Na VT de Penápolis, gestão baseada no reconhecimento traz bons resultados, constata GMP

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 Por Luiz Manoel Guimarães
Colaborou Ademar Lopes Junior

O último dia 22 de dezembro marcou o primeiro centenário da "promoção" de Penápolis à condição de município. Desde 17 de novembro de 1909, no entanto, a localidade já existia como distrito, e o nome, curiosamente, é uma homenagem a Afonso Penna, presidente da República falecido em 14 de junho daquele ano. Localizada no noroeste do estado, a 55 quilômetros de Araçatuba, a cidade é sede de uma jurisdição trabalhista que inclui também Alto Alegre, Avanhandava, Barbosa, Braúna, Glicério e Luiziânia, num total de 100 mil habitantes, aproximadamente.

Bem de frente à Praça Doutor Carlos Sampaio Filho, está instalada a Vara do Trabalho (VT) de Penápolis. A unidade recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Iniciativa pioneira, o GMP é coordenado pelo juiz Flávio Landi e tem como objetivo principal identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento.

As atividades do Grupo em cada unidade incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os participantes são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados e as conclusões são enviadas a todos os que participaram das atividades. Até mesmo situações individuais são abordadas, quando há solicitação nesse sentido por parte do juiz ou servidor, e sempre com a preservação do sigilo.

Outra missão do GMP é dar aos servidores da 15ª Região a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.

Só no ano passado, a JT da 15ª fez chegar quase R$ 3,2 bilhões às mãos de seus legítimos donos, trabalhadores que não tiveram seus direitos integralmente respeitados ao longo da vigência do contrato de trabalho, e esse grande "time" de servidores contribuiu decisivamente para isso.

Solidariedade

Entre os integrantes dessa equipe está Virgínia Abrantkoski Borges, a diretora da secretaria da VT de Penápolis. Nascida em Araçatuba, no último dia 1º de março ela completou 20 anos como servidora da JT da 15ª, numa trajetória que por pouco nem sequer teve início. "Uma amiga que ia prestar o concurso sugeriu que eu fizesse também. Fiz a inscrição já no final do prazo, mas acabei passando, e a minha amiga, vejam só, não", relembra Virgínia.

"Aí começa a minha história de gratidão a Deus", prossegue a diretora, cuja carreira na JT começou na própria terra natal, onde trabalhou nas três VTs da cidade, principalmente na 3ª, na qual ficou por mais de 18 anos. Já na unidade de Penápolis ela comemora seu primeiro aniversário em 25 de julho próximo.

Servidora pública desde os 19 anos, com passagem pelas Secretarias Estaduais da Educação e da Saúde, ela só cursaria direito quando já estava na JT. "Eu era secretária de audiências na 3ª VT de Araçatuba, trabalhando com o então juiz Lorival Ferreira dos Santos [hoje desembargador da 5ª Câmara do TRT], e um dia pensei: ‘Meu Deus, preciso entender um pouco desse universo'." O esforço valeria a pena – Virgínia tornou-se uma espécie de "coringa" na VT, fazendo todo tipo de serviço, até se tornar assistente do diretor da secretaria e, daí, receber o convite para assumir a direção em Penápolis.

Em sua nova missão, ela procura aplicar tudo o que aprendeu nessa trajetória de duas décadas, inclusive no que diz respeito à chamada "gestão de pessoas". Nesse intuito, Virgínia não faz por menos e fundamenta sua filosofia de trabalho no princípio bíblico do amor ao próximo. "Eu não abro mão da valorização da pessoa humana, de elogiar e valorizar até mesmo a menor meta alcançada, por exemplo. Elogio sempre, não me custa reconhecer o esforço dos colegas."

Esse espírito, garante ela, é compartilhado pelos demais servidores da unidade. "Fidelidade, transparência e solidariedade são sentimentos que fazem parte do nosso dia a dia aqui no trabalho. Os colegas se preocupam uns com os outros. Não tem sido raro eu ver que alguém, ao terminar o serviço, perguntar a outro servidor se ele precisa de ajuda", observa a diretora. "Pode parecer um ‘chavão', mas, aqui, quando a gente diz que a VT é uma ‘segunda casa', estamos dizendo uma verdade."

"Tirar a pressão" sobre o grupo também é essencial, sustenta a diretora. "Vamos por partes", resume ela, partidária do sistema de "gestão por relatório", instituído pela Corregedoria Regional. "O que o relatório está apontando? Qual a minha maior demanda no momento? Vamos focar nisso", preconiza.

Segundo Virgínia, apesar do significativo volume processual na VT, acima dos dois mil processos por ano, os resultados têm sido bons. "As coisas fluem", diz ela, cujo trabalho lhe rendeu uma participação de destaque na 2ª Mostra de Boas Práticas "Yvelise Borges", promovida pela Corregedoria Regional em novembro passado, na sede do Tribunal, em Campinas. Homenagem à servidora falecida em janeiro de 2013, depois de mais de 20 anos dedicados à Justiça Trabalhista da 15ª Região, o evento reuniu oito práticas, das quais a "Gestão Motivacional de Pessoas", como Virgínia denominou seu método de trabalho, conquistou o "prêmio do público". Numa votação pela internet, aberta a todos os servidores da 15ª, ela recebeu mais de 300 votos, ficando em primeiro lugar nessa disputa.

Inclusão

Quando ainda era servidora da 3ª VT de Araçatuba, em 2011, Virgínia fez parte de uma turma de cinco servidores da região que fizeram na cidade o curso de Língua Brasileira de Sinais, promovido pelo TRT. O interesse pela Libras não foi casual. Sua irmã mais velha, Guanahira (o nome tem origem indígena), sofreu durante vários anos com um problema que a impedia de ouvir. "Foi um tempo sofrido de silêncio na família", lembra Virgínia. Guanahira recuperou a audição depois de um implante coclear – também conhecido como "ouvido biônico", que estimula eletricamente as fibras nervosas remanescentes, permitindo a transmissão do sinal elétrico para o nervo auditivo –, feito na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em 2004, mas todos os sons que ouve têm um tom "metalizado". "Ainda assim", conta Virgínia, "até hoje ela se emociona muito ao falar do tempo em que não podia ouvir".

De volta ao seu momento atual, a diretora ressalta que, desde o início, foi muito bem recebida pelos colegas de Penápolis e que se sente realmente satisfeita na direção da secretaria da VT. "Amo o que eu faço e sou muito grata a Deus pelo que tenho. Busco retribuir com atitudes, mesmo sabendo que tudo o que eu fizer aqui ainda vai ser pouco."

Sintonia com o público

Um desse novos colegas de Virgínia é Renato Carvalho Issa (de pé na foto), servidor cedido à Justiça do Trabalho da 15ª Região pela Prefeitura de Glicério, onde trabalhou por uma década no Departamento de Licitações e Compras. No último mês de fevereiro, Renato completou 15 anos na JT, sempre na VT de Penápolis, e mais especificamente no balcão da secretaria, atendendo o público. Ao longo desse tempo, ele avalia que "pegou o jeito" do serviço. "Quem trabalha no balcão tem de passar confiança para o advogado, se quiser obter o mesmo de volta", afirma ele. "Desde o início eu procurei entender o que os advogados precisavam. Aprendi a conhecer o perfil de cada um deles. Uns são mais calmos, outros têm mais pressa, mas o importante é tratar todos eles com a maior educação e respeito possível."

O esmero no atendimento, aliás, não se restringe aos profissionais da advocacia. Renato dedica o mesmo cuidado às outras pessoas que vão ao balcão da VT. Vez por outra, ele atende pessoas analfabetas, até, ocasiões em que a atenção, não raramente, tem de ser ainda maior. "Eu converso com a pessoa, oriento, procuro mostrar o que é preciso fazer."

Ainda morando em Glicério, a 25 quilômetros de Penápolis e a apenas 10 do Rio Tietê, Renato tem na pescaria a "válvula de escape" para a correria do dia a dia. "A cada 10 dias, no máximo, eu vou lá pescar." Entre os seus maiores "troféus" está um pintado de 16,8 quilos, capturado no Rio Sepotuba, afluente do Rio Paraguai. Curiosamente, no entanto, Renato não é muito "fã de peixe", gastronomicamente falando, ao contrário de sua mulher, Marinês. "Ela adora", reforça ele, que se contenta só de saber que sua amada apreciará o fruto de suas peripécias de pescador. "Presentão" mesmo, contudo, Marinês recebeu de Francine, a filha do casal. Trata-se do neto Guilherme, quase cinco meses completados e "o xodó da família", como enfatiza o vovô coruja. "Ele é corintiano", garante Renato, "provocando" o papai Cléber, são-paulino. (Com informações da Prefeitura de Penápolis)

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