Sociólogo Ricardo Antunes encerra primeiro dia do Congresso
“Estamos vivendo no mundo do trabalho o momento mais terrível no Brasil, depois da escravidão e do massacre dos povos indígenas”, alertou o sociólogo Ricardo Antunes, professor titular no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/Unicamp). Discorrendo sobre o conceito de “infoproletários”, o docente encerrou o primeiro dia do 22º Congresso de Direito do Trabalho e Processual do Trabalho, promovido nesta quinta (18/8) e sexta-feira (19/8) pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região.
Ao apresentar o currículo do professor Ricardo Antunes, a vice-corregedora regional do TRT-15, desembargadora Rita de Cássia Penkal Bernardino de Souza, apontou para a degradação laboral que atinge principalmente os trabalhadores ligados às novas tecnologias. “O trabalho está precarizado e a tecnologia, extremamente avançada. Temos que fazer um estudo na nossa sociedade sobre o que queremos para o país”, asseverou.
Ricardo Antunes, que é mestre em Ciência Política pela Unicamp e doutor em Sociologia em Universidade de São Paulo (USP), explicou que o trabalho digital no infoproletariado decorre de uma interconexão entre o trabalho humano e o aparato informacional digital, resultante de profundas mudanças que ocorreram no capitalismo desde 1968/1973. “Não foi um presente nem dos deuses e nem dos demônios. Houve uma crise estrutural do capitalismo, que se agravou em 2008, e quando imaginávamos sair dela, ocorreu a pandemia e a invasão russa na Ucrânia com o risco de uma terceira guerra mundial”.
De acordo com o professor, o modo fordista e taylorista de realização do capital, característico do século XX, passou por essa crise estrutural profunda, provocando um redesenho de amplitude global do capitalismo, que implicou uma reestruturação produtiva permanente. “A máquina da tecnologia passa a ser turbinada e não tem conexão com o trabalho, mas é comandada pelo capital”, assinalou, fazendo uma indagação: “tecnologia para que e para quem? Para produção destrutiva ou para o bem da humanidade?”. Para Antunes, a tecnologia não é criação do capitalismo, mas tem condicionantes que são frequentemente anti-humanas e antissociais.
Segundo o palestrante, o resultado da crise estrutural de 1973 se expressa por uma força sobrante de trabalho em escala global. “Temos 40% da classe trabalhadora brasileira na informalidade (40 milhões) e, no mundo, mais de 1,5 milhão. O desemprego nos países centrais e periféricos se transformou em um problema estrutural de grande amplitude”. Antunes afirmou que, no neoliberalismo, trabalho é custo, e portanto, sujeito a cortes.
De acordo com o sociólogo, os infoproletários são aqueles trabalhadores conectados com o mundo digital, dos funcionários de call center e telemarketing, aos da indústria de software e os que atuam nas grandes corporações digitais, chamados de ciberproletários, conforme termo alcunhado pela pesquisadora britânica Ursula Huws. “No capitalismo de plataforma, os algoritmos são concebidos por empresas globais para controlar os tempos, ritmos, movimentos e todas as atividades laborativas, que foram ingredientes que faltavam para, sob a aparência de uma falsa autonomia, impulsionar e induzir modalidades intensas de exploração de trabalho, com jornadas de 12 e 14 horas”.
Para Antunes, o mundo informacional digital se valeu dos vilipêndios da informalidade, da flexibilidade, da desregulamentação e das terceirizações. Diante desse cenário que se descortinou, onde é impossível prever os rumos para as próximas décadas, o sociólogo reforçou a necessidade da preservação dos direitos. “Não pode haver trabalho sem direitos”, concluiu.
Confira aqui outras fotos do 1º dia de Congresso.
Confira aqui outras fotos do 2º dia de Congresso.
Fotos e vídeos: Douglas Carvalho, Gioceli Carvalho, Hélcio Guerra e Paulo Arantes.
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