Escola Judicial traz visão da psicologia para magistrados refletirem sobre momento da aposentadoria

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Sheila Murta: "Sim, estudos indicam que funções como a dos magistrados, que exigem alto comprometimento no trabalho e oferecem satisfações profissionais únicas, geram maiores desafios para a transição. O maior atrativo para se aposentar viria da liberdade para se reinventar, não obstante certa carga de ansiedade"

Por João Augusto Germer Britto

A professora Sheila Giardini Murta foi recebida na manhã desta sexta-feira (08/04) no auditório da sede judicial do TRT 15ª, para a palestra denominada "Aposentadoria como transição desenvolvimental: preditores de ajustamento".

A convidada compôs a mesa de abertura ao lado dos desembargadores Henrique Damiano (vice-presidente administrativo), Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani (diretor da Escola Judicial) e Samuel Hugo Lima (coordenador pedagógico do curso Preparação para Aposentadoria).

O desembargador Giordani agradeceu a presença da palestrante e de seus colegas e opinou ser interessante pensar na aposentadoria como um projeto de vida, que viria após as preocupações com o orçamento e prazer profissional de cada um. Ele apresentou a professora Sheila, citando sua vasta graduação acadêmica (que inclui doutorado pela Universidade de Brasília e pós-doutorado em psicologia na Austrália) e sua qualificada docência.

O desembargador Damiano lembrou que a eventual opção pela aposentadoria deve "ser uma passagem feita de modo absolutamente tranquilo" e brincou que "quando o prazer te dá trabalho" é hora de pensar melhor no assunto.

Por seu lado, o desembargador Samuel ponderou sobre a necessidade de se ver a aposentadoria como um período de júbilo e reconquista, onde "não se pode negar a etapa de transição".

 

A psicóloga Sheila disse que sua exposição buscava mostrar "as condições que podem favorecer o caminho para a aposentadoria, lembrando que todos já vivenciaram outras transições profissionais e da vida em geral". Ao mesmo tempo em que citou que "novas etapas alargam fronteiras", reconheceu que "transições desenvolvimentais são mudanças e mudanças dão trabalho".

Estudos da língua inglesa realizados nos anos de 2011 e 2012 concluíram que as "condições de ajustamento" ligadas a bem lidar com a aposentadoria incluem "a saúde física e psicológica, perceber-se capaz de mudar a própria vida, saber escolher o momento, manter uma ordem financeira e ter lazer e vínculos sociais. Por outro lado, a palestrante trouxe uma pesquisa nacional onde até a mobilidade (no sentido de morar num bom local e conseguir, por exemplo, dirigir um automóvel) é tida como um bom fator.

Sheila explanou que, muitas vezes, "o trabalho é constituinte da própria identidade do ser" e tal fato deve ser muito bem esclarecido, especialmente para carreiras como a magistratura, "uma vez que é normal que, em todas as sociedades, haja uma hierarquia que determina mais ou menos poder" ; ela explicou que "identidade é a definição que cada um faz de si, a partir de sua relação com os outros, o 'diferente'; esse auto-conhecimento mescla elementos biológicos, psicológicos e culturais, é mutável e forma um conjunto de fatores complexos".

Para a psicóloga, "o ponto central das discussões é o 'capital de identidade', estágio que agrega recursos dos âmbitos pessoais, sociais, educacionais e comunitários; os juízes, exercentes de um trabalho comprometido e gratificante, devem ver a aposentadoria nesse amplo contexto". A explanção apontou a importância de um projeto de vida antes e depois da aposentadoria que inclua lazer e outros trabalhos intelectuais, o qual traga realização, liberdade e dedicação a si mesmo.

"A mudança que leva à aposentadoria é um caminho que começa com inquietações, não deve ser abrupto e deve gerar planos diferentes e diversos", afirmou a expositora. Ela ressaltou "a necessidade de não pensar a aposentadoria como inatividade", garantiu a possibilidade de "ganhos cognitivos e decisões mais sensíveis a certos contextos, o que levaria à 'meta final' de um sentido de vida, algo extremamente individual".

 

Em linguagem técnica, três "fatores de risco" que dificultam a decisão para aposentadoria dizem respeito à ociosidade, dependência física e financeira e solidão.

Alguns magistrados expuseram suas preocupações, expectativas e experiências com o assunto, referindo-se especialmente a orçamento familiar, valorização de seu "eu", reconhecimento social e administração do tempo.

Sheila Murta prolongaria sua interlocução durante a tarde, quando os aspectos acima e outros também importantes seriam aprofundados com os magistrados. O evento terminaria com a desembargadora aposentada Mariane Khayat, relatando sua "Experiência de sucesso".

Assistiram à palestra os desembargadores Eduardo Benedito de Oliveira Zanella, José Pitas, Fernando da Silva Borges, Susana Graciela Santiso, Maria Madalena de Oliveira, Luiz José Dezena da Silva, Ana Paula Pellegrina Lockmann, Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa e Wilton Borba Canicoba, além de diversos juízes de 1º grau e da desembargadora aposentada Maria Cristina Mattioli.

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