Terra de Djanira e “Capital Nacional do Cavalo”, Avaré recebe o Grupo Móvel da Presidência do TRT
Desde a entrada da cidade, placas sinalizam claramente o caminho que leva à Vara do Trabalho de Avaré, na Rua Amaral Pacheco, 1.120. A unidade atende cerca de 184 mil pessoas – além das reclamações trabalhistas com origem na própria Avaré, cuja população hoje gira em torno de 88 mil habitantes, responde também pelas ações vindas dos municípios de Águas de Santa Bárbara, Arandu, Cerqueira César, Iaras, Itaí, Manduri, Óleo e Paranapanema, que completam a jurisdição.
A VT recebeu o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP), criado pelo presidente do TRT da 15ª Região, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte. Coordenado pelo juiz Flávio Landi, o GMP desenvolve atividades que incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os servidores de cada unidade visitada são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, eles recebem um feedback com as conclusões das especialistas do Grupo no tema, a psicóloga Juliana Barros de Oliveira e a assistente social Maria Angela Caparroz Arelano Cordeiro.
O GMP também encaminha ao presidente da Corte demandas de caráter estrutural ou administrativo, por intermédio da servidora Maria Auxiliadora Ortiz Winkel, assistente da Presidência do Regional. Já os problemas relativos à área de segurança são analisados pelos agentes Luís Cláudio da Silva e Jenner Eduardo dos Santos, que também integram a equipe. Outra missão do Grupo é traçar um perfil dos servidores da 15ª. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, ou pelo menos uma parte deles, que, espalhados por cerca de 110 cidades paulistas, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos.
Conquistado pelo sax
Entre os servidores que receberam o Grupo Móvel na VT estava Gerson Augusto Donini, avareense "da gema" e de origem italiana – os avós vieram de Sona, pequena cidade da província de Verona, no norte da Itália. Ele é servidor da Justiça do Trabalho desde 6 de maio de 1993, sempre em Avaré. Depois de 16 anos como secretário de audiência, assumiu quatro anos atrás a função de assistente do diretor da secretaria da VT, Antonio Seiko Hirata. Sua experiência no serviço público já passa dos 30 anos, no entanto. Começou em abril de 1984, na Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, onde ficou até outubro de 1989, e, por exatos três anos, de maio de 1990 a maio de 1993, foi escrivão da Polícia Civil paulista.
Há pouco mais de dois anos uma nova paixão apareceu na vida de Gerson. Ele, que lá nos anos 1970 tocava bombardino, um instrumento de sopro da família das tubas, na Banda Municipal de Manduri, deparou-se numa casa de shows com o sax, ou mais especificamente o sax alto, o membro mais popular da extensa família dos saxofones, que reúne cerca de dez instrumentos, segundo especialistas. "Foi amor repentino. Eu me apaixonei." Depois de amadurecer a ideia por cerca de um ano e meio, em janeiro passado o servidor finalmente comprou seu próprio sax e, dois meses depois, começou a estudar com um professor particular em Botucatu, a cerca de 80 quilômetros de Avaré. "É um instrumento desafiador e encantador ao mesmo tempo", sublinha Gerson, para quem o sax, por enquanto, é apenas uma forma de relaxar e descontrair. Depois da aposentadoria, porém, investir mais no estudo e tentar uma carreira profissional na música é uma possibilidade que o servidor não descarta totalmente.
Para quem estiver pensando em seguir os passos de Gerson, ele informa que um sax alto de boa qualidade para estudantes custa atualmente em torno de R$ 3.500. Já um profissional de boa marca – Yamaha, por exemplo – sai em média por R$ 6.500, estima o servidor. "Mas existem preços e marcas para todos os gostos e bolsos", ressalva. Uma curiosidade: o instrumento deve o nome ao seu inventor, o belga Adolphe Antoine Joseph Sax (1814-1894), membro de uma tradicional família de fabricantes de instrumentos musicais. Ele criou o sax em 1841 e o patenteou cinco anos depois.
Entre cavalos, carros e a arte de Djanira
Localizada no sudoeste paulista, a Estância Turística de Avaré, conhecida como "Terra do Verde, da Água e do Sol", é também a "Capital Nacional do Cavalo", graças às feiras anuais das raças quarto de milha e árabe. O batismo do município teria origem em "abaré", forma como os índios caiuás denominavam à época um rio da região. Curiosamente, o significado da palavra em tupi seria "homem diferente" ou "padre".
Elevada a município em 29 de maio de 1891, Avaré é também a terra natal de Djanira da Mota e Silva (1914-1979), ou simplesmente Djanira, uma das mais importantes artistas brasileiras do século XX. Pintora, desenhista, ilustradora e cenógrafa, ela tem entre suas obras um painel de azulejos de 160 metros quadrados, que homenageia Santa Bárbara e ornamenta o túnel do Catumbi, no Bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Tornou-se a primeira artista latino-americana a fazer parte do acervo do Museu do Vaticano, com a tela "Santana de Pé". Muito religiosa, acabou ingressando, em 1972, na Ordem Terceira Carmelita, recebendo o hábito com o nome de Irmã Teresa do Amor Divino.
Parte de sua obra pode ser vista na própria Avaré, no Memorial Djanira da Mota e Silva, localizado no Centro Avareense de Integração Cultural (CAIC) – Rua Minas Gerais, 279.
A cidade abriga ainda o Museu do Automóvel. Idealizado e organizado pela Associação Avaré de Antigomobilismo (Aavant), ele foi inaugurado em 14 de junho de 2009, ano do cinquentenário do Fusca no Brasil, com uma exposição em homenagem ao carrinho mais popular de todos os tempos. Foram oito Fuscas, incluindo um modelo 1966 "pé de boi" – versão básica, despojada de acessórios –, um "Fafá" de 1981, apelido derivado das duas grandes lanternas traseiras, e um "Itamar" 1995, época em que, graças ao político mineiro que assumiu a Presidência da República após o impeachment de Collor, o Fusca foi relançado no País. A mostra trazia ainda um New Beetle, versão século XXI do carrinho. Além disso, uma das estrelas do acervo permanente do Museu é o último Fusca adquirido pela Polícia Civil paulista. Fabricada em 1985, a viatura ainda funciona perfeitamente, incluindo a sirene original, garantem os membros da Aavant. Junto ao carro, um cenário reproduz uma delegacia de polícia dos anos 1970/1980, com mobiliário, máquina de escrever e aparelho de rádio da época.
A própria forma como o Museu foi concebido, com alamedas e praças ornamentadas com bancos e postes no estilo do início do século passado, é uma viagem no tempo. Lá pode ser visto um modelo de posto de gasolina Texaco da década de 1930, com uma bomba do tipo "coqueiro" original, além de anúncios de época, bicicletas, lambretas, placas antigas e outros objetos que também nos remetem ao passado. Na área externa, uma verdadeira raridade descansa à espera de uma restauração: um trator alemão Lanz Bulldog, com rodas de ferro e motor com apenas um cilindro e 45 HP. A data de fabricação é incerta, mas os organizadores do acervo estimam que tenha sido em 1937.
O Museu funciona na Rua Santos Dumont, 1.890. Mais informações podem ser obtidas no site www.carrosantigosavare.com.br. (Com informações da Prefeitura de Avaré, do Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal – Cepam – e do IBGE e do site www.autoclassic.com.br)
Texto: Luiz Manoel Guimarães
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