Com participação do presidente do TRT-15, evento em São Paulo promove a iniciativa empresarial pela igualdade no Brasil

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Por Ademar Lopes Junior

O presidente do TRT-15, desembargador Lorival Ferreira dos Santos, participou, na manhã desta segunda-feira, 21 de novembro, no auditório do Hotel Renaissance, em São Paulo, da "Iniciativa empresarial pela Igualdade", que integra as atividades Culturais Comemorativas da Semana da Consciência Negra. O evento foi promovido pela Sociedade Afrobrasileira de Desenvolvimento Sociocultural (Afrobras), em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares, com o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), com os Ministérios da Educação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e com o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15). Também estiveram presentes, representando o Regional, os desembargadores Eduardo Benedito de Oliveira Zanella, presidente do Comitê Regional de Erradicação do Trabalho Escravo, Tráfico de Pessoas e Discriminação da 15ª, e Helena Rosa Mônaco da Silva Lins Coelho, membro do Comitê e vice-presidente administrativo eleita do Tribunal.

O presidente Lorival compôs a mesa alta, ao lado do reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, do convidado de honra, o ex-senador norte-americano e ativista internacional dos direitos civis, reverendo Jesse Jackson, da secretária de Educação Continuada, Alfabetização e Inclusão Social, Ivana Siqueira, representando o ministro da Educação, José Mendonça Bezerra Filho, do vice-presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Alvir Hoffmann, do diretor de Desenvolvimento Social da Fundação Banco do Brasil, Rogério Bressan Biruel, do cônsul-geral dos EUA em São Paulo, Ricardo Zuniga, e da primeira secretária do Consulado-Geral Britânico em São Paulo, NneNne Iwuji-Eme.

O evento reuniu diversos representantes do empresariado, ativistas do Movimento Negro, professores, estudantes e autoridades estrangeiras, como o ministro da Cultura do Benin, Ange Nkouê, o deputado federal Simplice Codjd e o diretor de Iluminação Solar, Semasou Clarence, ambos também do Benin.

Antes das palestras, os participantes assistiram a um vídeo institucional da Afrobras, em que se expõe, sem meias-palavras, o preconceito racial na sociedade brasileira.

O reitor José Vicente abriu o evento, afirmando que espera, com esse tipo encontro, "incomodar a todos, para que saiam da sua ‘zona de conforto' e iniciem a construção de um legado para que nossos filhos brancos e negros estejam nas mesmas escolas no futuro". O reitor salientou ainda que "a diversidade é um valor social, que ajuda a fortalecer o país".

Já Ivana Siqueira afirmou que "é um prazer e uma honra firmar o compromisso para, em parceria com a Zumbi dos Palmares, desenvolver pesquisas e estudos para o acompanhamento de alunos negros, cotistas, e também os egressos das faculdades, no sentido de conhecer as condições de sua inserção no mercado de trabalho".

O presidente Lorival não escondeu sua satisfação pessoal por integrar um evento que, segundo ele, "é a busca de uma porta aberta para o emprego dos afrodescendentes". O desembargador afirmou também que o Tribunal da 15ª "vem atuando nesse sentido", inclusive com a adoção de cota para negros em seus concursos para os quadros de servidores e magistrados. Lorival foi muito aplaudido quando lembrou que, na posse de 14 aprovados no mais recente concurso para ingresso na Magistratura da 15ª, em setembro deste ano, três eram afrodescentes. O presidente falou ainda da Carta assinada no TRT-15, com empresários da região, em evento realizado este ano pelo Tribunal, para estimular a inclusão social de jovens negros no primeiro emprego.

O presidente da Febraban, Alvir Hoffmann, foi sucinto mas preciso em sua exposição, afirmando que os afrodescendentes são "parte relevante da nossa cultura e da alegria de ser brasileiro".

O cônsul dos Estados Unidos, Ricardo Zuniga, que já atuou como assistente especial do presidente Barack Obama e diretor sênior do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca para as Américas, disse que a principal característica do trabalho e esforço do presidente americano no combate aos problemas sociais que afligem tanto lá como aqui no Brasil se baseia em três pontos: "o primeiro é que os números não mentem, e por isso temos que enfrentar os problemas como eles existem, e não como gostaríamos que eles fossem; o segundo é não só admitir o problema, mas atacá-lo; e o terceiro é que, no que se refere aos problemas sociais, educação e trabalho caminham juntos".

A primeira secretária do Consulado-Geral Britânico em São Paulo, NneNne Iwuji-Eme, afirmou que, no Reino Unido, os problemas sociais desafiam tanto quanto os do Brasil, mas lembrou que, na década de 1980, "houve muitas passeatas e manifestações de rua", e a sociedade britânica teve que "enxergar" os negros e os seus problemas. Segundo a secretária, "tocar nos problemas não é fácil nem agradável, mas, quando lidamos com questões relevantes, é preciso, e lá nós concluímos que investir na solução dos problemas fazia mais sentido econômico que moral".

Dentre os representantes do mundo corporativo que assinaram a carta de compromisso com a promoção da igualdade e inclusão social, o presidente da Coca-Cola no Brasil, Henrique Braun, reafirmou a antiga parceria da empresa com a Afrobras, para a promoção da diversidade, e lembrou que a Coca-Cola, já em 1955, foi a primeira empresa nos EUA a trazer a questão da diversidade para dentro da companhia. No Brasil, Braun destacou que já há alguns anos a empresa vem investindo nessa área e que, dos 150 mil jovens treinados para capacitação para o primeiro emprego, 65% são afrodescendentes. O presidente da Coca-Cola reafirmou também o compromisso de continuar com esse trabalho e concluiu que "a diversidade é uma vantagem competitiva".

O vice-presidente da Microsoft no Brasil, Rodney Willians, ele mesmo um afrodescendente, único negro a ocupar um cargo de alto escalão no Brasil, iniciou sua explanação afirmando que "tudo que se viu no vídeo institucional é verdade". Rodney disse que, por mais de uma vez, foi confundido com guardador de carros ou segurança, à frente de restaurantes ou hotéis. Para o executivo, que disse estar "com o coração envolvido no Brasil", o projeto que inclui sociedade civil, governo e empresários "é muito importante, e a Microsoft, signatária da carta, já é uma parceira com quem se pode contar".

Simone Bianchi, diretora do departamento de relações públicas da Dupont, terceira empresa a aderir ao projeto da Afrobras, afirmou que o evento "marca uma época e é uma confirmação positiva para a diversidade".

André Rodrigues Cano, diretor executivo do Bradesco, ressaltou o papel social do banco, com alcance mundial, e que, por isso, "deve dar o exemplo". Parceiro de longa data da Zumbi dos Palmares, o Bradesco já recebeu mais de 300 estagiários afrodescendentes.

Simone Gallo Azevedo, gerente de Relações Governamentais e Institucionais do Banco Itaú, também se mostrou honrada em participar de um evento "tão emblemático, em que empresas, sociedade civil e órgãos governamentais se reúnem para elevar o nível do Brasil".

Rogério Bressan Biruel, diretor de Desenvolvimento Social da Fundação Banco do Brasil, destacou os projetos específicos do BB com quilombolas, comunidades ribeirinhas e pequenos agricultores, mas ressaltou que, "apesar de muito já ter sido feito, muito há para se fazer".

O reitor José Vicente agradeceu aos mais de vinte parceiros que já assinaram o compromisso e lançou um desafio. Ele quer que, no próximo ano, nas comemorações da Consciência Negra, esse número chegue a 100 empresas. Bastante animado, Vicente pediu às companhias parceiras que tragam, cada uma delas, outras duas empresas para se comprometerem também com a diversidade. O professor encerrou dizendo que "causa tristeza o testemunho do executivo Rodney Willians, que, apesar do empoderamento, não é reconhecido como tal". Vicente afirmou que "isso só comprova o motivo da luta pelo resgate da dignidade dos afrodescendentes".

Um ex-senador americano adere à causa

Jesse Jackson, convidado de honra do evento da Afrobras, iniciou sua palestra evocando Nelson Mandela, Martin Luther King e Mahatma Gandhi. "Que eles também pudessem estar entre nós hoje", disse o reverendo.

O ex-senador comparou o evento a uma semente lançada ao solo, mas ressaltou que "o seu crescimento não pode vir sem esforço". Jackson falou dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro neste ano e elogiou o exemplo de congraçamento que o Brasil legou ao mundo, especialmente durante os Jogos, e lembrou grandes estrelas negras do esporte brasileiro, como Pelé e Ronaldo, "que inspiram a todos, mas principalmente às crianças menos favorecidas das favelas".

O reverendo lembrou que os negros "estão num longo caminho, da escravidão rumo à igualdade", e destacou, como partes de uma sinfonia, as conquistas dos negros na sociedade dos brancos, e que essa história de resgate começa com a abolição da escravatura, o direito ao voto e até mesmo o acesso ao capital. O reverendo lembrou que "a inclusão é o caminho que conduz ao crescimento, e onde há inclusão, todos ganham".

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