Ejud promove debate sobre inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho
A Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT-15) promoveu nesta segunda-feira (3/10), das 9h15 às 12h30, o encontro “Despertando Sentidos: da cota à ONU”, em homenagem ao Dia da Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado em 21 de setembro. O objetivo do evento foi promover o debate sobre a necessidade de sensibilização e demonstração de que a pessoa com deficiência pode ocupar espaços cada vez mais atuantes no ambiente de trabalho. Cerca de 120 pessoas participaram, entre magistrados, servidores e convidados.
O encontro, totalmente presencial, o primeiro da Escola Judicial realizado no Plenário Ministro Coqueijo Costa no pós-pandemia, contou em sua mesa de abertura com a participação do diretor da Escola Judicial, desembargador João Batista Martins César, presidente do Comitê de Erradicação do Trabalho Infantil e Estímulo à Aprendizagem do TRT-15, do ministro do Tribunal Superior do Trabalho Cláudio Mascarenhas Brandão, do desembargador Francisco Alberto da Motta Peixoto Giordani, vice-presidente judicial da 15ª, do desembargador do TRT-9 (PR) Ricardo Tadeu Marques da Fonseca, do juiz Sérgio Polastro Ribeiro, presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª Região (Amatra XV), da procuradora Luana Lima Duarte Vieira Leal, representando o procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, Dimas Moreira da Silva, além do CEO da Padaria Real, José Eduardo de Souza, e do fundador da empresa Consolidar, Marcelo Sobrinho Pires. Prestigiaram o evento os desembargadores José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza, decano da Corte, Samuel Hugo Lima, Manoel Carlos Toledo Filho, Roberto Nóbrega de Almeida Filho, Luciane Storer e Fábio Bueno de Aguiar.
O ministro Cláudio Brandão ressaltou a necessidade de derrubada das barreiras atitudinais, segundo ele as mais difíceis de superar nesse tema da inclusão, que se revela sempre um desafio para os tribunais. Para o ministro, o debate sobre a inclusão de pessoas com deficiência “é plural e interessa a todos, pois cada um de nós tem um impedimento que nos põe à margem de viver plenamente a cidadania”.
O desembargador Ricardo Tadeu ressaltou a inovação da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência de 2006, promulgada pelo Brasil em 2009, que trouxe como principal contribuição a mudança do conceito médico de incapaz, e lembrou que “uma sociedade que é inclusiva só para alguns não é para ninguém”.
O diretor da Ejud, desembargador João Batista César, destacou a importância do encontro e da temática para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, o debate sobre as boas práticas adotadas, como a da Padaria Real - reconhecida pela Organização das Nações Unidas em 2018 -, em um dos maiores e mais progressistas tribunais do País.
O desembargador Francisco Giordani destacou sua satisfação em participar do debate tão necessário e atual, e lembrou uma frase do cirurgião Ivo Pitanguy de que “amar a medicina é amar o ser humano”, que ele adaptou para “amar o direito é amar o ser humano, e quem ama o direito do trabalho, mais ainda”.
O juiz Sérgio Polastro defendeu o avanço inovador da legislação brasileira em relação às cotas para pessoas com deficiência, “motivo de orgulho para todos nós”, e salientou que o Poder Público não pode se furtar em reconhecer as boas práticas da iniciativa privada, mas que deve incentivar as empresas a “pensar além das cotas”.
A procuradora Luana Lima Duarte afirmou que o “trabalho é instrumento de dignificação” e que “celebrar nossas diferenças é o que nos enriquece como sociedade”.
O representante da Consolidar, Marcelo Pires, apresentou um rápido histórico pessoal de como se convenceu a abraçar a causa da inclusão de pessoas com deficiência, fundando um posto de gasolina para contratá-los. Marcelo também falou sobre o perigo do capacitismo (que define a discriminação e o preconceito contra pessoas com qualquer tipo de deficiência), das vantagens da contratação de trabalhadores com deficiência na ressignificação da igualdade, da equidade, do comportamento inclusivo e da mudança da velha para uma nova economia, de valorização do sujeito, mais colaborativa, humana e com propósito de compartilhamento.
Já o representante da Padaria Real, José Eduardo (Doia), ressaltou o orgulho em transformar a empresa fundada por seu avô em um exemplo de inclusão. Doia contou a trajetória da padaria nesse setor, a orientação fundamental da Consolidar nesse processo e, principalmente, a “conscientização” dos gestores da Real como pedra de toque para a conquista de um ambiente mais humano, o fortalecimento de valores como empatia, compaixão e solidariedade, a transformação do humor das pessoas e a criação de uma cultura inclusiva atraente e contagiante.
Café sensorial
A experiência de um café sensorial de interação com o público contou com a participação de desembargadores e servidores, que aceitaram participar com limitações dos sentidos (vendas, luvas, cadeira de rodas e fones de ouvido), reproduzindo um pouco da realidade das pessoas com deficiência e contando em seguida essas experiências. O principal objetivo da dinâmica foi reforçar a necessidade de empatia, mas também de preparar o ambiente de trabalho para a inclusão.
Na sequência, os funcionários da padaria Real Ed Wilson (51 anos, cego desde os 22), Felipe (25 anos, com malformação do membro superior direito) e Fauze (surdo) registraram depoimentos de dificuldades para inclusão no mercado de trabalho e contaram sobre suas experiências de vida. Doia, que narrou a história do Fauze, contou também o caso do adolescente Murilo, de 16 anos, contratado como aprendiz da Padaria, recrutado na rua, quando vendia balas de goma.
Ao final, os funcionários da Real encerraram com a música “Voz da inclusão”, uma releitura da canção “Um dia de domingo”, de Tim Maia, interpretada por Álvaro Wachter e Alexandre Matos.
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