Diego Lugano debate direitos, deveres e carreira do jogador profissional de futebol na abertura do VI Simpósio Nacional de Direito do Trabalho Desportivo

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Ídolo do futebol uruguaio e da torcida do São Paulo Futebol Clube, o ex-jogador e atual superintendente de relações institucionais do clube realizou na quinta-feira (16/8) a abertura do VI Simpósio Nacional de Direito do Trabalho Desportivo, organizado com o apoio do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Se durante os 18 anos de carreira (dez como capitão da seleção do seu país) a atuação firme na zaga era a marca do atleta, durante o simpósio ele partiu para o ataque ao falar sobre direitos, deveres e carreira do jogador profissional de futebol. "Ninguém estimula o jogador a ter muitos conhecimentos dos seus direitos. Pelo contrário, muitos clubes, federações e, principalmente, empresários acham conveniente que eles não se informem sobre esses assuntos", afirmou, para um auditório com mais de 400 participantes, entre os quais desembargadores, juízes, advogados e estudantes de Direito e de Educação Física do Centro Universitário Salesiano (Unisal) - Campus Campinas.

Natural de Canelones, município de 25 mil habitantes a 30 quilômetros de Montevidéu, Lugano foi descoberto para o futebol profissional por um olheiro do Club Nacional de Football quando tinha 19 anos e estudava economia. Em um bate-bola com o público, que foi mediado pelos coordenadores-gerais do simpósio - os desembargadores do TRT-15 Ana Paula Pellegrina Lockmann (vice-diretora da Escola Judicial) e Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani, e o presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD), Leonardo Andreotti Paulo de Oliveira-, Lugano destacou a importância do estudo e dos exemplos na trajetória do jogador profissional. "Os atletas devem ter a clareza de que a carreira esportiva é efêmera e fugaz. Por isso, o exemplo é muito mais importante que chutar bola. O que fica é o que você fez fora do campo", destacou.

Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 12 mil jogadores profissionais. Desses, de acordo com Lugano, apenas 600 têm emprego durante o ano todo. A imensa maioria é trabalhador temporário.

Outro aspecto dito por Lugano é que, desde cedo, crianças e adolescentes começam a dedicar-se exclusivamente ao futebol, devido à exigência física e mental do esporte. "O problema é que menos de 1% conseguirá ser profissional. O restante chegará à vida adulta frustrado e sem formação. É um problema social, sobretudo na América Latina". Como contraponto, o superintendente do São Paulo citou uma experiência que teve em 2013, quando disputou a principal liga do futebol inglês. "Conheci um jovem centroavante, muito talentoso, que estreou na Premier League no domingo, entrando durante o jogo e marcando o gol da vitória. Na segunda-feira ele não apareceu no treino. Achei estranho e, ao perguntar para os colegas, descobri que tinha ido à aula".

O presidente do TRT-15, desembargador Fernando da Silva Borges, foi um dos participantes dos debates. O magistrado contou que se tornou são-paulino devido à influência de um vizinho famoso do tio: Roberto Dias, outro zagueiro ídolo da torcida do tricolor paulista. "Muitas vezes atletas bem preparados parecem inertes, travados durante uma partida. Gostaria de saber qual a importância da preparação psicológica para o jogador de futebol?", questionou.

Para Lugano, esse ainda é um tabu na América do Sul, em razão do preconceito que há no esporte. "Fui buscar ajuda, por conta própria, após viver um medo intenso durante uma partida, que me deixou quase sem reação", afirmou. Na repescagem das eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010, Uruguai e Costa Rica disputavam no estádio Centenário, em Montevidéu, a última vaga para o torneio. A equipe uruguaia, que havia ficado fora da copa de 2006, vencia por 1X0 quando os costarriquenhos empataram aos 30 minutos do segundo tempo. Se a Costa Rica marcasse mais um gol, o Uruguai estaria fora da Copa. "Jogadores sentem muito medo. Um erro ou uma partida ruim podem acabar com uma carreira. Mas a cultura machista faz com que digam que isso não acontece com eles".

Mesa de abertura

Além do presidente do TRT-15, desembargador Fernando Borges, e dos três coordenadores-gerais do simpósio - os desembargadores Ana Paula Lockmann e Francisco Giordani e o presidente do IBDD, Leonardo Andreotti Paulo de Oliveira - , também participaram da mesa abertura do evento, que antecedeu a palestra de Diego Lugano, o ministro do Tribunal Superior do Trabalho Guilherme Augusto Caputo Bastos, o presidente e o secretário-geral da subseção de Campinas da Ordem dos Advogados do Brasil, respectivamente, Daniel Blikstein e Paulo Braga, o presidente da Comissão Estadual de Direito Desportivo da Seccional Paulista da OAB, Patrick Pavan, e o anfitrião e diretor do Unisal - Campus Campinas, Marcelo Augusto Scudeler.

Também prestigiaram o simpósio os desembargadores do TRT-15 Helena Rosa Mônaco da Silva Lins Coelho (vice-presidente administrativo), Edmundo Fraga Lopes (vice-presidente judicial), José Otávio de Souza Ferreira (coordenador do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Disputas - Nupemec), Eduardo Benedito de Oliveira Zanella, Maria Madalena de Oliveira e Maria Inês Corrêa de Cerqueira César Targa, além dos juízes Renato Henry Sant'Anna (juiz auxiliar da Vice-Presidência Judicial) e Firmino Alves Lima (titular da 1ª Vara do Trabalho de Piracicaba).

Um dos aspectos ressaltados pela desembargadora Ana Paula Lockmann durante a abertura foi a grande adesão da comunidade jurídica ao evento, hoje referência no calendário anual do Direito do Trabalho no Brasil. "Esporte é debate, mas também coração. Tenho uma grande alegria em estar aqui e, a cada ano, ver um público cada vez maior interessado pelo Direito do Trabalho Desportivo", ressaltou.

Já o desembargador Francisco Giordani tratou do uso do esporte como forma de exercício da cidadania. "O homem exerce sua cidadania sobre vários aspectos, seja como eleitor, consumidor ou trabalhador. No mundo do esporte não é diferente. Além disso, ele que propicia novas amizades e fortalece as já existentes", destacou.

Lançamento

O encerramento da primeira noite de simpósio foi realizado com lançamento do livro Direito Desportivo, de autoria do ministro Caputo Bastos. "É por meio de eventos como esse que fortalecemos a disciplina à qual decidimos nos dedicar", destacou, ao lembrar o empenho que a Academia Nacional de Direito Desportivo, atualmente por ele presidida, para que o Direito Desportivo se transforme em uma disciplina obrigatória dos cursos de Direito.

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