Tetracampeão Mauro Silva realiza conferência de abertura do V Simpósio Nacional de Direito do Trabalho Desportivo

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O tetracampeão mundial e vice-presidente da Federação Paulista de Futebol, Mauro Silva, abriu, na quinta-feira (21/9), os debates do V Simpósio Nacional de Direito do Trabalho Desportivo, realizado com o apoio do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Com uma palestra sobre a carreira e o pós-carreira do profissional de futebol, o ex-jogador encantou a plateia formada por dezenas de desembargadores, juízes, advogados, atletas, estudantes e professores. Realizado em Campinas, pelo quarto ano consecutivo no auditório do Centro Universitário Salesiano (Unisal), o seminário é o maior do país sobre o tema, contando com participantes e palestrantes do Brasil e da Europa.

"Um dos grandes erros do jogador de futebol é acreditar que o conhecimento empírico que ele obtém em campo é o suficiente. Eu defendo a formação integral do atleta, na qual, além do trabalho feito em campo, ele busque conhecimento acadêmico, procure aprender novos idiomas, cuide da gestão da carreira", afirmou o ex-volante.

Eventos como o simpósio de Campinas são, de acordo com o ex-jogador, oportunidade para o desenvolvimento cognitivo do atleta. "Quando joguei na Espanha, eu treinava pela manhã e tinha o restante do dia livre. Aproveitei esse tempo para investir em networking, desenvolver projetos paralelos ao futebol", comentou.

Mauro Silva começou sua carreira no Guarani Futebol Clube. Para que participasse dos treinos na escolinha do time, a mãe impôs como condição a manutenção dos estudos. De Campinas, o volante migrou para o Clube Atlético Bragantino, time pelo qual se tornou campeão paulista em 1990. Em 1992, foi contratado pelo Deportivo La Coruña, clube espanhol que defendeu por 13 anos. "Sempre joguei em clubes pequenos. Talvez por isso eu seja um grande defensor da força que o futebol tem no interior, do papel transformador que esse esporte pode ter também fora dos grandes centros", disse.

Na Vice-Presidência da FPF, Mauro Silva tornou-se um dos incentivadores da certificação para os chamados clubes formadores. São times conhecidos por assumir a responsabilidade social na formação dos jovens. Além da bola, da disciplina e dos esquemas táticos, esses clubes investem na formação física e intelectual do atleta. Com isso, o formador tem direito a 5% do valor de cada transferência internacional do atleta. "O Santos recebeu cerca de R$ 30 milhões com a transferência do Neymar do Barcelona para o Paris Saint German", destacou Mauro Silva.

Esporte é negócio

Outro tema destacado pelo palestrante foi o fato de o futebol ser um grande negócio, exigindo dos atletas famosos preparo e grandes equipes para gerenciar a carreira. "A maior parte do dinheiro ganho por um jogador de renome não vem do desempenho dele em campo. É do gerenciamento de sua imagem que esses atletas retiram a maior parte da renda", ressaltou.

Entretanto, as cifras milionárias na conta bancária são realidade para um grupo muito pequena de atletas. De cada mil jogadores de futebol, um se transforma em profissional. Vencido o amadorismo, surgem os novos desafios: 83% dos jogadores profissionais ganham, no Brasil, até R$ 1.000 por mês.

"Esses são alguns dos motivos que me fazem defender a necessidade de formação integral dos jovens jogadores. Gosto de comparar a função social dos clubes de futebol à que os seminários da Igreja Católica possuem. Nem todos que por lá passam se tornam padres. Mas os pais que colocam o filho no seminário sabem que, independente do caminho que ele seguir, terá recebido uma boa educação e preparo para a vida", afirmou.

Mesa de abertura

A palestra de Mauro Silva foi precedida, na abertura oficial do evento, por uma mesa formada por autoridades especializadas e interessadas no direito do trabalho desportivo: o desembargador Eduardo Benedito de Oliveira Zanella, que representou o presidente do TRT-15, desembargador Fernando da Silva Borges; os três coordenadores-gerais do simpósio, os desembargadores Ana Paula Pellegrina Lockmann, vice-diretora da Escola Judicial do TRT-15, e Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani e o advogado Leonardo Andreotti Paulo de Oliveira, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo; o advogado, desembargador aposentado e ex-presidente do TRT-15 Renato Buratto; o juiz do trabalho Marcelo Bueno Pallone, presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª Região (Amatra XV); o presidente da Subseção Campinas da OAB, Daniel Blikstein; o presidente da Comissão de Direito Desportivo da OAB-SP, Patrick Pavan; e o professor Marcelo Augusto Scudelér, diretor do Unisal.

Além das autoridades da mesa, outras tantas também prestigiaram o evento na plateia, como o decano do TRT-15, desembargador José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza, os desembargadores Maria Madalena de Oliveira, João Alberto de Oliveira, Carlos Alberto Bosco e o juiz auxiliar da Vice-Presidência Judicial da Corte, Renato Henry Sant'Anna, entre outros.

Ocupante da cadeira número 40 da Academia Nacional de Direito Desportivo, a desembargadora Ana Paula Lockmann expressou, em seu discurso, a preocupação com a proposta de redução no orçamento do Ministério dos Esportes para o ano de 2018. "Há previsão de um corte de 68%. Com isso, voltaremos ao investimento realizado em 2005. Todos sabemos da necessidade de redução de gastos em tempos de crise, mas um corte tão severo terá duras consequências para nossos atletas de alto rendimento. Programas como o Bolsa Atleta serão muito prejudicados", ressaltou.

Já o desembargador Francisco Giordani enfatizou a necessidade de mais eventos temáticos para a consolidação do desporto como pauta relevante para os profissionais do direito do trabalho. "Todos sabemos que o desporto vem ganhando espaço no mundo jurídico. O difícil não é abrir novas frentes. O difícil é manter-se como tema relevante, daí a importância deste seminário", concluiu.

Em comum na fala dos outros quatro oradores da mesa de abertura, o destaque para Campinas, que se tornou polo irradiador de conhecimento sobre o direito do trabalho desportivo. Sobre esse aspecto, concordaram tanto o coordenador-geral do seminário Leonardo Andreotti, quanto o professor-anfitrião Marcelo Scudelér e os representantes da OAB Daniel Blikstein e Patrick Pavan.

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