Na terra de Lobato e Mazzaropi, leitura e cinema estão entre as paixões dos servidores da JT

Conteúdo da Notícia

Por Luiz Manoel Guimarães

Colaborou Leticia Boaretto

Entre o Rio de Janeiro e São Paulo, entre o Litoral Norte e a Serra da Mantiqueira, Taubaté, terra natal de Monteiro Lobato, é oficialmente a "Capital Nacional da Literatura Infantil", graças à Lei 12.388, de 3 de março de 2011. Foi lar também de outro brasileiro notável, Amácio Mazzaropi, que, paulistano de nascimento, mudou-se para a cidade aos dois anos e lá construiu seu estúdio, a PAM (Produções Amácio Mazzaropi) Filmes. Se, de um lado, em seus mais de trinta longas, Mazzaropi arrastou dezenas de milhões de pessoas aos cinemas – pelo menos sete de seus filmes superaram a marca de um milhão de espectadores –, de outro, as aventuras de Emília e companhia têm sido lidas por gerações de crianças e adultos de todo o mundo, com traduções para as mais diversas línguas.

Lobato e Mazzaropi têm em comum, aliás, não apenas a ligação com Taubaté. Os dois imortalizaram a figura do caipira – o escritor, com seu Jeca Tatu, na obra Urupês, de 1918, e o comediante, com o personagem que se tornou algo como seu alter ego, numa simbiose comparável à que Chaplin estabeleceu com Carlitos. O cineasta brasileiro, aliás, deu vida ao próprio Jeca Tatu, na comédia de 1959.

Atualmente os dois ícones estão frente a frente na principal entrada da cidade, às margens da Rodovia Presidente Dutra. A estátua de Lobato, de sete metros de altura, forma, de mãos dadas, um conjunto com a bonequinha de pano, sua mais notável personagem, e Mazzaropi, a poucos metros, está retratado justamente na pele do esperto matuto que o ator e diretor personificou.

Hoje Taubaté é a segunda maior cidade do Vale do Paraíba e sede de uma jurisdição trabalhista que inclui também os municípios de Tremembé, Natividade da Serra, São Luiz do Paraitinga e Redenção da Serra, num total de 360 mil habitantes aproximadamente (IBGE, 2013). O Fórum Trabalhista local, instalado na Avenida Brigadeiro José Vicente de Faria Lima e que conta com duas varas do trabalho (VTs), recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, como um canal direto de comunicação entre as unidades visitadas e a Presidência do Tribunal. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP visitará, até o próximo mês de dezembro, quando termina a gestão do desembargador Cooper, todas as varas, coordenadorias de distribuição de feitos, postos avançados, centrais de mandados e ambulatórios médicos da Justiça do Trabalho da 15ª, identificando demandas e criando oportunidades de aprimoramento.

As dinâmicas aplicadas pelo GMP têm ênfase em indicadores de estresse e qualidade de vida. Os dados levantados pelo Grupo serão submetidos à Comissão de Qualidade de Vida do TRT da 15ª Região, criada em junho deste ano para auxiliar a Presidência do Regional nas iniciativas visando ao bem-estar de magistrados e servidores. Presidida pela desembargadora Gisela Rodrigues Magalhães de Araújo e Moraes, a Comissão é composta também pela desembargadora Ana Amarylis Vivacqua de Oliveira Gulla, pelo juiz Flávio Landi e pelas servidoras Adriana Martorano Amaral Corchetti, diretora-geral do TRT, e Heloísa Helena Mazon Zakia, secretária de Saúde do Tribunal.

Estranho no ninho

O TRT-15 é, dos 24 regionais trabalhistas do País, o de maior "capilaridade" na 1ª instância, com pelo menos uma unidade instalada em mais de cem cidades do interior paulista ou dos litorais norte e sul do estado. Como consequência, a maioria dos servidores, que somam mais de quatro mil, considerando-se os do próprio quadro do Tribunal e os cedidos por outros órgãos públicos, conhecem poucos colegas além daqueles com quem trabalham diariamente na unidade ou no mesmo prédio. Dessa forma, com a criação do GMP, o presidente do Regional almeja também proporcionar a esses profissionais a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A ideia é mostrar quem são e como vivem os servidores da 15ª, dar um rosto àqueles que, até então, eram apenas números.

Fabiano Neubern de Oliveira, por exemplo, coordenador de Distribuição de Feitos do Fórum, é um raríssimo caso de paulista – paulistano inclusive, aliás, nascido no bairro da Liberdade – torcedor do Clube de Regatas Flamengo (ele mesmo, o Flamengo do Rio, time de maior torcida no País, mas não tão popular nos domínios de corintianos, são-paulinos, palmeirenses e santistas). Mesmo com a mãe, Júlia Maria, também paulistana, torcedora do Corinthians e de família corintiana, prevaleceu para Fabiano a influência do pai, Raimar, carioca e "flamengo roxo". "Ele era do tipo de quebrar rádio de pilha quando o Flamengo perdia", lembra o servidor. "Em 1982, num jogo do Campeonato Brasileiro, o Flamengo foi para o intervalo perdendo por 2 a 0 para o São Paulo, e meu pai não perdoou o radinho. No segundo tempo, nós viramos para 3 a 2, mas aí ‘já era' o rádio", diverte-se Fabiano.

Prestes a completar duas décadas como servidor da Justiça do Trabalho da 15ª (em 19 de setembro deste ano), Fabiano não esconde, muito pelo contrário, sua paixão pelo clube que tem em Zico sua maior personalidade. A mesa de trabalho está forrada de objetos alusivos ao rubro-negro da Gávea. "Duro é aguentar a gozação dos advogados daqui, quando o time perde", brinca ele.

A JT, por sinal, divide hoje o coração de Fabiano com o próprio Flamengo e com os filhos do servidor, Gabriel, 15 anos, e Cauê, 13, que acompanham o pai na paixão pelo clube (os três vão ao Maracanã em 12 de março próximo, para ver o terceiro jogo da fase de classificação da Libertadores, contra o Bolívar, da Bolívia). O dia em que soube da aprovação no concurso, em 1993, "foi um dos mais felizes da minha vida", garante o coordenador, que tinha apenas 22 anos na época.

Já servidor, Fabiano cursou direito e, em 2010, assumiu a função de assistente do então coordenador de Distribuição, Pedro Luiz de Moura Lopes. Em agosto de 2012, com a aposentadoria de Pedro, tornou-se o novo "titular" da Coordenação. "O meu trabalho, a JT, é a minha vida, o meu dia a dia. Eu não saberia ficar sem isso aqui", arremata Fabiano.

Corpo e mente

Nascido em São Vicente, na Baixada Santista, Gilberto Rodrigues dos Anjos, também lotado na Coordenadoria de Distribuição de Feitos (CDF) do Fórum Trabalhista de Taubaté, é adepto das corridas de montanha. "Já disputei quase 50, nas mais variadas distâncias e terrenos", contabiliza. Aos 47 anos, e há 20 na JT da 15ª, completados no último dia 30 de setembro, Gil, como é conhecido pelos colegas, ingressou no quadro de servidores do Tribunal em Franca, quando cursava direito na Unesp local (formou-se em 1996). Lá, no dia de seu 26º aniversário, em 12 de março de 1992, começou o namoro com Mariana Diniz de Carvalho - "sempre digo que ela foi o melhor presente da minha vida" -, estudante de história à época e futura esposa de Gil. Casaram-se em 1994 e, uma vez formados, decidiram morar em Taubaté, terra natal de Mariana, que hoje é professora de história e está fazendo mestrado na área.

Da união nasceram Gilberto e Ana Clara. A caçula completou 11 anos em 10 de setembro passado. Já o primogênito fez 16 em 28 de novembro, data que marca o aniversário do Município de Franca, cidade em que, garante Gil, o menino foi concebido. O papai coruja, inclusive, acompanhou pessoalmente os partos. "Tive o privilégio de ver minha filha dormindo ao nascer. Foi cesariana, porque o cordão umbilical era muito curto. Logo ela acordou e chorou."

"Sempre fui muito organizado. Isso me rendeu muito cedo, aos 15 anos, um emprego em que eu era responsável pela organização do arquivo de um grupo de empresas de transporte coletivo na Baixada Santista", lembra Gil, recordando o início de sua carreira profissional, em Santos. "Curiosamente, eu montava as pastas com os documentos que seriam usados nas contestações em ações trabalhistas", destaca o servidor. "Foram oito anos lá. Era como se fosse uma família para mim", reforça ele. "Um dia, recebi uma proposta de emprego da Souza Cruz, mas eles cobriram a oferta. Eu me senti um jogador de futebol..."

Mas a unidade de Santos do grupo empresarial acabaria sendo encampada pela Prefeitura da cidade, e lá se foi o primeiro emprego de Gil. Depois de rápidas passagens pelo porto santista e por uma empresa de construção, ele finalmente se tornaria empregado da Souza Cruz, onde ficou por cerca de um ano e meio. O trabalho na gigante dos cigarros, todavia, não foi o melhor dos mundos para o futuro servidor da JT. Não que fosse difícil. Como vendedor, Gil era praticamente "um tirador de pedidos", conforme ele mesmo explica, dada a demanda pelos produtos da marca. O problema é que Gil já era, à época, um antitabagista convicto. "O resultado é que eu nunca conseguia cumprir as cotas estabelecidas", recorda. Alguns meses depois de deixar a empresa, aprovado no vestibular da Unesp, ele finalmente deixaria Santos, em 1992, para estudar direito em Franca, dando início à trajetória que o levaria à Justiça do Trabalho.

O ingresso no serviço público se daria, no entanto, na condição de escrivão de polícia, já no primeiro ano de faculdade. Gil foi o 1º colocado no concurso. "Trabalhei em Itirapuã, município vizinho a Franca, administrando as duas celas da carceragem da delegacia local. Eu levava os presos para as audiências e para consultas médicas, entre outros serviços", detalha o servidor, cujo pai, José Antônio dos Anjos, tenente da reserva da Polícia Militar de São Paulo, atuou durante 35 anos na PM paulista, além de ter sido campeão sul-americano de levantamento de peso. "Quando me despedi de Itirapuã, para ingressar na Justiça do Trabalho, os presos fizeram uma festa para mim."

Na JT de Franca, foram mais de três anos na 2ª VT local, trabalhando com o então juiz José Pitas, que atualmente é desembargador e vice-corregedor regional da 15ª.

As corridas entraram na vida de Gil tardiamente, aos 41 anos, três anos depois de ele ter começado a praticar capoeira. Mas, ainda assim, o servidor se tornou um atleta de fôlego invejável. "Treino três ou quatro vezes por semana, correndo 50 quilômetros semanalmente, e chego a fazer dois mil abdominais por dia", garante ele. "Mas comecei com 50", ressalva.

Adepto da máxima "mente sã em corpo são", Gil assegura que chegou a ler 60 livros num só ano. "Vivo o hoje. Não adianta ser o homem mais rico do cemitério", preconiza.

De Amélia a diretora

Carioca das Laranjeiras, Márcia Brockhof, diretora da secretaria da 1ª VT de Taubaté, mudou-se para São Paulo, capital, aos oito anos, em 1956. Muito tempo depois, em 1984, foi morar num sítio na Estância Climática de Santo Antonio do Pinhal, município vizinho a Campos do Jordão.

A mudança provocaria uma guinada na vida pessoal e profissional de Márcia, que, dos 15 aos 18 anos, fez "curso de Amélia", como ela mesma brinca. "Aprendi a fazer bordado, corte e costura e tudo o mais que na época caracterizava uma ‘mulher prendada'. Fiz meu próprio vestido de casamento, inclusive, e também o que minha mãe usou na cerimônia", garante ela, cujo matrimônio completou nada menos do que 47 anos em dezembro passado.

O ofício de dona de casa, contudo, não era o bastante para Márcia, e as circunstâncias lhe deram a oportunidade de retomar uma das coisas de que mais gosta: estudar. A escola dos quatro filhos ficava na entrada de Santo Antonio do Pinhal, a 5,5 quilômetros de casa. Como cabia a Márcia levar e trazer seus pimpolhos, num aguerrido Fusca vermelho dos anos 1960, ela aproveitou para voltar a estudar e, já no ano seguinte à mudança para a cidade, em 1985, deu início, na mesma escola dos filhos, ao curso secundário de magistério, concluído em 1988.

Em 1990, como professora admitida em caráter temporário, ela conseguiu suas primeiras turmas: numa "escola de roça" pela manhã, para alunos da 2ª à 4ª série do ensino fundamental (todos na mesma classe), e, à tarde, na cidade, na escola em que havia estudado, para estudantes da 3ª série. Dois anos mais tarde, aprovada em concurso público, Márcia começou a lecionar para uma turma de 2ª série, no município de Pindamonhangaba, onde também passou a residir.

Mas ainda não era o suficiente. O amor pela escola estava no sangue e, em 1993, incentivada pela mãe, dona Dalva, que sempre foi apaixonada pela área, como detalha a entrevistada, Márcia começaria a faculdade de direito, na Universidade de Taubaté (Unitau). O ingresso no mundo jurídico, associado às sabidas dificuldades inerentes à profissão de professora, a começar pelo baixo salário, abreviaram a carreira no ofício de lecionar. Em 1996, Márcia ingressaria no quadro de servidores do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, passando a trabalhar em São José dos Campos, e apenas 14 meses depois, em 1997, mesmo ano em que se formaria em direito, passaria a fazer parte finalmente da JT da 15ª, em Taubaté.

A preferência pela Justiça Trabalhista, em detrimento da Federal, decorreu de uma razão pragmática, é verdade – em relação a Pindamonhangaba, Taubaté está cerca de 40 quilômetros mais próxima do que São José dos Campos. Mas, com o tempo, a relação com a JT se estreitou. Depois de apenas um ano de sua posse, Márcia se tornou assistente de cálculos da VT. Passados mais oito anos, em 2006, a servidora recebeu do titular da unidade, juiz Guilherme Guimarães Feliciano, o convite para assumir a direção da secretaria da VT, função que abraçou de forma arraigada. "O exemplo fala mais do que muitas palavras", preconiza ela. "Sempre fui uma diretora que faz de tudo. Se tiver que arrumar a secretaria, por exemplo, eu vou junto com todos os outros."

Entre outras coisas, Márcia garante que, se preciso, vai ao balcão da unidade ajudar no atendimento ao público. "Eu revezo com a Noemi, minha assistente, nessa ajuda no balcão", observa a diretora, que em 2010 concluiu uma especialização em direito do trabalho e processo do trabalho. "Ela é uma pessoa de minha mais absoluta confiança, que me ajuda em tudo que é preciso", enfatiza. "Acho que nós duas nos completamos", reforça Márcia, que, à época da visita do GMP, estava em férias, mas "tranquila em relação ao andamento das coisas na secretaria da VT", graças a Noemi.

Superação

Se algo há que encante Márcia ainda mais do que estudar, esse algo, ou melhor, alguém, ou melhor ainda, "alguéns", são seus filhos, Marta, Richard, Rodolfo e Ruy, o caçula.

Em 1989, quando Ruy tinha apenas 15 anos, a servidora viveu com ele o maior drama de sua vida, talvez. Um simples tombo dos patins deu origem no garoto a uma osteomielite (inflamação óssea causada por infecção). Durante a cirurgia para a retirada do pus da perna de Ruy, a infecção se alastrou, causando um quadro de septicemia. Foram 12 dias de internação, tempo suficiente para reduzir o menino a "pele e osso", como lembra a servidora. "Eu via o coração bater por baixo da pele, de tão magro que meu filho estava", recorda Márcia. "Ele ficou cinza. Suas unhas não tinham cor, e os dentes se tornaram transparentes. Suava de ficar molhado."

A uma certa altura, o médico disse que todo o possível já havia sido feito e só restava esperar, lembra a servidora. "As próximas 48 horas serão decisivas", sentenciou ele, preparando a família para a possibilidade de acontecer o pior. O desenlace, porém, foi totalmente outro, e hoje Ruy é um saudável comerciante de 40 anos.

O drama, porém, consumiu as finanças da família, que teve, inclusive, de vender uma casa em São Paulo para poder cuidar de Ruy. "Chegamos ao fundo do poço. Nosso patrimônio desapareceu e nossas contas não ‘fechavam' no final do mês", diz Márcia, que, para variar, não se deixou abater pelas dificuldades. Foi justamente essa conjuntura que a levou a prestar concurso para cargos que pudessem lhe proporcionar um salário melhor do que o de professora, o que a conduziria, depois de alguns anos, ao quadro de servidores da Justiça do Trabalho da 15ª Região. "Minha vida me mostrou que sempre há um caminho, uma saída", resume Márcia.

Nessa trajetória, seu marido, Richard, funcionário da Volkswagen de São Bernardo do Campo por 23 anos (de 1961 a 1984), foi um companheiro à altura de Márcia no enfrentamento dos infortúnios, e não por acaso. Nascido em Leipzig, cidade do leste alemão e que fazia parte da antiga Alemanha Oriental, ele veio para o Brasil ainda criança, em 1948, ano em que Márcia nasceu, aliás. Os pais de Richard já haviam morado no País, no período entreguerras, trabalhando na lavoura de café, e tiveram três filhos aqui, inclusive. Quando resolvem fugir do regime comunista, o Brasil foi uma escolha natural.

A fuga, porém, não foi nada fácil, como explica Márcia:

– Eles entraram na então Alemanha Ocidental a pé. O risco era muito grande, porque os guardas de fronteira tinham ordens para metralhar quem tentasse atravessar. Meu marido, então um menino de apenas oito anos, estava com uma tosse comprida, que sua mãe teve de abafar de uma forma nada gentil, mas não havia outro jeito. Toda vez que ele começava a tossir, ela punha um travesseiro em seu rosto.

Curiosamente, até a adolescência Márcia acreditava que jamais ganharia dinheiro com seu trabalho. "Aos 17 anos, comecei a fazer vestidinhos para crianças. Eu montava e costurava as peças em casa, e a ideia era vender e ‘fazer uma graninha'. Levei uma bronca dos meus pais, que ainda achavam que o papel da mulher era ser esposa, mãe e dona de casa."

Beber, malhar, assistir

A 2ª VT de Taubaté completa 20 anos no próximo dia 20 de maio. Nela trabalha Francarelli Barbato Salomon, que, a exemplo da colega Márcia Brockhof, também contou com a influência de uma pessoa da família para ingressar no mundo do direito. "Meu pai, Tarcísio de Lélis Salomon, que já está aposentado, foi promotor público em Minas Gerais."

Formado pela Faculdade de Direito do Sul de Minas (2001), de Pouso Alegre, com pós-graduação em direito do trabalho, processo do trabalho e direito previdenciário pela Faculdade Salesiana de Lorena (SP), Francarelli está no quadro de servidores da JT da 15ª desde 2006, sempre em Taubaté. Sua próxima meta é a magistratura trabalhista, por sinal.

Casado com a enfermeira Angélica e pai de Sofia, quatro anos, e Lara, dois, ele também é um adepto aplicado da filosofia do mens sana in corpore sano. Há 16 anos, pilates, natação, musculação e boxe, por exemplo, fazem parte de seu cotidiano. "Isso me faz muito bem, combate o estresse", garante ele, que lamenta não poder frequentar mais a academia diariamente, como fazia na adolescência. "Falta tempo, mas eu ainda consigo ir duas ou três vezes por semana, faça chuva ou faça sol."

Magia do Cinema

Outra característica que Francarelli herdou do pai, cinéfilo "confesso", é o gosto pela chamada "sétima arte". Note-se, porém, que o nome, que mais parece sobrenome, nada tem a ver com o cineasta italiano Franco Zefirelli, de Romeu e Julieta (1968), Irmão Sol, Irmã Lua (1972) e O Campeão (1979), entre outros. É, na verdade, uma homenagem aos bisavós Palmira Carelli e Francesco Donato.

Francarelli não tem gênero preferido – drama, comédia, ação, ele vê de tudo. Das produções recentes, destaca a ficção científica Gravidade, dirigida pelo mexicano Alfonso Cuarón e estrelada por Sandra Bullock e George Clooney, e Capitão Phillips, do britânico Paul Greengrass, suspense em que Tom Hanks vive o comandante cujo navio é tomado por piratas somalis. Ressalta também o cultuado Amor, protagonizado pelos veteranos Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva. Com direção do austríaco Michael Haneke, o filme conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2012, e o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano seguinte.

Para Francarelli, no entanto, as três maiores obras do cinema são, em ordem crescente, Rocco e Seus Irmãos (1960), drama dirigido pelo mestre do neo-realismo italiano Luchino Visconti, com Alain Delon no elenco, Lanternas Vermelhas (1991), do chinês Zhang Yimou – indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 1992, conta a história de uma jovem cujas dificuldades financeiras a levam a se casar com um homem bem mais velho e que já possui outras três esposas –, e, the best of the bests, O Poderoso Chefão, mais precisamente a primeira parte da trilogia. Com um elenco estelar, que incluía Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton, é considerado por muitos a obra-prima de Francis Ford Coppola e levou o Oscar de melhor filme em 1973, além de só perder para Cidadão Kane, clássico de Orson Welles (1941), na lista dos melhores filmes norte-americanos de todos os tempos, feita em 2007 pelo American Film Institute. Coppola, todavia, não levou a estatueta de melhor diretor (perdeu para Bob Fosse, de Cabaret). Por outro lado, Marlon Brando, Oscar de melhor ator, foi consagrado definitivamente por seu insuperável Don Vito Corleone, "capo" da família de mafiosos em torno da qual gira a trama.

O servidor lista ainda alguns de seus diretores favoritos, como Stanley Kubrick, Woody Allen, Martin Scorsese e Clint Eastwood, por exemplo, além do próprio Coppola. Dos mais novos, destaque para Chris Nolan, da bem-sucedida trilogia de Batman, David Fincher, dos thrillers Se7en, Clube da Luta e Millennium – Os Homens que não Amavam as Mulheres, bem como do drama O Curioso Caso de Benjamin Button, e Quentin Tarantino, de Pulp Fiction, Bastardos Inglórios e Django Livre.

Do cinema nacional, Francarelli gostou de Faroeste Caboclo (de René Sampaio), inspirado no sucesso homônimo do Legião Urbana, e Somos Tão Jovens, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura e que retrata parte da trajetória do vocalista e líder da banda brasiliense, Renato Russo. Os dois filmes foram lançados em 2013. Dos chamados blockbusters, o servidor tem em alta conta Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: o Inimigo Agora É Outro, ambos de José Padilha, com Wagner Moura no papel do implacável Capitão Nascimento. Cita também Lavoura Arcaica (2001), de Luiz Fernando Carvalho, tendo Selton Mello como protagonista, e resgata O Caso dos Irmãos Naves, direção de Luiz Sérgio Person. O filme, de 1967, é baseado na história real de Sebastião e Joaquim Naves, vividos por Juca de Oliveira e Raul Cortez, respectivamente. O roteiro é uma adaptação do romance de João Alamy Filho, advogado dos irmãos no caso que ficou conhecido como "o maior erro judiciário do Brasil". Na cidade mineira de Araguari, em pleno Estado Novo, os dois são acusados de assassinar o primo Benedito Pereira Caetano. Na tentativa de obter uma confissão, o tenente Francisco Vieira dos Santos, o "Chico Vieira", magistralmente interpretado por Anselmo Duarte, submete os acusados e sua mãe, Ana Rosa Naves, a "Don'Ana" (papel de Lélia Abramo), assim como as esposas dos irmãos, a todo tipo de tortura, ao longo de vários meses. Sebastião e Joaquim acabam condenados a mais de 25 anos de prisão, pena posteriormente reduzida a 16 anos. Uma incrível reviravolta no caso, porém, terminaria por inocentar a dupla.

Néctar dos deuses

O vinho, personagem importante de filmes como Sideways (2004, direção de Alexander Payne e com o ótimo Paul Giamatti no elenco), que no Brasil "mereceu" o duvidoso nome Entre Umas e Outras, é outra paixão de Francarelli, um verdadeiro "enólogo amador". "Não tenho maiores pretensões, até porque os cursos na área são caros. O que eu busco é o prazer proporcionado pela bebida. Como o hobby de minha mulher é cozinhar, gosto de procurar um vinho para harmonizar com cada prato que ela faz", resume o servidor, que se tornou presença constante em degustações e em palestras sobre o assunto.

Para sobremesas, por exemplo, Francarelli indica o Aurora Colheita Tardia, "ótimo com bolos e doces". Segundo ele, o vinho gaúcho, feito em Bento Gonçalves, rivaliza bem com o italiano Moscato d'Asti, "mas custa cinco vezes menos". Já o vinho do Porto, sugere, deve ser degustado após as refeições, "não como acompanhamento". Mas, pondera o servidor, "tudo depende do gosto de cada pessoa".

Por outro lado, Francarelli desaprova a tampa de rosca, que passou a ser adotada há aproximadamente 10 anos – "quebra a tradição da rolha" –, e condena com veemência o consumo de vinho tinto gelado. "Um pecado", sentencia. "Cinco minutos na geladeira bastam, não mais." Já para os brancos, as baixas temperaturas são a regra, complementa.

Unidade Responsável:
Comunicação Social