais e do Circuito das Águas. Totalmente arborizado, possui dois museus, um playground, aviário e lanchonete. O parque abriga ainda a Casa de Menotti, o Museu Municipal Histórico e Pedagógico Comendador Virgolino de Oliveira e as construções históricas do primeiro serviço de abastecimento de Itapira.
Texto Ana Claudia de Siqueira
- 26 visualizações