Visita do GMP à VT de Capão Bonito revela servidor que mantém um centro de equitação terapêutica

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A Vara do Trabalho de Capão Bonito, município do vale do Alto Paranapanema, foi criada em 1998, como um desmembramento da VT de Itapeva. Além das ações ajuizadas na cidade, a unidade atende também àquelas provenientes dos municípios vizinhos de Ribeirão Grande, Ribeira, Barra do Chapéu, Iporanga, Itapirapuã Paulista, Guapiara, Apiaí, Buri e Itaóca, totalizando uma jurisdição de aproximadamente 140 mil pessoas, segundo a estimativa 2014 do IBGE. Sob o comando do juiz Mauro César Luna Rossi, titular da unidade desde abril de 2006, a VT conta com o empenho e a dedicação de doze servidores e dois estagiários. José Cássio Belfort d'Arantes Medeiros, diretor da secretaria da VT, coordena os trabalhos.

Em 9 de outubro a unidade recebeu os integrantes do Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância da 15ª Região, o GMP, criado em 2013 pelo desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper para atuar como um canal direto de comunicação entre a Presidência e o 1º grau. Além da avaliação da qualidade de vida pessoal e profissional dos servidores, o Grupo se propõe a ouvir e encaminhar ao presidente as demandas administrativas das unidades. O GMP tem como missão, também, tornar conhecidos os profissionais que integram e fazem funcionar essa imensa máquina que é hoje o TRT da 15ª Região, como vivem e o que fazem quando não estão trabalhando.

A recepção em Capão Bonito não poderia ser mais calorosa. Os servidores da VT são um grupo bem integrado e cooperativo. Há cerca de um ano, a unidade passou a operar com o Processo Judicial Eletrônico (PJe), tecnologia que alterou significativamente os procedimentos e as rotinas da VT, suprimindo atividades meramente burocráticas e agilizando a tramitação processual. As expectativas dos servidores estão voltadas, agora, para a transferência para a nova sede, prevista para ocorrer até o fim do ano. A VT ganhará um espaço maior, de cerca de 700 metros quadrados, funcionalmente adequado à atuação do Judiciário Trabalhista e com total acessibilidade às pessoas com deficiência, reivindicação antiga da unidade.

Encantador de cavalos

Wasington Luiz Souza considera-se um sujeito de sorte. Em maio de 1998, aprovado em concurso público, tornou-se servidor da Prefeitura de Capão Bonito, mas já em dezembro foi cedido pelo Município para trabalhar na recém-criada Junta de Conciliação e Julgamento, como eram chamadas, então, as atuais varas do trabalho. "A unidade foi instalada nesse mesmo prédio onde estamos hoje, um imóvel do Banco do Brasil alugado pela Prefeitura", recorda-se Shitão, como é chamado carinhosamente pelos colegas. Após atuar como oficial de justiça ad hoc, o servidor assumiu o atendimento diário no balcão da secretaria da VT, função que segue exercendo até hoje. A dedicação ao trabalho, contudo, não o impediu de realizar o velho sonho de criar no município um espaço para a prática da equitação e utilização do cavalo como ferramenta terapêutica.

O interesse por cavalos, conta Shitão, vem da infância passada em Mantena (MG), sua cidade natal, na divisa com o Espírito Santo, onde aprendeu a montar. Ainda criança, porém, deixou a vida calma do interior para, acompanhando a família, estabelecer-se em Belo Horizonte. Após uma breve temporada na capital paulista, aceitou, em 1978, uma proposta de emprego em Capão Bonito, onde se casou e teve suas três filhas. Com 57 anos completados em 1º de setembro, Shitão já tem um casal de netos.

Em 1990, entusiasmado com o retorno ao ambiente rural, o servidor adquiriu o seu primeiro cavalo, o "Cacique". Seis anos mais tarde, participou de um workshop em equoterapia em um haras de Avaré (SP) e de um estágio na Polícia Militar (Cavalaria) de São Paulo. O objetivo era construir um centro equoterapêutico em Capão Bonito, mas, infelizmente, o projeto não pôde ir adiante. Shitão, porém, não desanimou. Fez um curso de doma racional e equitação rural e iniciou, ainda em 1990, atividades de equitação no Centro de Exposições e Troperismo de Capão, com três cavalos, proporcionando aulas de equitação para algumas crianças.

Alguns anos depois, incentivado por um casal de amigos que teve um filho com paralisia cerebral, Shitão participou de um curso ministrado pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE) na Hípica Santo Amaro, em São Paulo, realimentando o antigo projeto. Por fim, em 2010, juntamente com a filha Moira, graduada em Psicologia, inaugurou, em uma chácara de 40 mil metros quadrados em Capão Bonito, a Escola de Equitação e Centro de Equitação Terapêutica Francisco de Assis. Em breve deverá se juntar ao grupo outra filha, Riza, que está terminando a graduação em Fisioterapia. A expectativa é que, uma vez constituída a equipe mínima exigida pela ANDE – ao menos um psicólogo, um fisioterapeuta, um médico e um equitador, todos com formação em equoterapia –, a Escola obtenha seu registro na entidade. "Embora não seja reconhecido oficialmente como equoterapia, o trabalho de equitação terapêutica por nós desenvolvido parte de uma proposta semelhante e visa aos mesmos fins", esclarece Shitão, que dedica todas as manhãs e os finais de semana ao trabalho na Escola. "Hoje contamos com cinco éguas e oferecemos atendimento psicoterapêutico a uma média de 15 pessoas. As sessões acontecem aos sábados, das 8 às 17h. A satisfação com os resultados obtidos sem dúvida compensa o esforço", avalia o servidor.

Conforme explicou Shitão, a equitação terapêutica é uma metodologia lúdica da psicoterapia que utiliza o cavalo para estimular sentimentos de independência, liberdade, confiança, segurança, liderança e autoestima, entre outros. "Por se tratar de um ser vivo, o cavalo torna-se muito mais que um instrumento. Ele é um coterapeuta desse processo, capaz de estimular sensações e reações no praticante." De acordo com o servidor, a metodologia não garante a cura, mas pode melhorar a qualidade de vida de seus usuários. "Contribuindo de forma prazerosa para a aplicação de exercícios de coordenação motora, agilidade, flexibilidade e tonicidade muscular, esse tipo de terapia facilita a organização do esquema corporal, como a orientação espaço-temporal, e desenvolve a sensibilidade física, na medida em que exige a constante percepção-reação diante dos diversos estímulos neurológicos que o movimento do andar do cavalo proporciona ao praticante."

A equitação terapêutica é recomendada também para o tratamento de depressão, hiperatividade, déficit de aprendizagem, estresse, dificuldades de relacionamento e de conduta, "com resultados surpreendentes", assegura Shitão. Entre outros, ele se lembra do caso de dois irmãos que se tratavam com muita agressividade. "Coloquei os dois juntos em cima de um mesmo cavalo e eles tiveram de aprender a conviver. O relacionamento entre eles hoje é bem distinto do anterior", comemora o servidor. "Minha gratificação está em poder acompanhar o progresso das pessoas."

Além do trabalho na Escola e Centro de Equitação Terapêutica, Shitão ainda encontra tempo para participar de atividades de resgate da tradição tropeira, como cavalgadas na região. "Em geral, os trajetos compreendem uma média de 25 quilômetros por dia, mas já participei de percursos mais longos." Em 2005 o servidor integrou, com um grupo de cerca de 300 cavaleiros e muladeiros, a 1ª Tropeada Paulista, percorrendo a antiga Rota dos Tropeiros – caminho utilizado por cerca de 200 anos, do século XVIII até o início do século XX, para trazer mulas, cavalos e outros produtos do sul do País até os mercados de São Paulo – entre as cidades de Itararé e Sorocaba. A maior parte desse trajeto, de 360 quilômetros, é de estradas de terra, cortando áreas rurais. A cavalgada dura nove ou dez dias, terminando com o desfile de cavaleiros nas ruas de Sorocaba.

Capão Bonito: de gameleiros e tropeiros

A formação cultural de Capão Bonito representa duas vertentes significativas: a dos gameleiros e a dos tropeiros. De forte influência indígena, a cultura gameleira trouxe para Capão Bonito a tradição agrícola, a lida com os pequenos animais, as danças e as festas religiosas. Uma tradição rica e complexa que sobrevive até hoje nas manifestações culturais. A outra vertente, a do tropeirismo, conforme relatos de antigos moradores, deixou uma enorme influência que pode ser notada na música (o gosto pela sanfona e por ritmos do Sul), na indumentária (uso de botas e guaiacas, espécie de cinto de couro utilizado pelo gaúcho para guardar moedas e outros utensílios), no uso de animais para carga e outras atividades, na alimentação (churrasco, carne seca e chimarrão) e em tudo o que se refere ao cavalo e ao boi (cultura boiadeira). É possível citar ainda outras "heranças", como o "baile de galpão", as corridas de raia e as "pencas" (modalidade de corrida de cavalos). Entretanto, a importância maior ficou por conta da descendência: muitos tropeiros ficaram na região e formaram famílias, fortalecendo o laço da influência tropeira na formação do município.

Capão Bonito também sofreu influência das atividades ligadas à mineração do ouro. Por volta de 1800, contudo, a queda da produção aurífera paulista causou uma debandada geral, restando uma povoação de antigos bandeirantes e velhos garimpeiros que, com seus descendentes, buscaram a sobrevivência na agropecuária.

Elevado a município em abril de 1857, Capão Bonito – que em tupi significa "porção de mato isolado no meio do campo, ilha de mato" – conta hoje com uma população estimada de 47.498 habitantes. Além da agricultura e da pecuária, a economia municipal se destaca pelas indústrias madeireira, de celulose e de papel e pela produção de um tipo de granito vermelho, que leva o nome da cidade. Com relevo acidentado, Capão possui também enorme potencial para o ecoturismo e o turismo de aventura, apresentando diversas opções para cavalgadas, bem como para a prática da canoagem, boia-cross, rafting e trekking em seus inúmeros rios, cachoeiras e grutas.

Por Patrícia Campos de Sousa

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