Secretaria de Saúde do TRT-15 promove I Jornada de Saúde Mental

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Por Ademar Lopes Junior

A Secretaria de Saúde do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região promoveu, nesta quarta e quinta-feira (11 e 12/9), a sua I Jornada de Saúde Mental. O evento integra as ações do tribunal em favor do "Setembro Amarelo – Conhecer para Prevenir", uma campanha para a conscientização e combate ao suicídio. O encontro, voltado para magistrados e servidores, contou com a presença dos desembargadores Eduardo Benedito de Oliveira Zanella e Ricardo Regis Laraia.

O secretário de saúde do TRT-15, Péricles Nazima, na abertura do evento, reafirmou a importância de se cuidar da saúde mental, principal causa dos afastamentos de servidores. Segundo o secretário, "de cinco patologias que motivam afastamento do trabalho, quatro são relacionadas a transtornos mentais e comportamentais". A gravidade do assunto acendeu a "luz vermelha", disse o secretário, que reafirmou a intenção de repetir outras jornadas sobre o mesmo tema, na tentativa de enfrentar o problema, "uma realidade para muitos que sentem na pele e na alma a dor desse desassossego", concluiu.

Assédio no trabalho

 

A socióloga da Fundação Jorge Duprat e Figueiredo (Fundacentro), Juliana Andrade Oliveira, abriu o ciclo de palestras com o tema "Os assédios no trabalho: compreender para prevenir e combater", com ampla abordagem de suas características, suas causas e, ainda, as atitudes de combate, tanto em nível individual quanto organizacional. Após a apresentação de um histórico sobre o tema, a palestrante ressaltou os danos do assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, tanto para a vítima quanto para a empresa, e lembrou que a prática do assédio é, antes de tudo, um "ataque à nossa identidade, que é nossa armadura psíquica", com intenção de afastar, de forma discriminatória, o que é diferente, o que não integra o grupo ou até o que ameaça o próprio grupo, por meio de práticas muitas vezes disfarçadas de eficazes atitudes de gestão. Dentre as formas de combate ao assédio no trabalho, a palestrante sugeriu, entre outros, a elaboração de códigos de conduta, abertura de canais de comunicação e, principalmente, respostas institucionais imediatas.

Compreendendo as emoções

 

A segunda palestra da tarde de quarta-feira (11/9) foi realizada pela psicóloga do TRT-15 Francielle Barbosa Prado, que apresentou aos participantes da Jornada teorias e práticas para a compreender as emoções e a buscar o autoconhecimento. "Saúde mental é um tema sério e complexo. Não se trata de uma responsabilidade individual. Há uma série de aspectos que influenciam em como nos sentimos", afirmou. Ela destacou, por exemplo, a carga genética de cada pessoa como um dos componentes que interferem na maneira como são reguladas as emoções. "Entretanto, ela não é o fator determinante. Muitas situações cotidianas podem gerar grande sofrimento emocional", explicou Francielle.

A psicóloga esclareceu também as diferenças entre emoções e sentimentos, conceitos muitas vezes tratados como sinônimos. A emoção é um mecanismo que prepara o ser humano para agir sem a necessidade de refletir, é acompanhada de reações orgânicas imediatas, caracteriza-se pela instantaneidade e brevidade. Já os sentimentos são resultados de experiências subjetivas, ocorrem simultaneamente a reações orgânicas ao longo do tempo e são duradouros. "É preciso desenvolver estratégias saudáveis para compreender e aceitar as experiências emocionais, apreender a manejá-las de modo que não nos imobilize", disse.

Transtornos mentais

 

"Transtornos mentais no serviço público federal" foi o tema da palestra ministrada por Estevam Vaz Lima, médico psiquiatra da Secretaria de Saúde do TRT-2 (SP), que abriu o segundo dia da Jornada promovida pelo TRT-15. Prestigiou o evento o desembargador Eduardo Benedito de Oliveira Zanella.

A escolha do tema, com foco no serviço público federal, segundo o palestrante, se deve ao número crescente de casos registrados nesse setor, nos últimos anos, e que tem despertado a atenção dos profissionais da área da Saúde. A primeira pergunta que se faz, até mesmo para se diferenciar o tipo de diagnóstico para o tratamento do transtorno, é se ele está relacionado com o trabalho ou, em caso negativo, se apresenta ou não fatores estressores. Nesse sentido, Estevam Lima destacou alguns pontos considerados como causa dos adoecimentos causados por transtornos, que aparecem sob a forma de depressão, ansiedade, fobias, transtornos psicossomáticos e até mesmo suicídio. Dentre essas causas, o assédio moral está entre as principais, e se manifesta principalmente devido à ausência de seleção de chefias capazes de lidar com os seres humanos, mas também pela crença de que o problema mental, dentre as doenças que acometem os servidores, é algo menor.

O palestrante também contou diversos casos reais de transtorno mental ocorridos no TRT-2 e destacou, somo sugestão para tratamento, além da assistência médico-psiquiátrica e psicoterapêutica, e do suporte em situações de risco psicossocial, o desenvolvimento e ampliação do trabalho de caráter preventivo. Nesse sentido, Estevam Lima ressaltou que o envolvimento de magistrados e de outras áreas da Administração é fundamental.

Prevenir para cuidar

 

Coube à psiquiatra e mestre em Saúde Mental pela Faculdade de Medicina da Unicamp Cármen Sylvia Ribeiro encerrar a Jornada com palestra sobre o tema "Desejo de morte e stress no trabalho". "A taxa de mortalidade por suicídio em Campinas era de 4,4 óbitos por grupo de 100 mil pessoas, de 1996 a 1998, na faixa etária de 40 a 50 anos. De 2015 a 2017, ela quase dobrou e chegou a 7,8 óbitos", destacou. Outro dado revelado pela psiquiatra é a predominância de tentativas de suicídios entre as mulheres, embora o número de mortes seja maior entre os homens. Na faixa etária de 15 a 19 anos, a taxa de tentativa é de 94 para cada 100 mil pessoas entre as mulheres e de 26 entre os homens.

Outro tema tratado pela psiquiatra foram as características da Síndrome de Burnout, um tipo de distúrbio caracterizado pelo esgotamento físico e mental intenso. "A pessoa com Burnout transforma o desejo de realização em uma obstinação, em compulsão. A única medida para a sua autoestima passa a ser o desempenho no trabalho. Transforma-se, muitas vezes, em um profissional autoritário", explicou Cármen Ribeiro. Para a psiquiatra, a recuperação da pessoa com a síndrome passa, necessariamente, por uma intervenção terapêutica correta, ajustada para cada paciente.

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Comunicação Social