Palestra sobre a prática da alteridade encerra Encontro Anual de Magistrados
Como praticar a alteridade e a empatia no dia a dia? A especialista em resolução de conflitos e estudos para a paz e fundadora da Peaceflow, empresa de transformação e gestão de conflito, Diana Bonar, propôs reflexões que dialogaram com a abordagem da Comunicação Não Violenta (CNV) a cerca de 200 juízes. A palestra “A Prática da Alteridade” encerrou o tradicional Encontro Anual de Magistrados do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, na tarde de sexta-feira (10/9). Promovido pela Escola Judicial (Ejud15), o evento debateu durante dois dias a alteridade, a postura dialógica e a responsabilidade social no exercício da jurisdição, com a realização de conferências, oficinas e dinâmicas online.
Em mesa presidida pelo diretor da Ejud15, desembargador João Batista Martins César e composta pelas coordenadoras temáticas do encontro, a desembargadora Eleonora Bordini Coca e a juíza titular da 2ª Vara do Trabalho de Franca, Eliana dos Santos Alves Nogueira, Diana Bonar discorreu sobre os conceitos de alteridade e empatia de forma interativa, ouvindo as experiências relatadas pelos participantes.
Ao definir a alteridade como o reconhecimento de que existem pessoas e culturas singulares e subjetivas, que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras, Diana Bonar afirmou que na hora do conflito, se esquece de tudo isso. “Esbarramos nas pontas de um iceberg, que são justamente esses universos tão complexos que se chocam”, ressaltou. A palestrante citou como exemplo a própria sociedade brasileira, que é extremamente diversa, marcada pela desigualdade social, acessos diferentes à educação e toda a questão de violência estrutural que não pode ser negada, quando se analisa do ponto de vista da alteridade e empatia.
Para a palestrante, na gestão de conflitos é necessário dar um passo atrás no próprio julgamento. “Reconhecer e apreender o conceito de alteridade é o primeiro passo para a formação de uma sociedade mais justa, equilibrada, democrática e tolerante, onde todos possam se expressar na medida em que também respeitem a alteridade, a liberdade de expressão e a dignidade do outro”, assinalou.
Fazendo referência ao psicólogo americano Marshall Rosenberg, sistematizador da comunicação não violenta, Diana explicou que “a abordagem está baseada na alteridade e na empatia que nos convida a questionar a forma com que fomos ensinados a pensar, que por sua vez, reflete na linguagem que escolhemos usar e em nossas ações no mundo”. A partir de dois pilares fundamentais, a empatia e a autenticidade, é que se aprende a colocar em prática os conceitos propostos pela compaixão, empatia e alteridade, auxiliando na gestão positiva de conflitos.
Segundo a palestrante, a comunicação não violenta propõe a observação dos julgamentos mentais como estratégia para entrar em contato com algo mais profundo, que é a humanidade compartilhada. “A CNV nos ajuda a encarar nossas crenças e padrões que geram violência e tem como princípios a observação sem julgamentos, os sentimentos, as necessidades e a elaboração de pedidos”, complementou.
Diana elencou as necessidades e as estratégias para se alcançar a plena realização. “Quando sabemos ou temos curiosidade de explorar os fatores que influenciam as pessoas, estamos praticando a alteridade e ampliando a nossa consciência social”, explicou. De acordo com a palestrante, a forma como cada indivíduo elabora suas estratégias envolve quatro fatores: contexto (família, educação e cultura), recursos internos (resiliência, gestão das emoções e capacidade cognitiva), recursos materiais e rede de apoio (networking). Diana tratou também dos conflitos assimétricos, que são desequilíbrios de poder entre as partes envolvidas. “Uma gestão de conflitos baseada na alteridade e empatia se preocupa com a equidade e não apenas com a igualdade”, sentenciou.
Encerramento
Coube ao desembargador João Batista Martins César promover o encerramento do Encontro Anual de Magistrados. Ele agradeceu à Diana pela brilhante palestra e a todos os palestrantes, às coordenadoras técnicas, às equipes da Ejud e da Comunicação Social, que contribuíram para a realização do encontro, que considerou extremamente enriquecedor.
A juíza Eliana Nogueira afirmou que a palestra sobre a cultura da paz foi feita sob medida para encerrar o Encontro Anual de Magistrados. “Trabalhamos nesses dois dias com os conflitos estruturais, que são temas muito pesados e exigem de nós uma postura um pouco mais leve, sendo esse o fio condutor de toda a programação”, destacou. Para a desembargadora Eleonora Coca o objetivo do encontro foi alcançado. “Planejamos exatamente isso. No exercício de nossa profissão é necessário buscar o equilíbrio interno para saber agir em situações delicadas. Afinamos os instrumentos, de dentro para fora e de fora para dentro”, asseverou.
Como resultado final do encontro, foi aventada a proposta de criação do Núcleo de Estudos e Apoio Estratégico para Tratamento de Demandas de Grande Impacto Social no âmbito do TRT da 15ª Região (NEADIS), com base na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), sobretudo no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16, que trata da paz, justiça e instituições eficazes. A proposta ainda será analisada coletivamente.
- 249 visualizações